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Otto faz show em JF neste sábado

Otto
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Em ‘Canicule Sauvage’, ao mesmo tempo que se identifica a música eletrônica, percebe-se o samba, completamente misturados (Foto: Rui Mendes/ Divulgação)

Não é de hoje que Otto afirma haver um “deus digital”. O caminho que ele percorre só faz comprovar essa ideia. A pandemia estreitou uma relação que o músico, ex-percussionista da primeira formação da Nação Zumbi e do Mundo Livre S/A, já vinha nutrindo a tempos. Pelo Instagram, por exemplo, ele compartilha os textos recém-concebidos e as artes recém-feitas. Foi a partir disso que acabou surgindo seu primeiro livro, o “Meu livro vermelho”, lançado em 2021. “Eu quero me expressar em tudo o que eu puder. Mostrar. Refletir. Espalhar.” Também, de certa forma, fruto da tecnologia e do período pandêmico, nasceu seu mais novo disco, o “Canicule sauvage”, lançado recentemente. E se existe o Otto escritor; o Otto artista plástico; o Otto músico, existe, como expansão, o Otto em cima do palco, aquele que explode e extravasa a vida que, para ela, é a própria arte. Isso poderá ser visto neste sábado (10), na Praça da Estação, a partir das 21h30, dentro do Festival Internacional de Cinema e Cultura da Diversidade (Festicidi).

“Canicule sauvage” começou a ser gerado antes da pandemia. Mas foi durante ela que Otto teve tempo de lapidá-lo. As letras, ele conta, surgiram em diversos lugares: na rua, no banheiro, na cama, do nada. Com o celular, ele escrevia o pensamento e ali mesmo começava a pensar na música. Em seu oitavo disco, conheceu ainda um outro lado: a produção. Todo o conceito foi desenvolvido em seu próprio celular, no aplicativo GarageBand. “Eu coloquei tudo para fora. Com o produtor, que sempre me acompanhou, o Apollo 9, a gente abriu tudo no programa e foi finalizando. Ele foi, praticamente, todo feito por mim. Pela primeira vez eu toquei vários instrumentos. Por isso ele é mais intimista. É diferente. E esse processo acaba deixando o disco diferente: você, ali, sozinho, tem essa solidão de quem faz. Mas, hoje, todo mundo mexe nesse programa. Minha filha sabe mexer. Já, eu, entrei pela porta lateral”, diz.

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Foi, por esse contato, uma forma de Otto se reconectar com o que faz e produz. Conhecer-se a si próprio. “Esse processo me libertou de coisas que eu tinha, como a relação com o instrumento. Foi uma liberdade, mas porque eu não tinha para onde correr. Eu propus uma coisa que nunca iria fazer. O começo de uma harmonia. Mas não me pergunte como eu fiz isso, porque eu não sei. Como diz o Hermeto: ‘A música está na ponta do dedo’. Eu me meti na minha música. Claro que sei tocar pandeiro, sei cantar. Mas no Iphone eu sou um monstro”, brinca. Mesmo com as descobertas, Otto não largou mão das características que o levaram à música. “Assim como o Brasil, minha música é diversa.” O nome, inclusive, um termo em francês, significa “onda de calor selvagem”: é, também, uma metáfora aos tempos vividos no mundo: seja o próprio aquecimento global ou mesmo os problemas no combate à democracia.

Sem os parceiros, “Canicule Sauvage” nada seria. No disco, Otto convidou parceiros para se unir na voz, além de Apollo 9, seu braço-direito. Participam também Ana Cañas, Lavínia, Pupillo, Lirinha e Nina Miranda

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Apropriar e se reconhecer

Ao mesmo tempo que se identifica a música eletrônica, percebe-se o samba: completamente misturados. Ele fala que precisa das incertezas para viver. “Assim eu encaro meus medos. Sempre precisei de ter coragem.” Esse estar aberto às misturas e mudanças tem a ver também com o fato de Otto rodar o mundo: sair do interior de Pernambuco, morar em Recife, em Paris e, então, em São Paulo. “Eu nasci com isso: me aproprio dos lugares onde eu passo. Mas todos os meus discos falam da minha vida. Eu não tenho rótulo para minha música.”

Mesmo sendo homem do mundo, Otto é e representa o nordeste. “Eu faço isso, porque sem isso não viajaria o tanto que viajo, sem minhas raízes. E se eu represento Pernambuco, represento o nordeste, e, consequentemente, o Brasil.” Inclusive, foi aos poucos que ele foi entendendo essa mistura, as fontes que ele bebe. Quando lá atrás viveu a efervescência e a descoberta do manguebeat, já sentia que era ali que sua música se encontrava – apesar de afirmar que foi Martinho da Vila o responsável por sua estética.

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Adaptar-se

A verdade é que, agora, vive-se essa onda de conhecer o que foi feito na pandemia: perceber, de longe, pelo que passamos. O corpo mudou. Otto mesmo, majestoso no palco, precisou se reacostumar com as apresentações: entender o fôlego, estudar o corpo. “Eu, mesmo que esteja agora mais ‘panicado’, ficando mais em casa, sempre estive com vontade de voltar. As coisas estão voltando ao normal. Eu estou me colocando no lugar. Acho que agora é um grande recomeço, para todo mundo”. Mas para além do físico, a mente também precisou de adaptação. A arte, como sempre, foi aliada. “Todos esses anos foram avassaladores para a arte. A gente agradece simplesmente por ter sobrevivido. E a arte é o aperfeiçoamento do ser humano, o sentimento do povo. Não tem como ir na mesma onda de coisas que vão contra o povo, porque a arte é feita de bom senso e clareza. Eu, quando escuto Caetano Veloso, por exemplo, ele me esclarece uma série de coisas e me adianta várias coisas.”

Por isso que é, para ele, significativo voltar a Juiz de Fora em um festival que celebra a diversidade. “Diversidade é o que tem no mundo. Ela, junto com a democracia e a inclusão não podem parar nunca. O que tem que parar são as ações que querem ir ao contrário delas.” Sobre o show, ele antecipa que vai ter um pouco de cada um dos seus discos, passando pelos sucessos. “É isso e a vontade de mudar”, finaliza.

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