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Festival de Música Colonial chega a 30 anos e encara retomada

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Mais antiga do Rio de Janeiro, Orquestra Sinfônica da UFRJ, criada há 95 anos, abre o festival este ano, no Cine-Theatro Central. (Fotos: Divulgação)

Trinta anos depois de iniciado um festival, o que resta de inédito? E o que ajudou a formar a trajetória de três décadas? Respondendo as duas perguntas, a organização Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga elaborou a programação que comemora os 30 anos do evento que projetou Juiz de Fora no circuito nacional e internacional, na rota dos festivais de inverno e no mapa da pesquisa acerca da música antiga. “A gente pensou nesse ano em fazer a comemoração dos 30 anos do festival. Para isso, pensamos em trazer concertos ainda inéditos, que não participaram do festival ao longo desse tempo, bem como pessoas que ajudaram a construir essa história”, confirma o supervisor do Pró-Música/UFJF e diretor do festival, Marcus Medeiros, apontando para os concertos de abertura e encerramento, que conjugam tanto o novo quanto o velho.

Inaugurando o evento que acontece entre os dias 21 e 28 de julho, a Orquestra Sinfônica da UFRJ, a mais antiga do Rio de Janeiro, apresenta-se às 20h, no Cine-Theatro Central. Moderno, o conjunto executa o repertório temático do festival, com música antiga, barroca e clássica. Já o encerramento fica por conta do Conjunto de Música Antiga da USP, orquestra de música antiga que utiliza instrumentos históricos. “O grupo da USP tem uma atuação muito relavente no cenário do Brasil e do exterior. É a primeira vez que eles executam obras de (Ludwig van) Beethoven, (Wolfgang Amadeus) Mozart e (Joseph) Haydn com instrumentos indênticos aos que foram utilizados quando essas músicas foram compostas”, assinala Medeiros.

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Anunciada esta semana, a programação do festival reúne concertos noturnos, todos precedidos por palestras, às 19h, ministradas pelo professor da UFJF Rodolfo Valverde. As apresentações estão projetadas para ocuparem o Cine-Theatro Central, o Teatro Paschoal Carlos Magno e o Museu de Arte Murilo Mendes. Pela primeira vez as igrejas locais não estarão entre os endereços do evento. “Priorizamos os teatros da cidade, porque oferecem uma plateia maior. É a primeira vez, por exemplo, que fazemos concertos no Teatro Paschoal Carlos Magno, retomando uma parceria com a Funalfa. O Teatro Pró-Música continua em reforma e o Paschoal foi uma boa solução. É importante ocuparmos esses espaços da cidade”, comenta o diretor do festival, que em mais um ano apostou em espaços populares, como o Shopping Jardim Norte, para sediar concertos vespertinos, que também acontecem no Fórum da Cultura e no Central.

Na quinta-feira do dia 25, às 16h, por exemplo, sobe ao palco do maior teatro da cidade o espetáculo “O carnaval dos animais”, no qual marionetes a fio contam a decisão do Rei Leão de dar uma festa na floresta, convidando todos os animais, mas proibindo a entrada dos que possuem bocas grandes. “Preparamos, dentre os concertos vespertinos, o Grupo Giramundo, uma companhia famosa nacional e internacionalmente, que vai fazer um espetáculo especificamente para crianças, para aproximá-las da música de concerto. Essa obra do (Camille) Saint-Saëns utilizamos muito em aulas de musicalização infantil. As crianças que participam dos nossos projetos já têm bastante contato com ela”, explica Medeiros, chamando atenção, ainda, para a exposição com os 29 cartazes das edições passadas, que abre às 16h do dominical dia 21, na Galeria Renato de Almeida do Centro Cultural Pró-Música, onde também se apresenta a Orquestra Sinfônica Pró-Música. A mostra segue em visitação durante os dias do evento, das 9h às 18h.

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Espetáculo do Giramundo, criado em 1996, é uma fantasia para pequena orquestra de Camille Saint-Saëns.

Retomadas estão no foco

Israelense radicada nos Estados Unidos, a flautista doce Rotem Gilbert é uma das convidadas internacionais do festival.

Em menor número do que em anos e décadas anteriores, as presenças internacionais no festival estão representadas na atual edição pela israelense radicada nos Estados Unidos Rotem Gilbert (flautista doce) e pelo alaudista italiano Diego Leveric. “A Rotem vai fazer um concerto superinteressante de flauta doce e gaita de fole. E o Diego vai fazer um concerto ao lado do cravista Robson Bessa e da (soprano) Veruschka Mainhard, ambos atuantes nos últimos cinco anos do festival”, observa o diretor do fetsival Marcus Medeiros, apontando que a expressão internacional não se limita aos dois nomes. Professor do departamento de educação da UFJF e presidente da Associação Brasileira de Educação Musical, Medeiros pontua que profissionais reonamados dentro e fora do Brasil estão na programação deste ano, como o professor de piano Luis Senise, um dos mais prestigiados no país, que vai se apresentar com a orquestra formada no festival. Além dele, cita Jovana Trifunovic, sérvia radicada em Belo Horizonte, onde atua como segunda violinista da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. E também o professor do Instituto de Artes e Design Nilton Moreira, flautista reconhecido mundo afora pela divulgação e pesquisa do choro.

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Alaudista italiano Diego Leveric é a outra atração internacional do evento.

O foco deste ano, assinala Medeiros, foi em ampliar o número de oficinas. “Principalmente nos últimos dois anos estendemos para os instrumentos modernos. A cada ano o público pede oficinas a mais. Ano passado não teve oficina de saxofone e, este ano, trouxemos”, explica ele, reconhecendo, também, a urgência em atrair um maior público externo, que era bastante frequente nas edições anteriores à inscorporação do centro cultural pela UFJF. “Esse público não é tão expressivo como no passado, mas se mantém. Isso porque não conseguimos ofertar alojamento, o que é importante para estudantes de outros estados, mas vários alunos do curso de música estão fazendo hospedagens solidário. Estudamos espaços onde a gente possa oferecer alojamento com o mínimo de conforto, para ampliarmos a participação do público externo. Esse é o principal obejtivo próximo”, garante.

‘Uma grande vitória para o país e para a cidade’

Assim que se iniciaram as inscrições para as oficinas, conta Medeiros, surgiram proponentes de diferentes cantos, inclusive da Bahia. Essa manutenção de uma frequência externa, ainda que em menor número e incapaz de mudar a paisagem da cidade, como antigamente, se deve, aponta o diretor do evento, à reputação do festival e à expressividade de sua programação. “É uma grande vitória, não só para o Brasil, mas principalmente para Juiz de Fora ter essa iniciativa, de uma família da cidade que começou investindo nesse início da música colonial brasileira e antiga e acabou se tornando referência no país e no exterior. Para onde vamos e falamos do festival as pessoas conhecem, sabem o nome de Juiz de Fora, ao menos no mundo da música. É um marco para as produções nacionais. Colocou a cidade no mapa da música mundial”, orgulha-se Medeiros.

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Mesmo que o orçamento da 30ª edição tenha se mantido em relação ao ano anterior, no valor de R$ 430 mil, e pouco crescido desde que a UFJF assumiu o centro cultural e o evento da família Sousa Santos, Marcus Medeiros aponta que, diante da atual conjuntura, esse é um motivo para celebrar. “Para a realização de um festival, é pouco”, reconhece. No Brasil, festivais de inverno do gênero, costumam ter seu custo na casa dos muitos milhões, como o de Campos do Jordão, cujo orçamento este ano é de R$ 7,5 milhões. “Por outro lado, se pensarmos que é uma universidade pública investindo em cultura e música, isso é muito”, pondera o diretor geral, certo da longevidade potencial de um projeto que resiste há 30 anos. “Procuramos ajustar o festival às burocracias que são próprias do Poder Público e temos conseguido crescer, procurando meios para possibilitar a vinda de um público de fora e, principalmente, retormar a duração do festival, passando ele para duas semanas. Não vemos uma queda de qualidade artística e pedagógica, mas essa duração mais longa é nosso objetivo.”

Conjunto de Música Antiga da USP encerra o festival no dia 28 de julho. (Foto: Ernesto Ett/Divulgação)
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