Coisa fácil, hoje em dia, é comentar sobre qualquer assunto na internet. Todo mundo tem opinião para tudo, e também encontra na rede mundial de computadores espaço para colocar seus sentimentos para fora. Difícil, às vezes, é fazer isso por meio da música, ainda mais porque nem sempre é fácil encontrar local e público com olhos e ouvidos atentos. Mas tem uma galera que não desiste e sabe que a união faz a força, e são eles que dão a largada para a primeira edição do Circuito Regional Autoral, que vão ocupar o Galpão Lounge e Bar pelos quatro próximos domingos mostrando que há muita vida, corações, mentes, versos e melodias querendo se expressar. Serão 20 artistas no total – cinco por semana – com a rodada inicial ficando por conta dos locais Vivenci, Glitter Magic, The Basement Tracks e Subefeito, além dos forasteiros do The Black Bullets, vindos diretamente de Valença (RJ). Sons e estilos diferentes para agradar à vasta fauna de fãs das inúmeras vertentes da música, que poderão assistir a todas as atrações sem gastar um tostão dos bolsos.
A ideia de realizar o evento veio das cabeças de dois integrantes do Glitter Magic, Luqui Di Falco e Rhee Charles. Segundo Luqui, era um projeto que vinha sendo pensado há tempos para ocupar espaço no segundo semestre, já que a primeira metade do ano costuma ser dedicada a outro festival, o JF Rock City. “Achamos que houve um momento oportuno este ano, com toda a movimentação que vinha rolando na cidade, e iniciamos o projeto em setembro”, conta Luqui. O passo seguinte, além de conseguir apoiadores para a empreitada, foi abrir a inscrição paras as bandas interessadas, cujo primeiro e fundamental requisito fosse ter material autoral e não tocar nenhuma, mas nenhuma mesmo, versão de outros artistas no festival.
“Tivemos cerca de 250 inscrições, sendo aproximadamente 130 de artistas que não eram de Juiz de Fora. Muitos dos que se inscreverem têm potencial, então dois dos fatores que tivemos que pesar foram a quantidade e a qualidade do trabalho”, destaca. “Mas também observamos outras questões, como se o artista ou a grupo é ativo nas redes sociais, interage com os fãs, se costumam fazer shows com frequência ou não têm disposição para tocar. Precisávamos encontrar quem estivesse realmente na ativa até mesmo para ajudar a promover o evento, chamar o público. Espero que isso sirva de estímulo para essa galera produzir mais material autoral, mas que não seja apenas gravar e colocar o MP3 na internet”, acrescenta.
Apesar de receberem inscrições de diversas partes do país, Rhee Charles e Luqui Di Falco mantiveram-se firmes no conceito de “regional” do evento e estabeleceram um raio de 200km (exceção feita às capitais) para definir os convidados além de Juiz de Fora, sendo um por domingo. Os escolhidos foram – além de The Black Bullets – Doisó, de São João Nepomuceno; Jane, de Santos Dumont; e Lexusa, de Ubá. Sendo ou não de Juiz de Fora, o Circuito Regional Autoral não se prendeu apenas ao rock e seus subgêneros, abrindo espaço para a MPB, o reggae e o pop na sua escalação. “Estamos tentando essa mistura de público há algum tempo, para acabar com essa segmentação. Por mais que parte do público não goste de um determinado estilo, ele sabe quando a banda é boa”, acredita. “O importante é que quem está ali vai a fim de ouvir a música autoral da região.”
Faça-você-mesmo, mas com aquela ‘força’
Como de boas intenções o mundo e outros planos da existência estão cheios, não basta apenas ter a ideia e acreditar que tudo vai cair do céu. É preciso, além do faça-você-mesmo, contar com o apoio de quem acredita na causa do fortalecimento do movimento musical juiz-forano, o que permitiu ter o espaço do Galpão de forma gratuita, além do restante da estrutura necessária. As bandas, por exemplo, abriram mão do cachê justamente para terem o retorno, no futuro, por já serem mais conhecidas do público. Como bônus, cada artista terá um videoclipe ao vivo de uma das canções apresentadas. “A gente tem um relacionamento ótimo com casas de shows, fornecedores, e eles apoiaram a ideia. Teremos um gasto pequeno, que vamos assumir. É apostar no futuro, ser mais conhecido e ter oportunidade de tocar em outros eventos. A casa vai abrir de graça nos quatro domingos, mais vai ganhar com a venda do bar”, diz Luqui, ressaltando que haverá uma barraquinha em que a plateia pode contribuir com o valor que desejar para gerar um cachê simbólico para as bandas, que será dividido ao final do evento.
Luqui espera que o Circuito possa voltar novamente no próximo ano, também no segundo semestre, mas com uma situação melhor que a atual, em que artistas autorais ainda encontram dificuldades para apresentar suas músicas. “Geralmente conseguimos mais espaço em situações especiais, quando estamos fazendo um lançamento. Mas, ao mesmo tempo, há locais em que o público de rock, por exemplo, não vai, devido a fatores como preço ou estilo da casa, e alguns são muito grandes para determinadas bandas. Ficamos reféns dessa situação, porque o público nem sempre compra o autoral. Mas temos visto o movimento crescendo, com as bandas se unindo, fazendo eventos juntas. Por isso este nosso trabalho a longo prazo, atualmente, é muito melhor que algum tempo atrás.”