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Singulares e plurais

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Do close em preto e branco à panorâmica cheia de cor e vida, todos são iguais em suas diferenças ao buscarem se integrar a um grupo. É o que se pode observar nas duas séries do fotógrafo paulistano Bob Wolfenson, que fazem parte da exposição “O indivíduo e a multidão”, com abertura nesta sexta-feira na Estação Ponto de Partida, em Barbacena, permanecendo no espaço cultural até 1º de maio. Wolfenson estará presente no evento desta sexta, onde realizará uma visita guiada e também participará de um bate-papo no sábado, às 11h, no mesmo local. Os dois eventos são gratuitos, mas a entrada será mediante senha, que já pode ser obtida no local da exposição.

Para a exposição – a primeira de Wolfenson em terras mineiras – foram selecionadas obras de duas séries do fotógrafo. Uma delas é “Retratos”, que reúne trabalhos realizados entre 1976 e 2013 com artistas como Fernanda Montenegro, Caio Fernando Abreu, João Cabral de Melo Neto e Hélio Oiticica, todos em preto e branco. A segunda série, “Nósoutros”, é mais recente e surgiu do acaso: o fotógrafo passeava por Coney Island, nos arredores de Nova York, quando fotografou com uma pequena câmera um grupo de anônimos que aguardava para atravessar a rua. Ao rever as fotos em casa, no seu computador, veio o estalo para o novo trabalho. “Coney Island é um lugar um pouco óbvio para o fotógrafo, todo iniciante vai lá por conta dos freaks e pessoas exóticas que ficam por ali, te dá uma espécie de ‘aprovação’. Esse approach não me interessa, mas aquele grupo de pessoas singulares, que estavam no mesmo grupo por estarem atravessando a rua, me ajudou a decidir qual seria meu próximo trabalho.”

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Não seria algo “menor”. Wolfenson comprou uma máquina fotográfica de alta definição para realizar o que considera “um trabalho grandioso”, em várias cidades do mundo e que pudessem ser observadas as características intrínsecas de cada um, resultando em painéis que chegam a ultrapassar os sete metros de largura. A série foi se desenvolvendo sem um planejamento prévio, dependendo do local para onde Bob teria que viajar a trabalho e sem um local pré-definido. A única premissa seguida desde o início é de que as fotos fossem feitas em cruzamentos. O resultado é uma série de fotografias em 15 cidades diferentes ao redor do planeta, passando por cidades como Nova York, Hong Kong, Londres, Paris, Barcelona, Macau, Los Angeles, Miami, Marrakesh, Cidade do México, entre outras.

“A série foi crescendo meio que sozinha. Por mais racional que seja o conceito a rua é viva e oferece a sua vivacidade. Não tem uma foto que seja igual a outra, as grandes cidades do mundo são um caldeirão étnico”, diz, dando como exemplo as fotos em Marrakesh, no Marrocos, onde é possível ver muitas mulheres com véus; os orientais em Honk Kong, na China; os judeus ortodoxos em Nova York; ou a população com traços indígenas na Cidade do México. “Quando os lugares têm uma característica étnica muito forte, você depende do extrato social onde a fotografia é feita. Não quis dar conta do aspecto social ou científico; a escolha dos locais foi fortuita, simplesmente procurava onde havia mais gente”, explica.

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Um artista ‘em trânsito’

‘Retratos’ reúne fotografias em preto e branco com personalidades feitas por Bob Wolfenson entre 1976 e 2013 (Foto: Júlia Marcier/ Divulgação)

“Retratos”, por outro lado, é vista por Bob Wolfenson como uma retrospectiva, pois se trata de um trabalho que perpassa quase três décadas e para o qual nunca teve uma ideia própria. “É mais uma retrospectiva de encontros em que fui colocado diante dessas pessoas por desejo meu ou questões profissionais. Nunca tive uma premissa fixa; ora quero fazer algo mais próximo, ora mostrar onde a pessoa vive. Cada uma tem uma história. Elas até se parecem, mais pela forma como eu conduzia os trabalhos. Hoje (ontem) estava fazendo umas fotos do Lázaro Ramos para um livro dele, mas vou um pouco ao sabor dos acontecimentos. O retrato é um encontro de personalidades, com as constantes como a máquina fotográfica, a luz, o resto é um pouco mais ver como acontece”, diz o fotógrafo, definindo a diferença entre os dois trabalhos. “As fotos pessoais de ‘Retratos’ são mais melancólicas, fechadas, e as de ‘Nósoutros’, na rua, são mais festivas, é um processo de fazer o oposto. Se pudesse fazer um paralelo com a música, a primeira é acústica, e a segunda, sinfônica.”

Com quase 50 anos de carreira, Bob Wolfenson já realizou – além de seus trabalhos artísticos – ensaios de moda, publicitários e para revistas como a “Playboy”, incluindo ensaios marcantes como o da atriz Maitê Proença. Para ele, é importante atuar num espectro fotográfico o mais amplo possível. “Eu advogo a ideia de transitar, e eu me sinto em trânsito graças à fotografia. Não seria um fotógrafo se não pudesse ser todos os fotógrafos que existem em mim. As duas séries dessa exposição acabam sendo um contraponto do outro, a possibilidade de que o outro exista. Eu tenho essa necessidade profissional de poder andar pra lá e pra cá, sejam trabalhos de moda, publicidade, com as pessoas”, encerra Bob Wolfenson.

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Para colocar Barbacena no mapa

Integrante do Ponto de Partida, Júlia Medeiros é a idealizadora e uma das produtoras do evento. Segundo ela, um dos elementos facilitadores para a primeira exposição de Bob Wolfenson em Minas ser em Barbacena é a ligação afetiva: Mariza, a esposa do fotógrafo, nasceu na cidade, que ele inclusive já visitou em outras oportunidades. “Quem fez a ponte foi a Silvinha Couto, que é cunhada do Bob. Estive na abertura da ‘Nósoutros’ na Galeria Millan (uma das parceiras para a realização da exposição em Barbacena), em São Paulo, e fizemos o convite para ele, que topou na hora. A princípio seriam apenas as fotos do ‘Retratos’, mas ele mesmo sugeriu que incluíssemos a nova série”, conta. “Pensamos em como juntar trabalhos tão diferentes na estética quanto conceitualmente, e daí surgiu o conceito de ‘O indivíduo e a multidão’.”

Série ‘Nósoutros’ é a mais recente do artista, registrando anônimos em cruzamentos de 15 grandes cidades do mundo (Foto: Júlia Marcier/ Divulgação)

Júlia destaca, ainda, a importância de levar uma exposição do gênero até Barbacena. “Sempre tivemos em mente que tanto nosso trabalho de criação quanto o de programação tivessem a qualidade que pudesse estar presente em qualquer centro cultural do mundo. Todos nós precisamos ter contato com trabalhos artísticos da maior qualidade, que sejam consistentes e originais, criativos. Acredito que temos que ambicionar estar entre os principais centros culturais do país, buscar oportunidades como essa. Temos o respaldo do grupo de teatro, com 36 anos de atividades, e a Estação Ponto de Partida está em atividade desde 2015. Isso facilita que os artistas tenham esse respaldo para apresentar seu trabalho aqui. É fundamental para a formação do ser humano, para que ele tenha mais capacidade de discernimento, boas escolhas, experiências humanas das mais lindas, como é o caso do contato com a arte.”

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Além de “O indivíduo e a multidão”, a Estação Ponto de Partida deve ter na sua programação, ainda este ano, uma exposição com o estilista Ronaldo Fraga. De acordo com Júlia, o convite já foi aceito e depende apenas de definir a data. “Não foi definida porque o Ponto de Partida estreia um novo espetáculo (ainda sem nome) provavelmente no primeiro semestre. A peça tem como tema a desumanização, de como temos nos tornado menos tolerantes, fraternais, com a questão dos exilados e refugiados, tão em voga atualmente, servindo de pano de fundo.”

BOB WOLFENSON – O INDIVÍDUO E A MULTIDÃO

Abertura nesta sexta-feira, às 20h. Visitação quintas e sextas-feiras, das 16h às 21h, e sábados, das 10h às 21h. Estação Ponto de Partida (Rua Luiz Delbem 80 – Barbacena). Até 1º de maio

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