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Daniel Ferro lança o livro ‘Contos do rock’

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Daniel Ferro reúne em livro (no detalhe) algumas das mais engraçadas, absurdas e emocionantes histórias do programa exibido pelo Multishow. (Foto: Melissa Castro/divulgação)

Nasi, vocalista do Ira!, “rouba” da gravadora o disco de ouro que não “recebeu”; Gabriel Thomaz, do Autoramas, fica constrangido ao dar uma surra no pinball em ninguém menos que Lemmy, do Motörhead; Jimmy London, do Matanza, fica tão bêbado que vai parar no hotel errado; Marinara, que acompanhava Fausto Fawcett no show “Básico instinto”, bota uns motoqueiros para correr na base do revólver; e Fê Lemos, do Capital Inicial, lembra a emoção de ouvir “Tempo perdido” (Legião Urbana) pela primeira vez em um Rose Bom Bom (antiga casa noturna de Sampa) vazio. Estas são algumas das histórias que o jornalista, músico, produtor e diretor Daniel Ferro garimpou por anos durante a produção do programa “Contos do rock”, do Multishow, e que acabaram no livro “Contos do rock – Histórias dos bastidores do rock brasileiro contadas por quem estava lá”, da editora Dublinense.

No total, são mais de 50 “causos” vividos por músicos, produtores, empresários e gente de gravadoras selecionados por Daniel entre os 250 contos que apareceram no programa. A única história que não apareceu na telinha da TV foi a do “tremendão” Erasmo Carlos, que relembra uma tentativa mal sucedida de passar a perna na censura que havia durante a ditadura militar. De acordo com Daniel, o livro surgiu de uma lacuna que observou nos documentários a que assistiu e nas biografias musicais que leu nos últimos anos.

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“Eles não tinham histórias de camarim, de bastidores, que são engraçadas e ajudam a entender muito sobre as bandas, os artistas, e que sempre ficavam à margem. Daí surgiu o programa, que por sua vez tinha uma linguagem audiovisual que emulava um livro, por isso mesmo foi natural essa transição”, conta Daniel, acrescentando que o livro utiliza as mesmas ilustrações que apareciam a cada depoimento na TV.

Ao pé da letra

Para a publicação, o jornalista preferiu fazer uma transcrição literal do depoimento de cada artista, mantendo o espírito da oralidade da história. “Isso torna cada conto mais interessante porque parece que o artista está falando ali na sua frente, com seus maneirismos, sua gíria. O livro é relevante por isso, pois mesmo que muitas histórias sejam irreverentes, divertidas, elas marcam um momento da banda, do artista, e atiça a curiosidade do leitor em conhecê-los”, acredita. Para escolher os 54 contos, Daniel e a editora utilizaram um método diferente, priorizando aquelas que vinham logo à memória e apenas uma por entrevistado.

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Por isso, “Contos do rock” possui histórias que transitam entre o engraçado, o absurdo e o comovente, entre outros adjetivos. Há, por exemplo, Tico Santa Cruz, do Detonautas, lembrando do dia em que “invadiu” um escritório da Sony para mostrar seu trabalho e quando, anos depois, esteve na mesma gravadora para assinar contrato; Toni Garrido, do Cidade Negra, encontrando com Ron Wood, dos Rolling Stones, em um voo noturno no Brasil, e descobrindo que as filhas do músico são fãs da sua banda; Phillipe Seabra, da Plebe Rude, dando sua versão para o primeiro show da Legião Urbana; e Amin Khader dando seu depoimento como testemunha ocular do ataque de estrelismo de Freddie Mercury no primeiro Rock in Rio.

Estas duas últimas histórias, aliás, mostram outra faceta interessante do livro: conhecer versões de “causos” que já fazem parte da mitologia e do folclore do rock nacional. “Acho que é justamente dessa narrativa oral que a gente gosta. O Amin Khader contando essa história do Freddie Mercury é muito mais engraçado do que você saber que o vocalista do Queen fez essa exigência (de tirar todos os artistas brasileiros do corredor até seu camarim para que ele passasse). O fato de ele contar do jeito que quer é que dá graça ao livro, fica muito divertido. Até porque o livro não é apenas para quem gosta de rock, e sim para todos que gostam de boas histórias.”

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Sentindo-se ‘em casa’ na estrada

Além do “Contos do rock”, Daniel Ferro foi o responsável por outro programa do Multishow, o “Rock estrada”, em que ele e a equipe da emissora acompanhavam bandas e artistas durante suas turnês. Como ex-integrante de banda (ele fez parte da Emoponto na década passada), o jornalista teve a oportunidade de relembrar as aventuras e roubadas da vida de músico – e também experimentar o que podemos chamar de “o outro lado”.

“Participar dessas aventuras foi muito natural para mim, deu para matar a saudade da estrada, só que fui registrar em vídeo ao invés de estar com um instrumento. Por ter sido músico, entender a ética da estrada, tive acesso livre. Eles confiaram em mim. Estive com o Sepultura na Europa, e eles me chamavam de ‘the enemy’ (‘o inimigo’), uma brincadeira com o filme ‘Quase famosos’.”

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Sobre a possibilidade de também transformar o “Rock estrada” em livro, não é algo que vislumbre em um horizonte próximo. “Já tenho muitos documentários de estrada com o Jota Quest, NX Zero, o próprio ‘Rock estrada’ era documental. Eu prefiro a narrativa audiovisual pois tenho mais fluidez nesse formato, e acho que tem dado certo. O fato de transformar o ‘Contos do rock’ em livro foi uma janela que se abriu e que até posso considerar daqui para frente (para o ‘Rock estrada’).”

Quando questionado sobre as durezas, roubadas e alegrias que viveu na sua época de músico, Daniel Ferro diz só ver “coisas boas”, como a vida na estrada com a banda, a busca pela realização dos sonhos, lograr êxito e valores que se carrega por toda a vida, como o “faça-você-mesmo”, a irmandade com os colegas de profissão. “São valores que o rock ensina e você carrega para outros setores da sociedade. Sou muito grato à estrada pelas histórias que tive com a banda.”

De autor a personagem

Para finalizar, fica a pergunta: qual história do Emoponto Daniel Ferro contaria caso fosse um dos personagens de “Contos do rock”? A resposta não poderia ser mais surreal, absurda e hilária – mesmo que na hora ninguém a tenha considerado engraçada. “Conseguimos uma turnê de três dias no Nordeste (Recife, Maceió e Salvador) com outra banda do Rio, a Carbona. Para começar seriam as duas bandas se espremendo em uma van, aí descobrimos que teria uma terceira; foi gente deitada no piso da van, mais equipamentos, todo mundo apertado, mas na estrada você vira irmão.

Aí veio o último show, em Salvador, e na época você pegava o dinheiro do cachê na hora. Só que ninguém encontrava o contratante, aí descobrimos que era um garoto de 14 anos! Naquela época a gente combinava show por e-mail, ICQ, era tudo na conversa, na confiança. O show estava marcado, os ingressos vendidos, para gente era o suficiente. Descobrimos quem era o garoto e fomos até a casa dele, o pai nem sabia que o filho tinha organizado o show, mas ele pagou a gente, era o dinheiro para pagarmos a van. Além disso, não conseguiríamos pegar o avião se não descobríssemos quem era o rapaz.”

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