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Neil Gaiman e Garth Ennis falam das adaptações de suas HQs para a TV

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Principal nome da CCXP Worlds, Neil Gaiman falou da adaptação de “Sandman” pela Netflix (Foto: Divulgação)

Depois de se firmar como o mais popular evento de cultura pop, nerd e geek do Brasil, a CCXP precisou encarar a dura realidade da pandemia, e por causa disso a edição 2020, assim como tantas pelo mundo, precisou ser virtual. Mas isso não quer dizer que o evento perdeu força: de sexta-feira (4) a domingo (6), a CCXP Worlds – como foi batizada este ano – pode não ter tido multidões se aglomerando pelos corredores e lotando auditórios para entrevistas e painéis, mas não faltaram atrações durante os três dias.

Com entrevistas ao vivo ou gravadas, a CCXP Worlds teve grandes nomes dos quadrinhos, TV, cinema e literatura, entre outros, na Thunder Arena e Artist’s Alley, além de painéis com novidades da Warner, futuros lançamentos da Mauricio de Sousa Produções, master classes, artistas nacionais expondo seus trabalhos e mesas virtuais. Segundo a organização do evento, foram mais de 150 horas de conteúdo de vídeo, transmitidos para 113 países, incluindo material de grandes estúdios de cinema, plataformas de streaming, emissoras de TV e editoras, entre outros.

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Entrevistas com os mestres

Um dos destaques da CCXP Worlds foram as entrevistas com figuras do cinema, televisão, streaming e, claro, quadrinhos. Entre eles, estavam ninguém menos que Neil Gaiman, o criador de “Sandman”, e Garth Ennis, de “The Boys”. Neil Gaiman, aliás, foi o convidado de honra e primeiro entrevistado da CCXP Worlds, logo na sexta-feira. Simpático como sempre, disse logo no início que gostaria de estar mais uma vez no Brasil, presencialmente, para tomar uma caipirinha com a galera.

Atualmente, o escritor inglês está trabalhando na adaptação de “Sandman” para o streaming, via Netflix, e, quando perguntado sobre o legado da série em quadrinhos, ele prefere ver a história como algo ainda atual e presente, que ajudou a pensar em novas formas de se fazer quadrinhos, indo além dos super-heróis.

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Sobre o motivo de “Sandman” ter demorado tanto a ganhar uma nova mídia, Neil Gaiman lembrou que chegou a apresentar uma proposta de uma trilogia para o cinema para a Warner Bros., mas na época o projeto não foi para a frente porque “não havia um vilão claro”, assim como em duas franquias bem-sucedidas na época, “Harry Potter” e “O Senhor dos anéis”.

3 mil páginas

“O importante é que estamos fazendo a série do Sandman, e não a série de TV do Sandman. E há 20 anos as pessoas não teriam dinheiro suficiente, pareceria uma série da BBC”, disse. “E temos dois problemas com ‘Sandman’. O primeiro é que são três mil páginas, o que vamos escolher adaptar e o que vamos deixar de lado? E qual vai ser o público, será para maiores de 18 anos? Mas, na Netflix, eles estavam dispostos a encarar o desafio de fazer a minha versão do Sandman, e não a versão dos quadrinhos.” Antes de “Sandman”, Neil Gaiman já teve outros trabalhos adaptados para o cinema, casos de “Coraline” e “Stardust”, e mais recentemente se envolveu nas produções da minissérie “Good Omens” e da série “American Gods”, que em breve inicia sua terceira temporada.

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Garth Ennis foi uma das principais atrações da Artist’s Alley no sábado (Foto: Reprodução)

O homem por trás de “The Boys”

No sábado, foi a vez do polêmico Garth Ennis participar da CCXP Worlds. O roteirista norte-irlandês é o criador de “The Boys”, um dos maiores sucessos do Prime Video desde seu lançamento, e também teve sua criação mais famosa, “Preacher”, levada para a televisão, com o programa encerrado após quatro temporadas. Ennis disse não ter grande participação na adaptação de “The Boys” para a TV, e também comentou o fato da surpresa de muitos telespectadores ao saber que se trata de uma adaptação de HQ.

“Muitas pessoas se surpreenderam devido à natureza extrema do material, mas provavelmente porque os quadrinhos ainda não chegaram aonde eles poderiam ter chegado com relação ao conteúdo”, diz. “A televisão tem certas necessidades, de deixar a história mais comercial, então os personagens eram mais americanos e não franceses, escoceses e ingleses, como na equipe original, e isso não me surpreendeu. A beleza dos quadrinhos, para mim, é que a gente pode fazer qualquer coisa. Quando escrevo, sei que o que vou escrever vai aparecer na página, porque os editores confiam em mim, os artistas gostam de desenhar o que roteirizo, e na televisão roteiristas são uma parte de um processo muito longo, com a participação de muita gente. Seria uma loucura não esperar que muitas coisas mudassem entre a página e a tela, posso até dizer que é surpreendente que muitas das coisas tenham chegado na tela como eu escrevi.”

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Iconoclasta

Garth Ennis é conhecido por ter uma visão dos super-heróis que passa longe da idolatria, tanto que é conhecido por muitos como um sujeito que quase “despreza” o gênero, a ponto de criar uma história como “The Boys”. Ele explica que muito disso se deve ao fato de que, na infância e maior parte da adolescência, ele não tinha acesso aos quadrinhos da Marvel e DC Comics, e o pouco que chegava às suas mãos era material britânico, com outro estilo.

“O primeiro quadrinho de super-herói que li foi ‘O Cavaleiro das Trevas’, e isso te dá uma ideia muito diferente dos super-heróis. Eu vi que podíamos fazer coisas mais interessantes com os quadrinhos, e não só essas histórias tradicionais de super-heróis, e eu nunca me afastei dessa ideia. Os quadrinhos cresceram ao ponto em que podiam falar de qualquer assunto para qualquer público, é uma forma válida de literatura e de contar histórias. E é disso que estamos falando há 35 anos.”

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