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EX-COROINHA, FALCONI fundou com amigos, em 1987, no Cascatinha, a Fundação Espírita Allan Kardec, que se destaca pelo impactante trabalho social OLAVO PRAZERES

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Palestrante, terapeuta holístico e militante espírita, Falconi fala do ‘império do bem’ construído ao longo dos anos

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125 toneladas de alimento não perecível. Num ano proclamado como um dos mais críticos na história brasileira recente, é extremamente valiosa a mobilização de uma instituição na coleta de alimentos, feita em supermercados juiz-foranos, tudo a ser doado para famílias carentes. Muitas delas. A mesma casa já recebeu 1,4 milhão de ligações de pessoas angustiadas, via telefonema para o S.O.S. Preces. Por trás da fundação que oferece o alimento que mata a fome e a palavra que mata a solidão, estão 550 voluntários, dentre eles um homem de 62 anos, cabelos embranquecidos e raspados, voz firme e fala rápida numa oratória invejável. Armando Falconi Filho acreditava quando, ao lado da então esposa Kátia e de amigos, criou a Fundação Espírita Allan Kardec (Feak). Acredita no hoje, diante de uma solidariedade expressa em toneladas. E acredita no amanhã. Com um discurso encantado, não deixa quem está ao lado sem acreditar. Eu acredito, tu acreditas.

“Em 2010, recolhemos 181 toneladas de mantimentos. Nosso recorde. Ano passado recolhemos 154 toneladas. Este ano, com todos os desafios que passamos, chegamos a 125 toneladas, só no Natal, fora as campanhas que fazemos, de agasalhos e cobertores”, orgulha-se Falconi, enquanto mostra a sede da instituição, no Bairro Cascatinha, minutos antes de iniciar sua palestra pública na última quinta-feira, às 14h30. “Desde o princípio, fomos orientados (pelos espíritos) a fazer do Departamento de Assistência e Promoção Social, que quase todo centro espírita tem, um trabalho voltado para gestantes carentes. Inicialmente eram cinco, depois dez, hoje já assistimos milhares de mulheres grávidas, de todos os bairros da cidade”, conta.

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“Por orientação dos espíritos, também começamos a frequentar a Colônia Padre Damião, de hansenianos, entre Tocantins e Ubá. Todos os meses vamos lá, há mais de 20 anos. Por orientação de Irmã Clarissa, benfeitora espiritual da casa, temos um trabalho na Ascomcer, visitando todos os quartos aos sábados”, enumera, dizendo ainda do serviço telefônico, implantado desde 1994 e atendendo das 8h às 24h, além da web rádio Evoluir, de 2013, com mais de 200 mil internautas de 111 países, dentre outros projetos assistencialistas, que ofertam palavra e pão. Um império do bem. “Uma colméia de luz.”

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“A boca fala do que está cheio o coração.” Falconi é o bem que pratica e fala? “Quem me vê falando acha que sou um espírito de alta hierarquia, mas não. Não tenho compromisso de ser o que esperam que eu seja. Allan Kardec resume isso numa frase: ‘Seja hoje melhor do que foi ontem, para ser amanhã melhor do que é hoje’. Não concorro com ninguém, só comigo mesmo. Preciso ser melhor, sempre”, diz o homem que desde pequeno mantém uma “curiosidade saudável, não sádica”. “Sou natural de Astolfo Dutra, a 120km daqui, de família católica. Minha mãe e minha avó eram catequistas. Aos 6 anos, fui ser coroinha e permaneci até os 11. O padre da cidade se chamava João Batista Vercadi, uma pessoa muito severa, muito firme, um benfeitor. Comecei a apertá-lo: ‘Padre João, se para Deus tudo pode, porque tem rico e tem pobre, pessoa sã e pessoa louca, tem perfeito e tem aleijado?’ Fui apertando, e ele dizia que era dogma. E ele me disse que para conhecer os segredos de Deus tem que se tornar sacerdote. Falei, então, que seria sacerdote. A notícia se espalhou pela cidade e foi uma festa. Minha mãe começou a preparar o enxoval para o seminário, e um batedor de sola da oficina de meu avô, que era sapateiro como o meu pai, me perguntou: ‘Armandinho, o que leva um menino a ser sacerdote?'”, conta Falconi.

Ainda criança, Falconi disse ao funcionário do avô que ansiava por respostas e não se bastava com metades, gostaria de saber os dogmas em sua completude. “Ele quis saber das minhas perguntas e respondeu todas elas como uma luva feita sob medida para a minha mão”, conta ele. O homem, espírita de longa data, acabou por apresentar a Falconi um caminho. Por ele, o jovem levado à Fazenda Paraopeba – hoje submersa pelas águas do Rio Pomba -, um dos dois centros espíritas da pequena cidade, onde ele conheceu o fazendeiro maçom Matheus Fernandes Fraga. “Ele trabalhou 42 anos na mediunidade, dos meus 15 aos 23 anos foi meu orientador na área da mediunidade. Desde pequeno, eu via e conversava com os espíritos. Passei, então, a frequentar reuniões de estudos e fazer comentários do evangelho”, recorda-se ele, que na adolescência foi para o Rio de Janeiro estudar medicina tradicional chinesa, sem, contudo, perder os laços com o espiritismo. Em 1979, mudou-se para Juiz de Fora, onde fundou o Centro de Cultura Oriente Ocidente, a primeira clínica de medicina tradicional chinesa do estado. Dois anos mais tarde, casou-se com Kátia e, no ano seguinte, teve sua primeira filha, Amelie Gabrielle (hoje médica anestesista), mesmo nome da mãe de Kardec.

Graduado em direito no mesmo ano em que nasceu o segundo filho, Armando Neto, hoje um fisioterapeuta de 29 anos, Falconi fundou com a esposa Kátia o Centro Espírita Joanna de Angelis. Anos mais tarde, inaugurou a Feak, que do aluguel passou para um lote próprio, doado por um casal amigo, o que exigiu a mobilização dos voluntários para dar conta da construção. Como a vida espiritual, a vida profissional também prosperou. “Tenho minha profissão, sou terapeuta naturalista, orador motivacional, viajo o Brasil e o mundo fazendo palestras e workshops para empresas. É lá que ganho meu dinheiro, não aqui”, afirma o homem que ministra cursos de oratória, programação neurolinguística, hipnose, coach empresarial, leitura fotográfica, fitoterapia e muitas outras especificidades. Falconi também apresenta o quadro “Terapia alternativa”, toda segunda-feira, às 11h20, na rádio CBN/JF. O ânimo, garante, é resultado da ingestão de 28 cápsulas de ervas medicinais, meditação diária, além da prática de lutas marciais, musculação e, até, zumba. “Faço uma campanha constante antitabaco, embora tenha sido o dinheiro do fumo que pagou meus estudos, já que meu pai, quando acabou com a sapataria, abriu uma tabacaria. Também faço campanha antiálcool, que mata tudo o que está vivo e conserva tudo o que está morto”, fala, com o indicador em riste. Convincente, como sempre. De onde vem o dom da palavra? “Faz parte do meu programa encarnatório. Não tinha compromisso, nessa encarnação, com a palavra escrita. Vim para a palavra falada. Desde cedo, falo na doutrina espírita, e, por onde passei, a palavra sempre foi meu instrumento”, comenta ele, cuja expressão escrita surgiu em 2005, com o livro “Perda de pessoas amadas”, resultado de quatro dolorosas perdas: a tia, em maio; o pai, em junho; a mãe, em julho; e a esposa, em agosto. Casado novamente e pai de Alice, de 4 anos, o autor de “Perdão gera saúde” profere, no mínimo, 20 palestras e dois seminários por mês. Todos os dias ainda publica vídeos em sua conta no YouTube, que soma mais de 23 mil inscritos e mais de 3,5 milhões de visualizações. “Faço parte de um grupo de MasterMind, com pessoas que pensam fora da caixa. Nosso lema é: quando a maré sobe, todos os barcos sobem junto”, explica Falconi, o homem cheio de palavras de bem. “Gosto de falar, na frente da câmera, diante de um gravador, ou batendo papo com Alice, sentado no chão ou numa banheira fingindo que ela está cheia de água para dar banho nas bonecas.”

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