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Degradação no entorno do Central se acentua na pandemia

(Foto: Fernando Priamo)

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À luz do dia, um homem sob um cobertor acende uma fogueira na escadaria do Cine-Theatro Central. Recorrente, a cena ilustra a degradação crescente, social e urbana, enfrentada no entorno do prédio. E, ainda, o iminente risco para o próprio morador de rua, aos transeuntes e ao bem tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, e pelo município. Proprietário de um café ao lado do teatro, na Galeria Azarias Vilela, Hugo Frade afirma que a deterioração se acentuou durante a pandemia. “Já era um problema antes, de todo o entorno, mas se agravou”, observa ele, que ao iniciar sua jornada diária precisa limpar o quiosque onde ficam algumas de suas mesas e onde encontra preservativos usados, material para consumo de drogas e dejetos.

Risco: homem acende fogo sob o cobertor na porta do Central, diante do Calçadão. (Foto: Fernando Priamo)

“Tinha uma família morando ali (na marquise da Rua São João), montando estrutura com carrinho, cabana. Eles fazem comida durante o dia, com fogareiro e muito material para reciclagem que reúnem. A cabana foi retirada semana passada, mas na porta do teatro tem muitas pessoas usando drogas, de dia e de noite. A nossa galeria tem virado um local de consumo de drogas e ponto de prostituição”, narra Frade, acrescentando ao cenário o recente assalto a uma relojoaria da região, numa manhã de domingo.

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Para Eduardo Sotto Maior, proprietário de uma ótica na Galeria Ali Halfeld, na outra lateral do teatro, todos os dias as galerias são lavadas pelo Demlurb, o que reduz o odor do entorno do prédio, feito de latrina durante as noites. “Fiz uma mudança de loja e por um período grande fiquei até mais tarde, entre meia-noite e uma hora da madrugada. Tem muito uso de drogas, e eles fazem fogueira ao lado do Central. Não tem fiscalização à noite. É uma coisa horrorosa”, reforça o empresário que, em parceria com os comerciantes vizinhos, reforçou a iluminação da área.

Pichações tomam conta das paredes do prédio tombado pelo Iphan e pelo município; nos últimos quatro anos, prédio foi pintado cinco vezes. (Foto: Fernando Priamo)

Problema social
Dona e gestora do Cine-Theatro Central, a UFJF reconhece a situação. “Assim como há crise na saúde e na economia, há uma crise social agravada pelo atual contexto, resultando em um grande número de pessoas em situação de rua. O entorno do Cine-Theatro Central, que possui marquises, está sendo ocupado por esses cidadãos, que trazem materiais inflamáveis e fazem uso de fogareiros, o que, de fato, pode ser um risco tanto para o patrimônio quanto para eles mesmos. Assim, a direção do Cine-Theatro tem realizado, por telefone e por ofício, constantes pedidos de intervenção ao setor de Abordagem Social do município, a fim de que seja realizado o devido acolhimento desses cidadãos que se abrigam nos arredores do teatro”, pontua a assessoria de imprensa da Pró-Reitoria de Cultura, responsável pelo imóvel.

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Cena da fachada do Central na Rua São João. (Foto: Fernando Priamo)

A urgência da resposta
O que está em jogo, de acordo com o empresário Hugo Frade, além do risco ao patrimônio e às pessoas, é a custosa revitalização que a área conquistou nos anos recentes. “Tudo o que conseguimos aqui, entre os restaurantes e o comércio em geral, que revitalizaram a região, está sendo perdido”, lamenta, dizendo já ter feito solicitações à Abordagem Social da Prefeitura e até protocolado reclamação no Espaço Cidadão. “Eles se comprometeram a fazer uma atuação mais sólida. Vimos a atuação, mas não houve solução”, aponta.

O mesmo gesto foi realizado pela universidade. A Pró-Reitoria de Cultura encaminhou no último dia 19 um ofício à Secretaria de Desenvolvimento Social solicitando ação efetiva no entorno do prédio. Questionada sobre sua política de prevenção a incêndio e redução de riscos, a pró-reitoria que administra a casa afirmou oferecer treinamento de combate a incêndio a toda equipe, hoje com parte atuando de forma remota _ permanecem no local equipe de vigilância, porteiros e zeladores. “Todos os funcionários efetivos e terceirizados estão aptos a agir no caso de uma emergência. O teatro realiza revisões em termos de redução de riscos, avaliação e manutenção preventiva nas instalações e nos equipamentos necessários para uma eventual ação. Da mesmo forma, é feita uma revisão preventiva nas instalações”, assegura a assessoria de imprensa da unidade.

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Em nota, a assessoria de comunicação da Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS) afirma ter ciência da situação. “Inclusive, nesta terça-feira (3), foi realizada ação conjunta – que envolveu SDS, Semaur, Guarda Municipal, Polícia Militar, Demlurb e a equipe da Abordagem Social – onde verificaram a situação do local, orientaram e ofertaram serviços da assistência social às pessoas em situação de rua”, limita-se o texto.

Cresce número de pessoas em situação de rua no entorno do Central: problema social foi agravado na pandemia. (Foto: Fernando Priamo)

Marcas da degradação
Os registros da degradação do entorno também estão presentes nas paredes do Cine-Theatro Central. São muitas as pichações no local. Segundo informações da Pró-Reitoria de Cultura da UFJF, apenas nos últimos quatro anos o prédio passou por cinco pinturas para cobrir pichações nas portas e paredes. Nesse período, de acordo com a assessoria de imprensa da Funalfa, não foi preciso que a Divisão de Patrimônio Cultural, que fiscaliza os bens tombados do município, notificasse a universidade, que rapidamente agiu pela conservação do prédio. Dessa vez, no entanto, a pandemia agravou o quadro, ampliando o número e a frequência das marcas indesejadas. “O espaço e seu entorno ficaram mais vazios, o que favoreceu a ação dos pichadores. Quando o teatro, os bares e as lojas estão funcionando, a preservação do patrimônio é facilitada. Acreditamos que com o retorno das atividades e do movimento nas ruas ficará mais fácil fazer essa manutenção”, aposta a instituição federal.

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