O amor, às vezes, acaba. Triste, porém dolorosamente verdadeiro. O fim pode se dar de diversas formas, algumas delas machucando mais que outras, mas é preciso saber lidar com o depois, quando a escolha é seguir em frente com parte das feridas já curadas, outras ainda abertas. E é sobre o que vem depois do momento em que o amor acaba, quando os conflitos se agravam, decisões são tomadas e é preciso escrever a última página do livro de uma vida a dois que trata o longa “A cama”, atração nesta sexta-feira (9), às 21h15, no Teatro Paschoal Carlos Magno, encerrando o penúltimo dia de exibições do Festival Primeiro Plano.
Coprodução Argentina/Brasil/Holanda/Alemanha, “A cama” foi selecionada para a edição 2018 do Festival de Berlim e marca a estreia na direção de longas-metragens de Mónica Lairana, também responsável pelo roteiro. Com pouco mais de 90 minutos de duração, o filme mostra as últimas 24 horas de Mabel (Sandra Sandrini) e Jorge (Alejo Mango) na casa em que viveram por décadas, criaram seus filhos, viveram toda uma história, mas que agora precisa ser esvaziada para ser posta à venda, uma vez que o casal se separou, e cada um vai seguir seu próprio caminho.
Esse período derradeiro de tempo mostra os dois dividindo os pertences, organizando e embalando caixas, relembrando o passado e compartilhando os últimos momentos juntos com o que ainda resta de companheirismo, carinho, amizade, respeito e intimidade (eles tomam banho, jantam, assistem a um filme, dormem juntos). Há, também, rancores e mágoas que são remoídas, e frustrações que talvez nem mesmo o tempo possa apagar – como na longa e difícil sequência inicial, em que eles tentam uma última relação sexual que, apesar de todos os esforços, não é concretizada, e mostra que a sintonia não apenas carnal, como afetiva etc., há muito se foi no que havia de mais essencial.
Por isso mesmo, “A cama” é pontuado por longos silêncios, mas longos mesmo. Depois de décadas juntos, de passarem pelo período excruciante do fim do amor, das brigas, do divórcio, quando tudo está decidido, não há muito o que se dizer. Neste ponto, o longa de Mónica Lairana pode ser considerado pelo espectador doloroso de se ver, chato, vazio, pretensioso até. Todavia, é proposta da diretora condensar essas 24 horas de um fim que parece jamais chegar como um processo do qual não se quer passar, mas, posto que é inevitável, talvez a melhor forma de encará-lo seja com silêncio e contemplação. Muitos finais são assim.
O que justifica, por fim, a decisão de Mónica em abdicar de uma trilha sonora, afinal trata-se de uma casa onde não há mais vida, amor. A fotografia de Flavio Dragoset se vale, então, de longos planos fixos, muitos deles mantendo distância considerável da (pouca) ação, pois era proposta da diretora colocar o público como um voyeur dos últimos momentos do ex-casal, verdadeiros “espiões” do último adeus. Ao mesmo tempo, poderia servir de metáfora para a própria distância que agora existe entre Mabel e Jorge, juntos apenas pela formalidade de encerrar o ciclo de algo que deixou de existir há muito tempo – o que não deixa, enfim, de mostrar como o ser humano é contraditório: capaz de dividir alguns bons momentos juntos, mas tendo a certeza de que a convivência é fardo insuportável.
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Últimas atrações
Além de “La cama”, a sexta-feira terá a exibição dos últimos curtas que participam das mostras competitivas Regional (17h) e Mercocidades (19h). Mais cedo, às 15h, acontece a primeira sessão da Mostra Audiovisual de Juiz de Fora, com três curtas-metragens.
No sábado (10), último dia de festival, será dedicado não somente ao anúncio dos vencedores. Haverá muita discussão sobre cinema também, a partir das 14h, na Funalfa, onde acontece o Encontro de Produção Audiovisual na América Latina. Mais tarde, às 16h, será a vez do debate com realizadores; e às 18h, reunião do Fórum do Audiovisual de Juiz de Fora.
As atividades no Teatro Paschoal Carlos Magno começam igualmente às 14h, com a segunda rodada da Mostra Audiovisual de Juiz de Fora, em que serão exibidos cinco curtas. Depois, às 16h, será exibido, dentro da mesma mostra, “Imo”, de Bruna Schelb. O último longa-metragem inédito a ser exibido no Primeiro Plano será “O homem que cuida”, de Alejandro Andújar, às 18h. Às 20h, acontece a cerimônia de encerramento, com o anúncio dos vencedores e exibição dos curtas “Minha tristeza não é minha”, de Maximiliano Gallo, e “Deus”, de Vinicius Silva.
“La cama”
Exibição nesta sexta-feira (9), às 21h15, no Teatro Paschoal Carlos Magno (Rua Gilberto de Alencar s/n). Programação completa do Festival Primeiro Plano no site do evento: primeiroplano.art.br