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Adaptado para o cinema, livro “As aventuras de Pinóquio” segue atemporal

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Obra em domínio público, publicação da Sesi-SP Editora ganhou tradução de Ivo Barroso e ilustrações de Joana Velozo (Foto: Reprodução)

A imagem que a grande maioria das pessoas guarda de Pinóquio, um dos personagens clássicos da literatura infantil, é a do boneco fofinho da animação lançada pela Disney em 1940, adaptada para se tornar mais palatável a crianças e adultos, assim como inúmeros contos de fadas também ganharam versões mais suaves nas telas, livros, peças de teatro e outras expressões artísticas.

A história do boneco que queria ser gente, todavia, é muito mais sombria do que a maioria conhece. Em janeiro deste ano, uma versão mais fiel à história original, escrita pelo italiano Carlo Collodi (1826-1890), chegou aos cinemas brasileiros com direção de Matteo Garrone, Federico Ielapi como Pinóquio e Roberto Benigni no papel de Gepeto.

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Com grande parte dos cinemas fechados, o longa não teve a bilheteria esperada, mas quem perdeu a oportunidade e não quer esperar a chegada da produção à TV ou streaming pode recorrer à obra literária original, publicada pela Sesi-SP Editora com tradução de Ivo Barroso, ilustrações de Joana Velozo e posfácio de Italo Calvino.

Ainda que tenha muitas diferenças em relação às adaptações feitas posteriormente, a trama de “As aventuras de Pinóquio _ História de um boneco”, a princípio, será reconhecida pelos leitores. O carpinteiro Cerejo entrega ao amigo Gepeto um pedaço de madeira que fala, ri e chora, e o idoso resolve fazer dele um boneco articulado “que saiba dançar, lutar esgrima e dar saltos mortais”, criando-o como um filho.

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Mas não demora muito para Pinóquio começar a fazer suas travessuras, o que não impede que a dupla tenha uma relação de pai e filho e amor verdadeiro. O boneco de madeira, entretanto, assim como tantas crianças e seres humanos em geral, tem seus defeitos: é mentiroso _ o que faz seu nariz crescer -, ingrato, irresponsável, mal-educado, egoísta, inconsequente, preguiçoso, tíbio em suas promessas, mas de bom coração e com desejo sincero de ser uma boa criança.

Infelizmente, a sua ingenuidade coloca por terra todas as vezes em que procura agir com a melhor das intenções, e por causa dessas características Pinóquio se envolve nas mais variadas confusões: tem seu dinheiro roubado por uma raposa e um gato, é preso, quase vira lenha de fogueira ou é frito como um peixe, foge da escola e ganha orelhas e cauda de burro, é engolido pelo Peixe-Cão… E tudo isso por ignorar os conselhos de Gepeto, da Fada e Grilo Falante, entre outros, o que torna quase impossível ao boneco tornar-se um menino de verdade.

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Momentos sombrios

Como tantos contos de fadas de séculos passados, “As aventuras de Pinóquio _ História de um boneco” tem um tom mais sombrio, a exemplo das aventuras de Chapeuzinho Vermelho e Branca de Neve, entre outros, e trechos como o do enforcamento do protagonista podem chocar alguns. Comparações como a feita por Italo Calvino, em seu posfácio, de algumas passagens com a obra de Edgar Allan Poe, são válidas, assim como as análises nas décadas seguintes que fazem relações entre a saga de Pinóquio e passagens da Bíblia (!).

Os diálogos são outro destaque da história, com sagacidade e sarcasmo poucas vezes vistos em livros infantis, e a descrição de personagens, cenários e situações fazem com que o leitor mergulhe neste universo. A edição da Sesi-SP Editora ainda tem o belo trabalho de ilustração de Joana Velozo para enriquecer a obra.

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Ler a história de Pinóquio, por fim, não é apenas acompanhar as aventuras de um boneco de bom coração, mas com fraquezas morais. É observar no boneco que sonha em ser gente as mesmas qualidades e defeitos que tivemos na infância e vemos, hoje, em nossos filhos. É o processo de crescimento, amadurecimento, pelo qual passamos ao entendermos _ às vezes da pior maneira _ o preço a pagar quando somos mentirosos, preguiçosos, irresponsáveis, mal-educados, egoístas e ingênuos, mesmo que por uma boa causa. Não à toa, é um clássico que segue atemporal.

Roberto Benigni e Federico Ielapi estrelam a nova adaptação de “Pinóquio” para o cinema (Foto: Reprodução)

Clássico que perdura por gerações

A trajetória de Pinóquio é, no mínimo, peculiar, a começar pela vida de seu criador. Nascido Carlo Lorenzini em 1826, na cidade de Florença, o escritor e comediante Carlo Collodi participou das batalhas de 1848 e 1849 pela reunificação da Itália. Posteriormente, fundou uma publicação de sátira política, fechada pela censura, trabalhou no jornal “Il Fanfulla” e publicou seus primeiros livros.

Sua entrada no universo da literatura infantil começou com a tradução de contos de fadas do francês Charles Perrault, em 1875. Sua estreia no gênero como autor, porém, acontece apenas em 7 de julho de 1881, quando é publicado o primeiro capítulo de “Storia de um burattino” (“História de um boneco”) na primeira edição do seminário “Il Giornale per i bambini” (“Jornal das crianças”), de Ferdinando Martini. Apesar do sucesso, Collodi termina a novela seriada com o personagem morto após ser enforcado.

O sucesso entre o público, porém, foi tão grande que o escritor foi convencido a dar prosseguimento à aventura, que retornou em 1882 já com o nome que o tornaria ainda mais conhecido: “As aventuras de Pinóquio”. Os capítulos foram reunidos posteriormente para serem publicados como livro em 1883, e desde então Pinóquio tem sido um dos personagens infantis mais conhecidos e populares entre crianças e adultos que não perderam a chama da imaginação.

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