“Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. A célebre expressão atribuída ao cineasta Glauber Rocha (1939-1981) pode fazer pensar que a produção do audiovisual pode sempre se garantir na genialidade e capacidade de improviso – ou fazer muita gente confundir desleixo e falta de talento com “personalidade”. Mas a realidade pode ser bem diferente, afinal nem todo mundo é Glauber Rocha e nem todo público pode entender uma mensagem hermética nos 24 frames por segundo. É preciso trabalhar o argumento da história, o roteiro, pensar o formato, o público, mil coisas. É com esta ideia na cabeça que o pessoal do Luzes da Cidade e a Insensatez Audiovisual realizam a partir desta terça-feira (7), na Escola de Artes Pró-Música, a primeira edição da Semana do Audiovisual Primeiro Plano, com uma série de atividades para os realizadores da sétima arte.
A programação prossegue até sexta-feira (10) com laboratórios temáticos de roteiro e argumento (com projetos já selecionados) e painéis e conversas com especialistas do audiovisual, em que os interessados em geral ainda podem se inscrever. Como ninguém é de ferro, o evento encerra no sábado (11), às 22h, no Muzik, com show do projeto Rocktrackers, com músicas que marcaram a história do cinema.
De acordo com uma das responsáveis pela organização do evento, Marília Lima, a ideia da Semana Audiovisual Primeiro Plano é resultado de um laboratório de curtas realizado em 2017 por meio da Lei Murilo Mendes, em que houve uma participação expressiva e o recebimento de muitos roteiros. “Sentimos a necessidade de mais eventos para a produção de roteiros, e a Semana do Audiovisual vai ser dedicada a isso”, explica, acrescentando que “é importante também pensar a criação do roteiro voltado para o mercado, que não seja distante do entretenimento, do espetáculo. É uma necessidade pensar o cinema desde sua base. Temos uma demanda de produção de bons roteiros e poucos laboratórios dedicados a isso, não só em em Juiz de Fora mas no Brasil todo.”
Quase cem inscrições para os laboratórios
Prova dessa demanda está na quantidade de inscrições, num total de 98. Foram apresentados 56 roteiros, dos quais 12 foram selecionados para o laboratório dedicado ao tema; para o de argumentos, nove dos 46 inscritos foram selecionados. Ao final dos laboratórios temáticos, haverá um prêmio de incentivo de R$ 10 mil a ser dividido entre um roteiro e um argumento, sem a obrigatoriedade de executar os projetos com este valor.
Segundo Marília Lima, os laboratórios acontecem na parte da manhã. Além das orientação aos participantes, serão analisados os roteiros no que diz respeito ao desenvolvimento dos personagens, entre outros tópicos, tendo em vista também a visão do mercado e pensando qual seria o público para a história. Quanto ao argumento, Marília explica que ele apresenta a ideia do filme, um texto corrido com as ações sequenciadas e toda a noção da história, em que posteriormente o roteirista trabalha o diálogo e as situações. “O argumento apresenta a história toda, porém resumida, sabendo como são os personagens, como a trama se resolve. O laboratório tem por objetivo ajudar a orientar como desenvolver o argumento, trabalhar melhor os personagens, que podem ser mais ambíguos, fechados. A preparação do argumento é fundamental para o desenvolvimento do roteiro.”
O laboratório de curtas será ministrado pelo professor Nilson Alvarenga, da Faculdade de Comunicação da UFJF, e Gabriela Liuzzi Dalmasso, especialista em roteiro cinematográfico, sócia da Aiuri Filmes e diretora do Festival de Roteiro Cinematográfico ROTA. Já o laboratório de argumentos terá como responsáveis o diretor e roteirista Allan Ribeiro, que tem no currículo os filmes “Mais do que possa me conhecer” e “Esse amor me consome”, e a série “Noturnas”, no Canal Brasil; e a diretora Lívia Perez, do curta-metragem “Quem matou Eloá?” e do documentário “Lampião da Esquina”.
Painéis sobre cinema e séries
Já os painéis, conversas e debates acontecem na parte da tarde a partir de quarta-feira (8), abertos ao público em geral e com inscrição a R$ 70. “Neste caso, pensamos em questões ligadas à parte teórica e de roteiros”, diz Marília. “Teremos também painéis para roteiros e linguagem de séries, que atualmente têm muita demanda, e sobre financiamento de roteiros.”
Os painéis abrangem temas como questões éticas e estéticas no documentário, roteiro e mercado audiovisual e estrutura de roteiro para longas de ficção, entre outros. Dentre os nomes convidados estão os professor de roteiro e roteirista da TV Globo Pedro Riguetti; a diretora de documentários Beth Formaggini, com trabalhos como “Angeli 24h” e “Xingu, Cariri, Caruaru, Carioca”; o diretor, roteirista, ator e dramaturgo Fidelys Fraga; a roteirista e escritora Monica Solon; a roteirista, jornalista, atriz e professora no curso de pós-graduação em roteiro da FACHA Dani Reule; a jornalista e roteirista Laura Barile, que trabalhou na equipe da série “GabyEstrella”; e o roteirista, consultor e professor Gustavo Moraes, que tem no currículo a consultoria no roteiro do filme “Paraíso perdido”, de Monique Gardenberg, co-autoria do roteiro do documentário “Moda sem medida” para a Fashion TV e criação de projetos para o BingerFilmLab, na Holanda, e Berlinale Talent, na Alemanha.