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Mineiro vence maior concurso de dança urbana do mundo

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Vitória inédita para o Brasil: Acompanhado pela australiana Nadiah Idris, Israel recebeu o troféu na categoria Dancehall (Foto: Divulgação)

Ao revisar um de seus mais importantes passos, Israel Alves recorre à presença das mulheres para dizer da origem de sua garra. A avó que lhe ensinou a andar, a mãe que lhe apresentou Juiz de Fora, a dançarina francesa que lhe mostrou um gênero da street dance e a australiana com quem formou a dupla considerada a melhor em uma das seis categorias do mais prestigiado concurso de dança urbana do mundo, o Juste Debout, cuja final aconteceu no último domingo (5), no AccorHotels Arena, em Paris. “Sempre tive as mulheres como exemplo. Minha mãe me teve muito nova, com 16 anos. Acabei tirando a adolescência dela, que precisou trabalhar, e eu ficava com minha avó. Por ela (a avó) ser deficiente física e não poder sair, quem cuidava, de fato, de mim era minha tia, quatro anos mais nova que eu. Uma criança cuidando de outra. Aos 10 anos, quando minha avó faleceu, fui morar com minha mãe, quando comecei a dançar”, conta.

Com as mulheres, a comunicação de Israel sempre foi mais fluida, mais fácil. Tanto que ao se deparar com Nadiah, mesmo sem verbalizar, soube dizer e ouvir. “Não falo nada em inglês. Nothing! Nem francês. E a Nadiah não fala português, só ‘arranha’ o espanhol. Fomos nos comunicando através do corpo, dos gestos, dos movimentos, além do Google Tradutor”, ri ele, referindo-se à dançarina Nadiah Idris, seu par na conquista do primeiro troféu de dança urbana para o Brasil. “Ela é uma mulher muito batalhadora que soube superar seus problemas e hoje dá aula em um dos melhores estúdios de Paris. É uma guerreira, e nosso encontro foi incrível.”

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(Foto: Divulgação)

Em seu 15º aniversário, o concurso Juste Debout escolheu os melhores dançarinos do mundo após seletivas em 12 países, semifinais acirradas e oito horas de show, tudo avaliado por um júri de peso, com gigantes da dança urbana como o coreano Boogaloo Kin e o norte-americano Jimmy “Scoo B Doo” Foster. De origem jamaicana, o dancehall, categoria de Israel e Nadiah, não teve seletiva brasileira, apenas francesa. Além do mineiro Israel, que conquistou o título inédito para o país, outros quatro brasileiros chegaram às quartas de final: Vitor Hamamoto (categoria experimental), Hugo Campos (house) e a dupla Renan e Jurandir (popping). Referências nacionais na dança, João Paulo e Black-A ficaram em segundo lugar.

“Em princípio, iríamos batalhar eu e o Mateus (dos Anjos). Mas por alguns contratempos ele não pode, e encontrei a Nadiah, uma australiana que está morando em Paris há três meses. Resolvemos nos juntar dois dias antes de o evento acontecer. Havia 40 duplas inscritas, de todos os cantos, e eu era o único brasileiro no dancehall. Dos 40, apenas oito foram selecionados para batalhar.”
Atreva-se!

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“Eu e Mateus dos Anjos, de Brasília, com Lucas Migliorini, de São Paulo, fomos convidados para participar do espetáculo ‘Dare to dancehall’ (Atreva-se no dancehall, em tradução literal), coreografado e dirigido por Laure Courtellemont. Ela é a precursora da cultura dancehall e mudou o curso da minha história ao me fazer enxergar o que eu tinha em mim. A primeira edição do show foi em Los Angeles, e a segunda, em Paris. Eu e Mateus tivemos o visto negado duas vezes para Los Angeles. Então, viemos para a França para a segunda edição”, diz Israel, após um dos muitos e exaustivos ensaios para a apresentação. Nem mesmo após a premiação, houve trégua na preparação da montagem com data agendada para 23, 24 e 25, no mais conceituado festival de dança urbana parisiense.

Tudo muito veloz na vida do jovem de 24 anos, morador do Bairro Santa Cruz, na Zona Norte de Juiz de Fora. Veloz como exigia toda a situação de vulnerabilidade na qual ele nasceu e cresceu. “Escolhi o hip-hop porque ele me acolheu. Ele tem essa força com quem se sente mais periférico. Se eu não estivesse nesse universo hoje, já teria me perdido por aí. A maioria dos meus amigos que estudaram na mesma escola que eu e passaram pela minha adolescência ou está preso ou já tem filho e precisa trabalhar”, emocionou-se Israel no perfil publicado pela Tribuna em julho de 2015, quando ele era um dos principais articuladores culturais do programa Gente em Primeiro Lugar, desenvolvido pela Funalfa.

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Integrante do grupo de dança urbana local Remiwl Street Crew, que pouco a pouco se destaca no cenário nacional, Israel carrega, hoje, a certeza de que o envolvimento com a dança lhe proporciona momentos solares, de prestígio e reconhecimento, ainda que financeiramente implique prova cruel. “Para chegar até aqui, custeamos tudo de nosso bolso, sem patrocínios, apenas com ajuda de familiares”, pontua ele, que chegou à capital francesa para outro compromisso. Ainda estou devendo parte da viagem e preciso de um patrocínio”, lamenta ele, um dançarino profissional, que saiu da periferia de Juiz de Fora para deixar iluminar-se pela Cidade Luz.

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