Das poltronas: a boca do palco com seus 9,30 metros de altura e 12 metros de largura arrematada por uma máscara de cujos olhos e boca surgem uma desconcertante luz vermelha. Do palco: mais de 1.800 assentos, distribuídos em três pavimentos, incluindo os camarotes e rodeados por detalhadas pinturas de Angelo Bigi. Habituados a ocupar as cadeiras reservadas aos espectadores, o público que adentrar o Cine-Theatro Central nesta terça, 7, às 18h30, não entrará pelas portas principais do maior teatro da cidade, mas a pequena entrada lateral que dá acesso ao palco. O projeto Palco Central, que estreia convidando a banda Blend 87, desloca a plateia para onde os artistas fazem suas apresentações, oferecendo uma nova ótica do local e uma incomum experiência cênica.
“Todo mundo vai compartilhar o espaço do palco. A plateia, agora, será nosso cenário. O teatro estará aceso, mas para que as pessoas contemplem o lugar de outro ponto de vista”, comenta Luiz Cláudio Ribeiro, o Cacáudio, diretor da casa. “O Central como cenário já foi muito falado, mas só agora ele se torna cenário de fato. A arquitetura do lugar vai ser a protagonista”, pontua Vinícius Steinbach, tecladista e escaletista da Blend 87. “É um convite a desconstruir o espaço consagrado, que virou uma entidade. Ser convidado para fazer isso é uma honra e um desafio enorme. Além da nossa expectativa enorme de tocar no Central, tem a expectativa do próprio projeto. Esse lugar faz parte de nosso DNA. Vimos nossos ídolos tocando no Central, como o Milton Nascimento, o Caetano Veloso. Vamos tocar no mesmo palco que eles!”, comemora o músico.
De seus mais de 1800 lugares, o gigante teatro passa a 80. E curiosamente, torna-se mais acessível. “A questão é ter outra via, para artista e público. É uma interação, não só com o espetáculo, mas com o próprio ambiente”, resume Cacáudio, também músico, conhecedor dos dilemas e alegrias da classe artística local. “Trocando ideias com outros colegas, e numa conversa com o Fred Fonseca, falávamos da necessidade de ocupar o espaço público de outras maneiras. Os artistas da cidade que necessitam de um espaço como o nosso, com uma infraestrutura de luz e som, às vezes não tem a condição de ocupar 1.800 assentos do teatro. Pensamos, então, em como ter um melhor aproveitamento do equipamento”, explica o gestor, certo da urgência em potencializar o caráter público da casa coordenada pela Pró-reitoria de Cultura da UFJF.
A ocupação do Central ganha novos contornos ainda, com o horário do evento que pretende atrair o público superlativo que passa pelo local ao sair do trabalho. “Esse é outro objetivo: propiciar para as pessoas que trabalham ou passem pelo centro, usufruir de um espetáculo num horário mais cedo, gratuito. Isso é se apropriar de um teatro público”, reforça Cacáudio, que já tem programadas as atrações das primeiras terças-feiras dos meses que restam a 2018. “Estamos com inscrições abertas para artistas que queiram integrar o projeto no próximo ano”, diz. “A ideia é que num mesmo dia, num futuro próximo, possamos ter manifestações artísticas diferentes, mesclando artes plásticas e música, por exemplo”, acrescenta ele, pontuando trabalhar, em paralelo, para a liberação do Balcão Nobre, camarotes e galeria do teatro, que o Corpo de Bombeiros orientou restringir o acesso até a liberação do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). “Devemos resolver essa pendência ainda esse ano. Esperamos estar com o teatro em pleno funcionamento até o ano que vem”, observa.
Ainda mais intimista
E não é só a voz doce da vocalista Bruna Marlière que parece aquecer. Toda a sonoridade da Blend 87 é um interessante antídoto contra o frio dos últimos dias. E o clima de intimismo – genuíno na banda e imperativo para o projeto Palco Central – se avoluma com set acústico que a banda prepara para a apresentação desta terça. “A gente é, naturalmente, uma banda intimista, apesar de ter rock’n’roll no nosso show. Dessa vez vamos dar uma desconstruída no nosso show”, ressalta Vinícius Steinbach, que toca ao lado de Bruna, do baixista Douglas Poerner, do baterista Nathan Itaborahy e do violonista e guitarrista Renato da Lapa.
No repertório do espetáculo, estarão as músicas do álbum “Concebido por acaso na Terra”, lançado no último ano, além de canções que denunciam as referências da banda. Não faltarão: “Para Lennon e McCartney”, de Fernando Brant, Márcio Borges e Lô Borges, “Ponteio”, de Edu Lobo e Capinam, “Sir Duke”, de Stevie Wonder, dentre outras. De fora do álbum recente, “Francisco”, feita para o filho de Vinícius (gestado no mesmo tempo do trabalho), entra para o show. Está na música a frase que serve de título para o disco. “A gravação do disco foi quase um parto. ‘Concebido por acaso na Terra’ é reflexo do que a banda viveu até o fim da gravação. O conceito do disco é o que a Blend era até aquele momento. Dali para frente buscamos outro caminho”, pontua o tecladista. Os novos caminhos estarão expostos no palco. Lado a lado com o público.
PALCO CENTRAL APRESENTA BLEND 87
Nesta terça, 7, às 18h30, no Cine-Theatro Central (Praça João Pessoa s/n – Centro). Entrada gratuita, pela lateral do teatro