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‘Cinquenta tons te liberdade’: Muito chicote por nada

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Anastasia Steele apresenta a Christian Grey o mundinho da tradição, família e propriedade em ‘Cinquenta tons de liberdade’ (Foto: Divulgação)

Artisticamente falando, existe uma coisa que pode ser a morte para um criador, pelo menos se ele tiver algum interesse além do financeiro: ter sua obra mal interpretada. Por exemplo: uma peça ou um filme que busca divertir o público e não ganha uma risada sequer. Ou uma obra dramática que arranca risos, gargalhadas involuntárias dessa mesma audiência. A segunda opção é o caso da série “Cinquenta tons de cinza”, trilogia de livros supostamente eróticos da britânica E.L. James e que tem o seu derradeiro capítulo final chegando aos cinemas nesta quinta-feira.

Ok, nem todo mundo acha engraçado, há uma parcela considerável de fãs que consegue ficar com os hormônios em ebulição com – e aqui vale repetir o que escrevi ano passado a respeito de “Cinquenta tons mais escuros” – o relacionamento (risos) marcado pelo sadomasoquismo (mais risos) entre um bilionário bem-sucedido, atormentado (risos descontrolados), possessivo e dominador (gargalhadas histéricas) com uma jovem estudante virgem e inocente. Mas a verdade é que os dois primeiros longas da série são marcados por um casal de protagonistas tão sexies quanto um processador de alimentos, interpretações e frases risíveis, roteiro transbordando de clichês e a mensagem de que todo sexo além do tradicional é – bem lá no fundinho – coisa de gente perturbada. Na real? Os dois filmes anteriores são tão constrangedores que se tornaram duas comédias involuntárias, daquelas que você ri só de assistir aos trailers. No filme, então…

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E “Cinquenta tons de liberdade” segue a toada das produções anteriores, vendendo a imagem de que fetiches são ruins e que toda mocinha é capaz de “curar” qualquer príncipe encantado, por mais “doente”, “atormentado” que ele seja. Depois dos perrengues do último filme, Anastasia Steele (Dakota Johnson) conseguiu domar seu amado Christian Grey (Jamie Dornan) a ponto de o moço topar se casar com ela e passarem a viver um conto de fadas, com direito a lua de mel pela Europa, carro zero de presente, mansão nas montanhas para curtir o feriadão e uma editora só pra ela. Como “concessão” (afinal ela é a mocinha abnegada), eventualmente uma sessão de sexo BDSM para alegrar o marido possessivo, mas “curável”.

Só que nem tudo são flores na vidinha baunilha do novo casal de comercial de margarina. Anastasia descobre que está grávida, e Christian não fica nem um pouco feliz com isso. Elena Lincoln (Kim Basinger), a mulher que iniciou Christian neste mundo “doentio”, volta para atormentar o mundo quadrilátero regular da protagonista, assim como o maluquete Jack Hyde (Eric Johnson). Para completar, a história ainda acrescenta momentos dramáticos como um sequestro e um acidente de carro, além de Anastasia dirigindo como se estivesse em “Velozes e furiosos”. Tudo para criar um clima de “suspense”. E que ninguém fique impressionado se “Cinquenta tons de liberdade” tiver um final com a maior cara de novela das nove.

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Para encerrar, nada melhor de que relembrar o que escrevi há quase um ano sobre “Cinquenta tons mais escuros”, que ainda vale para todos os filmes da trilogia: a franquia “Cinquenta tons de cinza” promove um total e absoluto desserviço ao sexo e suas variações, sem contar que não aguenta cinco minutos de porrada com filmes que tratam o assunto a sério, como “Ninfomaníaca”, “Secretária” e “Instinto selvagem”.

O que E. L. James defende nos seus livros, na verdade, é que coisas como sadomasoquismo e afins são sujas, perversas, desvios de comportamento que precisam ser “curados” por mocinhas frágeis e puras feitas Anastasia, tão sexy quanto uma torradeira mas que teria a capacidade de “salvar” com seu amor pessoas “doentes” feito Christian Grey, que precisa aprender a “fazer amor” e entender que só é “pervertido” devido a seus traumas do passado – como se apenas pessoas com problemas psicológicos fizessem essas coisas “anormais”. É vender a tola premissa de que toda moça pode transformar o Lobo Mau no Príncipe Encantado, igual àqueles manuais que são publicados em revistas para mulheres “independentes”. Não há tesão que resista a tanto puritanismo travestido de erotismo.

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Cinquenta tons de liberdade

UCI 2 (dub): 14h50, 19h30 (todos os dias), 21h50 (exceto qua). UCI 2 (leg): 17h10. UCI 3 (dub): 13h15, 17h55. UCI 3 (leg): 15h35, 20h15, 22h35.

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Cinemais Alameda 1 (leg): 14h20, 19h. Cinemais Alameda 1 (dub): 16h40, 21h20. Cinemais Alameda 4 (dub): 14h50, 19h30. Cinemais Alameda 4 (leg): 17h10, 21h50.

Cinemais Jardim Norte 1 (dub): 14h20, 16h40, 19h. Cinemais Jardim Norte 1 (leg): 21h20. Cinemais Jardim Norte 2 (leg): 16h10. Cinemais Jardim Norte 2 (dub): 18h30.

Cinemais Jardim Norte 4 (dub): 14h50, 17h10, 21h50. Cinemais Jardim Norte 4 (leg): 19h30. Santa Cruz 1 (dub): 13h45, 16h15, 18h45, 21h15 (exceto dom, seg).

Classificação: 16 anos

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