A existência do Museu Mariano Procópio pode ser também creditada a uma figura que, discretamente, foi importante para a cultura, memória e história de Juiz de Fora. Mulher de Mariano Procópio, com quem se casou em 1851, Maria Amália Ferreira Lage (1834/1914) foi mãe de Frederico e Alfredo Ferreira Lage, e incentivou o segundo a investir no colecionismo e na criação do Museu Mariano Procópio. Também colecionadora e artista plástica amadora, a matriarca da família pode ser um pouco mais conhecida graças à exposição “As diferentes facetas de Maria Amália Ferreira Lage”, aberta à visitação desde 29 de janeiro no vestíbulo da galeria que leva seu nome no museu.
A exposição reúne diversos itens do Departamento de Acervo Técnico (DAT) da instituição e que pertenceram a Maria Amália, tais como louças pintadas por ela, documentos (recibo de serviços prestados por um cabeleireiro que também serviu à família imperial, passaporte, catálogo de móveis que foram a leilão), cartas, fotografias e mobiliário, entre outros, além da réplica de um de seus vestidos, fruto de um projeto da professora Andrea Portela, do curso de design de moda do CES – e que foi o estalo para que a exposição fosse imaginada.
Tudo começou em 2011, quando ela procurou a instituição interessada na coleção de indumentárias pertencentes ao museu, com foco nas que pertenceram à família Ferreira Lage, para o doutorado em ciências sociais na UFJF, pesquisa que teve início em 2012 e já foi encerrada. “O objetivo era mostrar a importância do vestuário para entender nossa história, mostrar o que se usava aqui”, explica. Depois, Andrea iniciou no CES o projeto de iniciação científica “Réplicas em perspectiva”, que no início seriam réplicas em miniatura, mas depois percebeu que seria possível fazer uma réplica em tamanho natural. Para o projeto, ela contou com o auxílio das alunas Lorenna Pereira Lima, do quarto período, e Sylvia Cotta Pimenta, do terceiro período.
“Tentamos refazer o vestido utilizando o máximo possível das tecnologias da época, mas tivemos que fazer algumas adaptações pela dificuldade de reproduzir essas técnicas e também pelas diferenças no formato do corpo (como a cintura mais fina)”, lembra Andrea, ressaltando que foram necessários seis meses para concluir a roupa com a maior fidelidade possível à original, não se tratando de mera peça de figurino. Além da peça de vestuário, o trabalho rendeu um artigo científico ainda em avaliação.
Da academia para o museu
O “casamento” da pesquisa acadêmica com a ideia de exposição surgiu quando Andrea pediu autorização para um ensaio fotográfico no Mariano Procópio. “Foi muito feliz a ideia do museu de propor a exposição, porque temos a oportunidade de conhecer mais a respeito da história da Maria Amália por meio de todos os objetos”, salienta, acrescentando que sua ideia é doar a peça para a instituição quando a exposição for encerrada.
Assessor de comunicação do Museu Mariano Procópio, Vinícius Ribeiro conta que a instituição – ao ver o trabalho de Andrea – fez a proposta de parceria na exposição, incluindo a réplica do vestido com os objetos de Maria Amália que fazem parte do acervo. “Nós entramos em contato no final do ano, quando ela estava em vias de terminar o vestido, e sugerimos a exposição. A equipe técnica do museu passou a procurar no acervo elementos que se amarrassem ao conceito proposto pela pesquisa da professora, que era mostrar a mulher no século XIX, que no caso da Maria Amália era respeitada tanto por republicanos quanto pela família imperial, que incentivou a educação dos filhos no exterior, o Alfredo a ser colecionador. Era uma pessoa que, mesmo no luto, continuava ativa, solícita”, aponta Vinícius, destacando que a exposição serve também para mostrar como a instituição está aberta para pesquisas em diversas áreas.
O diretor do museu, Antônio Carlos Duarte, é outro a destacar a importância da figura de Maria Amália e analisa que a exposição vai além da importância histórica ao ajudar a entender a figura humana, seja na intimidade do lar, no cotidiano, nos momentos de viuvez. “A exposição mostra a face humana da pessoa que foi tão importante e que marcou época”, afirma. “E também ajuda a afirmar a identidade do Museu Mariano Procópio, que tem um patrimônio natural (o parque), material (o acervo), arquitetônico e também humano, representado pela família Ferreira Lage.”
AS DIFERENTES FACETAS DE MARIA AMÁLIA FERREIRA LAGE
Terça a sexta-feira, das 10h às 17h, no Museu Mariano Procópio (Rua Mariano Procópio 1.100 – Mariano Procópio)