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Grupo Galpão apresenta “Os Gigantes da Montanha” no Central

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Cena de “Os Gigantes da Montanha”, que será apresentado no Central com entrada franca (Foto: Divulgação)

A montagem de “Os Gigantes da Montanha”, do italiano Luigi Pirandello, pelo Grupo Galpão, trouxe uma novidade, que, até onde se sabe, nunca havia sido feita. O texto publicado em 1936 pela primeira vez foi montado para espetáculo de rua. O diretor Gabriel Villela foi convidado pelo grupo para dirigir sua terceira peça do Galpão. Ele também dirigiu “Romeu e Julieta” (1992), que fez o grupo rodar boa parte do mundo, passando inclusive pelo Shakespeare’s Globe, em Londres, e “Rua da Amargura” (1994), que narra a paixão de Cristo, seu nascimento, vida e ressurreição a partir do melodramático circo-teatro. “Ao colocar a peça na rua, Gabriel provoca a sensação de um grande delírio, um confronto entre a realidade do teatro com a vila encantada da história”, conta Inês Peixoto, atriz há 25 anos do Grupo Galpão, que interpreta a Condessa Ilse, uma das protagonistas do espetáculo.

“Os Gigantes da Montanha” é uma fábula trágica, que caminha entre a ideia de Pirandello de colocar o teatro dentro do teatro. A companhia mambembe, liderada pela Condessa, já tivera seus dias de glória, mas a última montagem foi um fracasso. O grupo de atores está em busca de público enquanto passa fome. Ilse é justamente a personagem que vive pela arte. “O Gabriel trabalhou a personagem como uma heroína trágica. Ela defende a ideia de que a arte tem que permanecer e também a resistência de uma companhia falida”, explica Inês.

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Eduardo Moreira, fundador do Grupo Galpão em 1982, faz o papel do Mago Cotrone. Durante a faculdade de Filosofia, envolvido com o teatro desde à escola e mais ainda no período universitário, se juntou aos atores Teuda Bara, Antonio Edson e Wanda Fernandes para dar prosseguimento a uma experiência que haviam tido atuando em “A alma boa de Setsuan”, do alemão Bertold Brecht. O encontro com dois diretores do Teatro Livre de Munique, em Belo Horizonte, para a montagem da peça, foi o marco inicial do grupo, que em 2017 completa 35 anos e passa por diversas cidades do Brasil. Em Juiz de Fora, o espetáculo faz parte da programação SESI no Palco.

Como trabalha com teatro de repertório, o Galpão está desde o início deste ano atuando em cinco peças completamente diferentes em linguagem, texto e proposta, demonstrando com clareza a heterogeneidade do grupo. Sai de um clássico de 1936 e vai direto para outro palco interpretar o texto contemporâneo de “Nós”, escrito em 2017 por Eduardo Moreira e Marcio Abreu, diretor deste mais recente trabalho do Grupo Galpão.

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“O Pirandello colocou o teatro de cabeça para baixo. ‘Os Gigantes da Montanha’ fala sobre qual é o lugar possível do teatro e da poesia em um mundo governado pelo viés econômico e pragmático”, explica Eduardo, que trabalhou junto a Gabriel na adaptação e na construção desta dramaturgia. Nesta fábula, o teatro decadente da Condessa Ilse chega a uma vila perdida, comandada pelo Mago Cotrone. Uma vila de pessoas que vivem sob o império do sonho e da imaginação, é como se estivessem em uma outra dimensão, a peça é totalmente influenciada pelo surrealismo, mas também desperta para esse choque entre o mundo dos sonhos e o realismo do grupo de teatro.

Qual o lugar do teatro hoje?

O texto de Pirandello é “viajado” justamente por ele estar em um leito de morte, já em delírios, enquanto escrevia. Inclusive, no próximo domingo (10), faz 81 anos de sua morte. Inês Peixoto evidencia que há nuances de uma representação do que ele mesmo passava enquanto artista e dramaturgo. Segundo ela, como Pirandello seguia com um trabalho pouco comercial, o texto pode retratar as condições de seu grupo naquela época.
“Os clássicos não são clássicos à toa, sempre têm algo a dizer na época em que são remontados”, comenta Inês sobre a atualidade da peça, diante de um ano em que vimos repressão e discursos de retrocesso em relação às mais diversas formas de arte. “A gente está em uma dimensão muito subjetiva da arte, o texto não tem referência direta, mas dá para perceber que esse é um problema que está sendo tocado. Em governos autoritários, a primeira coisa que destroem é a liberdade criativa”, comenta Eduardo.

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A peça nos desperta para este questionamento: qual o lugar da arte, da poesia, em um mundo tão pragmático, pouco sensível, com a cultura sendo vista como segundo plano ou pouco necessária? Até mesmo o Ministério da Cultura chegou a cair no Brasil, não é mesmo? “Teatro significa ‘a máquina de ver'”, define Inês. É um espaço livre, com diálogo aberto e muito próximo a quem o assiste, rompe as telas e impacta justamente por isso. Eduardo faz uma reflexão sobre o lugar desta arte hoje: “O teatro está se tornando mais necessário nesse mundo muito padronizado, governado por virtualidades. É a arte do encontro, do momento, de uma pessoa que representa e a outra que presencia. É cada vez mais fundamental porque propõe uma relação muito intensa naquele instante”.

O texto de Pirandello, adaptado pelo grupo, além de perpassar por questões políticas, foi montado com uma pegada muito popular, característica do diretor, com trilha ao vivo cantada pelo elenco, e foi concebido para a rua, o maior espaço de manifestação artística, capaz de chegar democraticamente a todos.

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Último ato

A última parte deste texto nunca foi escrita pelo autor italiano, ele morreu antes de finalizar e apenas contou a seu filho como gostaria que fosse o desfecho da história. A montagem sensorial do Grupo Galpão decide por explorar uma criação própria neste último ato. Os atores fazem as encenações seguindo o fim trágico sugerido por Pirandello, porém interrompem com a linguagem convencional e criam, aqui, um novo idioma: o gromelô. Essa escolha provoca no público, mais ainda, a sensação de estar em um mundo da imaginação, do surto de Pirandello. Assim é o grand finale, um grande delírio.

“Os Gigantes da Montanha”
Celebração aos 35 anos do Grupo Galpão. Nesta quinta-feira (7), às 20h, no Cine Theatro Central (Praça João Pessoa, s/n – Centro). Retirada de ingressos antecipada no dia 6, das 9h às 21h, no CCBM (Av. Getúlio Vargas 200), e no dia 7 na bilheteria do Central uma hora antes do espetáculo.

Bate-papo
Nesta quinta (7), das 9h às 11h, no Museu Ferroviário (Avenida Brasil 2001 – Centro)

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