Site icon Tribuna de Minas

Artistas de JF lembram as entrevistas que deram para Jô Soares

jô soares
PUBLICIDADE

Com o anúncio da sua morte na última sexta-feira (5), em São Paulo, aos 84 anos, não faltaram imagens de arquivo dos grandes momentos da longa e vitoriosa carreira do ator, diretor, roteirista, dramaturgo, escritor, humorista, pintor e apresentador Jô Soares. Personagem cuja vida se mistura à história da televisão no Brasil, foi possível ver, rever, relembrar alguns dos programas de que participou ou criou, como “Viva o Gordo” e “Veja o Gordo”, “Faça humor, não faça guerra”, “A Família Trapo” e “Planeta dos homens”, entre outros.
Porém, as gerações mais recentes provavelmente conhecem apenas o Jô Soares que apresentou os mais célebres talk shows da televisão brasileira. Ele trocou a TV Globo pelo SBT em 1987 para poder realizar um de seus projetos, o “Jô Soares Onze e Meia”, programa de entrevistas que entrou no ar no ano seguinte, assim como o humorístico “Veja o Gordo”. Foram 11 anos no ar até retornar à Globo e estrear, no ano 2000, o “Programa do Jô”, que foi um dos destaques da emissora até 2016, quando o artista se aposentou da televisão.
Somados os dois programas, Jô Soares realizou milhares de entrevistas com artistas, políticos e figuras de destaque nos mais diversos setores da sociedade, além de figuras anônimas e pitorescas. Todo mundo que assistiu aos programas certamente tem alguma entrevista memorável, assim como quem teve a oportunidade de sentar ao lado do entrevistador. Lembranças, aliás, que alguns artistas locais compartilham ao conversarem com a Tribuna ainda sob o impacto da notícia da morte de um dos ícones da TV do Brasil.

JÔ SOARES trabalhou como apresentador até 2016, quando se aposentou (Foto: Divulgação/TV Globo)

De frente com o ídolo

Um dos comediantes mais populares das últimas décadas no país, Pedro Bismarck foi entrevistado por Jô Soares em duas oportunidades, ambas para o “Jô Soares Onze e Meia”. Na primeira, em 93, ele fazia parte do elenco do humorístico “A praça é nossa”, também no SBT, antes retornar no ano seguinte para a TV Globo. Na segunda, em 1998, foi para promover o seu espetáculo que estava em cartaz em São Paulo.
O intérprete do célebre Nerso da Capitinga conta que Jô Soares, ao lado de Chico Anysio, eram suas duas referências no humor. No caso do primeiro, lembra que assistia ao humorista na infância, em programas como “Satiricom” e “Faça humor, não faça guerra”, entre outros, e também “Viva o Gordo”, quando começou a fazer seus primeiros espetáculos. Por isso mesmo, saber que seria entrevistado pelo ídolo foi motivo de nervosismo e ansiedade.
“Se você vir a primeira entrevista, vai ver que eu estava muito nervoso. Ele perguntou se eu estava, disse que sim, perguntou se eu queria água; estava tão nervoso que nem conseguia beber”, lembra. “Foi a mesma coisa de quando encontrei o Chico Anysio pela primeira vez. Quando a gente admira e respeita a pessoa, você fica tenso, e, no caso da entrevista para o Jô, fica preocupado em fazer as colocações de forma que não distancie do foco da pergunta e perca o fio da meada, ainda mais que você tinha só uns 20 minutos. Mas quando o público fala ‘aaaaaahhhh!’, lamentando, queria dizer que a entrevista foi boa, e ele me deu a oportunidade do público fazer isso, de tão bem que o Jô conduziu a conversa.”
Pedro Bismarck destaca que, para ir ao programa de Jô Soares, era preciso ter algum tipo de relevância. Ele lembra que havia ganhado o Troféu Imprensa como revelação do humor, antes de ir para “A praça é nossa”, e que estar no “Onze e Meia” era uma oportunidade de promover o ator e seu trabalho. “Ele tinha essa generosidade de valorizar o trabalho da pessoa, não importando qual fosse o setor. Ele tinha consciência que teatro era e é difícil de fazer, sempre deixava a gente falar quais eram os patrocinadores. E quando fez a gentileza de me convidar de novo, em 1998, aceitei na hora, pois era uma honra e a oportunidade de divulgar o show. E foi mais tranquilo então, pois muita água tinha passado embaixo da ponte, assim como o impacto de conhecê-lo.”
O humorista mineiro também acompanhava, quando podia, os programas de entrevistas que Jô Soares apresentou na Globo e SBT. “Como os programas passavam muito tarde, só dava para assistir de segunda a quarta-feira, pois na quinta e sexta normalmente estava na estrada. Mas eram programas imperdíveis, pois mesmo quando a pessoa não era conhecida ela tinha algo relevante a dizer, e ele sabia extrair isso do entrevistado. O Jô sabia levantar a entrevista, tirar da gente o que tínhamos de melhor. Era uma pessoa extraordinária, que vai fazer uma falta imensa. Não tem substituto na área do humor, a escola em que ele e o Chico estudaram acabou.”

PUBLICIDADE

Do morro para o ‘Jô Soares Onze e Meia’

O vocalista da banda Muamba, Eminho, lembra da vez que o grupo foi entrevistado por Jô Soares, em 1998, quando estavam divulgando a música “Blá blá blá”, de seu álbum de estreia. A conversa pode ser conferida na íntegra no YouTube, além da apresentação do grupo no programa. “Foi uma experiência legal, porque aconteceram umas quebras de protocolo na entrevista, o Jô deixou a gente à vontade”, diz. “A gente tinha uma visão errada dele, pois falavam que ele mal-humorado, rigoroso, e foi super simpático com a gente. Teve ainda a questão do Miltinho (baterista) ser de Juiz de Fora, de sermos amigos do filho dele. E foi um dia muito legal porque o outro entrevistado foi o Paulo Coelho, que se mostrou uma pessoa muito doce. Houve um momento fora da gravação que ficamos conversando com ele e o Jô.”
Para Eminho, a entrevista no “Jô Soares Onze e Meia” é um dos momentos de maior orgulho na trajetória do Muamba. “Participar do programa nos ajudou a alcançar a maturidade que temos hoje, a saber falar com mais profundidade do nosso trabalho, da nossa história e dos planos futuros. E a credibilidade que o programa dele passava era surreal: depois que fomos lá a banda passou a ser vista de outra forma pelos fãs, pela mídia; a quantidade de shows aumentou, foi um ponto de mudança em nossa história”, diz o vocalista, que compartilha os sentimentos por ter tido a oportunidade de participar de um programa de alcance nacional e que é, até hoje, referência quando o assunto é talk show.
“Para mim foi surreal. Eu sou do interior de Minas, nascido no morro, muito humilde, achava que não iria viajar nem pra Matias Barbosa (risos), e de repente eu estava ali sentado com o Jô falando sobre a banda, num talk show que assistia sempre que podia, quando não estava fazendo shows, em turnê com a banda. Quando soubemos que iríamos ao programa foi um misto de emoções: alegria, receio, medo de pagar mico, mas também a certeza de que estávamos no caminho certo.”

PUBLICIDADE
Exit mobile version