Quando se pensa em filmes de terror e na obra de Stanley Kubrick, “O iluminado” (1980) surge como referência tanto para o gênero quanto para a carreira do cineasta norte-americano. Apesar de duramente criticada pelo Stephen King, autor do livro de 1977 que serviu de base para a adaptação (entre outros motivos, por passar batido pelos problemas com o álcool do protagonista, Jack Torrance), o longa tem alguns dos momentos mais célebres da sétima arte, como a cena das gêmeas. Agora, quase 40 anos depois, a história ganha uma continuação, “Doutor Sono”, o homônimo do livro de 2013, estreia nesta quinta-feira (7), no mesmo dia do aguardado “Parasita”, produção sul-coreana que venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes e é tida como uma das grandes favoritas ao Oscar de longa-metragem internacional.
Muito trauma, pouca diversão…
Produzir remakes de clássicos (“Carrie – A estranha”, “Psicose”, “O dia em que a Terra parou”) já é risco de levar chumbo grosso de crítica e fãs, e o mesmo vale para continuações. Apesar dos perigos, o diretor Mike Flanagan (“A maldição da Residência Hill”) topou o desafio da Warner de comandar as filmagens de “Doutor Sono”, adaptação do livro publicado por Stephen King em 2013. A história retorna ao universo de “O iluminado”, um dos trabalhos mais celebrados do escritor e que ganhou a celebrada (menos por King) adaptação de Stanley Kubrick.
No longa de 1980, o também escritor Jack Torrance (Jack Nicholson) aceita o emprego de zelador no período em que o Hotel Overlook, no Colorado, está fechado por conta da baixa temporada. Após uma tempestade de neve isolar o local de vez, Jack tem a companhia apenas da esposa (Shelley Duvall) e do filho Danny (Danny Lloyd), que tem poderes psíquicos que começaram a se manifestar. O isolamento, aliado à tentativa de se manter abstêmio e influências de uma figura sobrenatural, acabam por enlouquecer Jack, que tenta matar a família.
Já a nova produção, assim como o livro, se passa cerca de quatro décadas depois. Ainda traumatizado pelos eventos da infância, Danny (Ewan McGregor) é um alcoólatra em recuperação que, depois de rodar o país, se estabelece em uma pequena cidade e consegue emprego em um hospital psiquiátrico. Ele usa, sem que os outros saibam, de seus poderes psíquicos para dar conforto aos internos, o que faz com que ele ganhe o apelido de “Doutor Sono”.
Os fantasmas do passado, entretanto, permanecem presentes, e a vida pacata vira de ponta cabeça quando ele estabelece um vínculo psíquico com a jovem Abra Stone (Kyliegh Curran), que assim como ele possui o chamado “Brilho”. A garota, porém, tem capacidades tão impressionantes que chama a atenção do Verdadeiro Nó, grupo comandado pela ambiciosa Rose (Rebecca Ferguson) e que busca a imortalidade se “alimentando” dos “Iluminados” – pessoas que, como Danny e Abra, possuem o “Brilho”.
Em vista do perigo, a dupla resolve se aliar para impedir os planos do Verdadeiro Nó, e entre referências à história original e vários easter eggs, “Doutor Sono” chega mesmo a retornar ao Hotel Overlook, onde tudo começou.
Quando universos colidem
O sul-coreano Bong Joon-ho já havia chamado a atenção com “Expresso do amanhã” e “Okja”, mas foi graças a “Parasita” que o diretor alcançou um patamar superior. O longa, que mistura suspense e humor negro, foi a primeira produção da Coreia do Sul a conquistar a Palma de Ouro no Festival de Cannes, o que aconteceu (com votação unânime do júri) na edição deste ano. Por conta disso, não foi surpresa a escolha do filme como representante do país à indicação de melhor longa-metragem internacional para a próxima edição do Oscar. Ainda que os indicados não tenham sido anunciados, o que só acontece em janeiro, desde já “Parasita” é visto como um dos favoritos ao prêmio.
A história mostra que o país, considerado um dos Tigres Asiáticos e atualmente um dos mais desenvolvidos do mundo, ainda guarda muito da miséria em que viveu durante décadas após o fim da Segunda Guerra Mundial. Enquanto muitos desfrutam da excelente condição econômica do país, dos confortos oferecidos pelo capitalismo, ainda há uma parcela da população que vive na miséria. É o caso da família do jovem Kim Ki-woo (Choi Woo-shik): sem empregos fixos, eles vivem com enormes dificuldades em um porão, sofrendo toda série de privações.
A oportunidade de mudança surge quando Ki-Woo é contratado para dar aulas de inglês para a filha de Park Dong-ik (Lee Sun-kyun), CEO de uma empresa bem-sucedida. Deslumbrado com todo o luxo e riqueza, ele consegue infiltrar sua família aos poucos nesse cotidiano: usando nomes falsos, o pai, a mãe e a irmã também são contratados, respectivamente como motorista, empregada doméstica e babá.
Nessa condição servil, eles vão aos poucos comendo pelas beiras, basicamente se servindo dos “restos” que os Park, inadvertidamente, deixam para trás. A história toma um rumo inesperado quando os Kim, aproveitando uma viagem dos patrões, usam a mansão como se fosse deles, usufruindo do bom e do melhor, e descobrem um segredo no porão da mansão.
Doutor Sono
UCI 3 (dub): 13h (exceto seg), 19h20 (todos os dias). UCI 3 (leg): 16h10 (exceto seg), 22h30 (todos os dias). Cinemais Jardim Norte 2 (leg): 15h, 21h. Cinemais Jardim Norte 2 (dub): 18h.
Classificação: 16 anos
Parasita
UCI 5 (leg): 19h40 (exceto qui, seg).
Classificação: 16 anos