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Artistas mantêm produções ativas em plena pandemia

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Seja através da empolgação quando se abrem as cortinas, da energia de uma plateia que canta ao som de uma canção ou dos olhares atentos que acompanham um enredo no palco, o termômetro do artista é o público. Com o contexto atual de isolamento social, essa que foi uma das classes mais prejudicadas já não pode contar com a presença física daqueles que tornavam seu trabalho reconhecido. Por isso, alguns artistas se viram desafiados a continuar produzindo mesmo que de maneira incomum e diferente do que vinham desempenhando.

Aulas sobre teatro on-line

Um exemplo foi o ator, dramaturgo e diretor do Grupo Divulgação, José Luiz Ribeiro (@joseluizribeiror), conhecido carinhosamente como Zé Luiz, que trabalha há 54 anos na companhia que começou como grupo de estudos teatrais em 1966. Hoje, o grupo que se tornou bem imaterial de Juiz de Fora, apresenta talentos de várias gerações de atores e atrizes, indo de adolescentes até a terceira idade.

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Zé conta que, antes da chegada da pandemia, o grupo estava trabalhando em um espetáculo que teve que ser interrompido, criando mais incertezas sobre o futuro das apresentações. “Agora estamos presos sem saber o que fazer.  As pessoas dizem para fazer teatro pela internet, mas isso é radionovela, o ser humano precisa de olho no olho, que é o teatro que a gente ama.”

Porém, a pedido de uma das alunas do grupo, o dramaturgo começou a  preparar conteúdos por meio de lives em seu perfil todas as segundas e quartas-feiras, às 19h, que são as aulas chamadas de “papo sobre teatro’. Às sextas-feiras, Zé Luiz continua reunindo o grupo de teatro que faz pequenas intervenções diante das câmeras.  

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“Comecei a falar sobre música e as diferentes formas de teatro, agora acabei fazendo sobre ‘o ator’ e ‘o corpo do ator’, no qual eu pegava os grandes mestres, cada dia eu trato de um. Significa que eu comecei a estudar como um doido pra condensar o conteúdo em aproximadamente 30 minutos, porque uma live maior que essa fica muito chata.” 

Apesar dos desafios, o ator vê pontos positivos nesse novo formato. “Estamos alcançando um público legal, fica circulando no IGTV, então a gente está vendo um resultado muito bom, estou unindo ex-alunos do país inteiro e até de fora. Essas pessoas todas estão se encontrando às segundas e quartas, às 19h, para continuarmos fazendo um trabalho que já fazíamos no Divulgação.”

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Espetáculo em casa

Ainda na área das artes cênicas, o grupo Corpo Coletivo que ocupa o espaço de encontro e manifestações artísticas, O Andar de Baixo (@oandardebaixo), também encontrou dificuldades para continuar mantendo as atividades neste período de isolamento.  “O Corpo Coletivo surgiu há sete anos como um grupo de experimentação e pesquisa teatral, a ideia é experimentar e descobrir uma nova maneira de fazer teatro. Em 2016, sentimos a necessidade de encontrar um espaço físico”, conta a atriz e gestora cultural, Carú Rezende, sobre a adoção do espaço, um salão na Rua Floriano Peixoto 37, que hoje funciona como um reduto de artistas.

A atriz diz que o contexto atual afetou as atividades do grupo de forma significativa: fechamos o espaço na primeira semana de março e cancelamos o espetáculo que iria estrear uma semana após o decreto do período de quarentena. “Nós decidimos que não poderíamos encontrar fisicamente, então começamos a tentar responder à pergunta: ‘será possível fazer teatro pela internet?’” Assim, o grupo começou a experimentar novas alternativas. Apresentou o espetáculo “Incômodo: Teatro feito em casa”, que costumava ser feito na casa das pessoas com foco intimista, pelo Instagram, e, mais tarde, em um festival internacional on-line, o “Quarentena Festival”. Além disso, prevê estrear em breve o chamado “Teatro Antivírus”, espetáculo virtual misturado com websérie, em um formato ainda em experimentação pelo grupo. 

“Como alternativa para conseguirmos manter  O Andar de Baixo, além de toda a movimentação artística que estamos propondo com apresentações, começamos também a fazer uma mostra de performances pelo Instagram, que contou com artistas do país inteiro”, conta Carú, reforçando a importância da ajuda de parceiros neste momento. “Lançamos também uma campanha ‘Amigos do andar’, que é uma rede de associação em que as pessoas contribuem com um valor mensal e recebem conteúdos artísticos exclusivos. É uma forma que encontramos de unir nossa rede e manter o espaço em funcionamento.”

 

Equipe do Corpo Coletivo e OAndarDeBaixo. Foto: Pedro Soares

O show não pode parar

Não são só os atores e atrizes que estão sentindo falta dos palcos. O grupo musical juiz-forano Mauloa (@mauloamusica), que está desde 2017 se apresentando nas casas de shows da cidade com influências do reggae music e de artistas como Gilberto Gil, Nação Zumbi, Baiana System, é formado por seis integrantes que buscam uma nova forma de fazer música brasileira. “No início do ano, fizemos uma reunião para traçar os objetivos e tínhamos muitos planos para esse ano. Apesar de alguns continuarem, temos um grande empecilho que é a pandemia”, afirma o flautista da banda, Pedro Alfeld. No planejamento, estava a realização do “Utropicália”, um novo formato de apresentação que conta com teatro, circo e dança, e que agora está sendo analisado para a reprodução virtual.

A banda planejava também a gravação de um “Extended play” em formato digital, que é longa demais para ser considerada um single e muito curta para ser classificada como um álbum musical. “A ideia era de lançar um EP esse ano, só que sem show não conseguimos verba para produzir. Mas estamos tentando ser produtivos, porque não dá para ficar parado.” Apesar das dificuldades pela falta de show e ensaios à distância, a banda encontrou algumas estratégias. “Estamos repensando como utilizar o Instagram, já que agora não temos mais tanto conteúdo para postar quanto tínhamos quando fazíamos shows. Além disso, estamos pensando também como continuar tendo contato com o público, estamos tentando manter de forma virtual através de lives com apresentações.”

Outra estratégia é a participação de cada artista individualmente em diversos projetos de incentivo à música nas redes sociais, compartilhando vídeos em perfis virtuais. “Estou percebendo que tanto a classe artística quanto as outras estão se unindo cada vez mais, é difícil, mas não é impossível”, conclui Pedro.

Da esquerda para a direita: Mikael Batista Gomes (vocalista), Thalles Oliveira Da Silva (baterista), Victor Gomes Sampaio (baixista), Pedro Alfeld dos Reis (flautista), Tiago Croce Medina do Valle (guitarrista) e Bruno de Padua Oliveira Vieira (percussionista)  – Foto: Rodrigo Ferreira

 

Lançamento do single “Seu Doutô” em abril desse ano

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