Site icon Tribuna de Minas

Compact Disc completa 40 anos em 2022 e mantém seus fãs

PUBLICIDADE
Marcos prefere comprar só aquilo de que realmente gosta. “Mas o problema é que eu gosto de muita coisa”, brinca (Foto: Leonardo Costa)

Aquele barulhinho da agulha tocando o vinil. Um chiado que dizem dar uma áurea diferente ao ato de ouvir uma música. A cerimônia de virar a bolacha para ouvir as faixas que estão no outro lado. Tudo isso, agora, pode parecer agradável a ponto de fazer com que jovens tenham seu interesse despertado no vinil e atribuir isso a uma saudade de algo que não viveu: o auge do disco, lá entre as décadas de 70 e 80. Por outro lado, existem outros que nunca abandonaram os vinis, que lotam as prateleiras dos colecionadores que acreditam estar ali o som mais puro e original (isso, claro, com bons equipamentos). Mas o Compact Disc (CD) surgiu logo em seguida, há 40 anos, completos em agosto, e não foi à toa.

Só o fato de ele ser menor e, consequentemente, ocupar menos espaço, já fazia com que esse tipo de mídia fosse mais interessante que o vinil. Além disso, o som era mais limpo, e bastava colocá-lo uma única vez que todas as faixas eram reproduzidas em seguida. Até os equipamentos eram menores, e o som tinha, basicamente, a mesma qualidade seja colocado no tocador ou no carro, por exemplo. Tudo no passado porque, agora, os streamings vieram para deixar tudo mais fácil, e os CDs, cada vez mais, estão sendo esquecidos. Tanto que raros são os artistas a lançarem, hoje, seu trabalho fisicamente. Mas há quem não desista deles, que acredita estar ali sim o melhor som.

PUBLICIDADE

Apesar de o primeiro CD ter sido lançado há 40 anos, o seu processo de popularização no Brasil foi a passos lentos. De um lado, Marcos La Falce: jornalista aposentado, apaixonado por música, colecionador de CD; do outro, João Roberto de Moreira, o Bebeto do Museu do Disco, um dos primeiros a trazer essa mídia para Juiz de Fora. Os dois vivenciaram todas essas mudanças e lembram bem dos preços caros tanto dos CDs quanto dos equipamentos na época. As memórias, inclusive, de como foi esse momento são parecidas. Bebeto conta que, na loja, isso já nos anos de 1990, recebeu muitos colecionadores de vinil que decidiram trocar tudo por CD. A própria indústria entrou nessa onda e relançou os discos nesse outro formato, o que ajudou tanto os fãs quanto os donos das lojas. Inclusive, tão significantes são os lojistas de CDs, que eles têm um dia todo seu: 17 de abril.

Os dois lados da mesma moeda

Enquanto Bebeto acompanhava, na loja, o movimento de (quase) abandono do vinil, Marcos fazia exatamente isso. Como sempre foi fã de música, principalmente rock, sua coleção de vinil era grande. Mas quando teve a oportunidade de ouvir em um fone, no Rock in Rio, o som do CD, nunca mais quis outra coisa. A partir dali, as visitas às lojas de CD se tornaram corriqueiras. Esses lugares, inclusive, para ele, são o que há de mais interessante em ser um colecionador. “Porque a gente conhece muita gente, conversa muito e, por isso, acaba conhecendo mais bandas”, explica.

PUBLICIDADE

Quando viaja, a primeira coisa a se fazer é procurar as lojas de música. “Elas estão cada vez mais raras, mas sempre têm.” No exterior, então, é um paraíso: preços melhores e mais opções. Tanto que, em uma de suas viagens, trouxe uma mala só de CDs. Lá ele encontra edições raras, além das de luxo, que oferecem muito mais que uma mídia. Um que ele abriu para mostrar à reportagem tinha lenço, outro um pôster para ser enquadrado. E ele não usa nada: deixa tudo inteiro. Alguns discos ainda estão embalados. Isso porque alguns são especiais e ele tem outras versões que, essas sim, são tocadas repetidas vezes. Exemplo disso é o “The dark side of the moon”, do Pink Floyd: foi esse o primeiro vinil e o primeiro CD que comprou. Hoje ele tem várias versões: umas para ouvir, outras para guardar. Ao contrário de muitos colecionadores que compram simplesmente para encher a prateleira, Marcos prefere comprar só aquilo de que realmente gosta. “Mas o problema é que eu gosto de muita coisa”, brinca.

Bebeto, do Museu do Disco, conta que tem por lá cerca de 30 mil CDs (Foto: Felipe Couri)

Sempre CD

O segundo andar do apartamento onde Marcos mora é totalmente dedicado à música – apesar de haver ainda um espaço para o livros que, claro, em sua maioria, falam de música. Cabem ali cerca de três mil CDs e mais dois mil vinis: tudo na planilha do Excel, já que os organiza por gênero. Essa planilha, inclusive, serve mais para que ele não compre CDs repetidos, porque tanto é o costume de pegá-los que, de olhos fechados, ele consegue dizer onde cada um deles está. E tem todo um roteiro para escolher qual vai ser o álbum a ser ouvido: ele escolhe, coloca no equipamento, e vai para a varanda ouvir o som, geralmente olhando os encartes. Marcos fica assim por horas. Ele, realmente, só se entrega ao streaming quando não está em casa.

PUBLICIDADE

Obviamente, Marcos prefere o CD. Até Bebeto, como ouvinte, prefere ele também, e os motivos apresentados pelos dois são aqueles: som melhor, mais robusto, sem ruído, melhor de guardar. Além de ser bom para quem consumia, foi uma época boa também para os artistas, já que ficou bem mais barato produzir em CD. Isso ainda possibilitou que bandas independentes conseguissem mais facilmente gravar um álbum. O que, consequentemente, fez com que elas circulassem mais e, assim, fossem ouvidas em diferentes lugares. Marcos, inclusive, tem boa parte de sua estante dedicada aos rocks raros: exatamente essas bandas que tiveram poucas gravações físicas. Por outro lado, o jornalista diz que o que sente falta no CD é das capas e encartes grandes, que atraem muito mais o olhar e possibilitam melhor o desfrute. Apesar de as edições de CD de luxo serem um contraponto que fica no mesmo nível.

A força do que resta

Quando Marcos começou a coleção e Bebeto a vender os CDs, Juiz de Fora tinha muitas lojas no segmento. Agora, o Museu do Disco é, realmente, uma das únicas na cidade. Por isso Marcos compra muito na internet e é atraído às lojas de outros grandes centros. Ainda assim, Bebeto segue vendendo as mídias, tanto os vinis quanto os CDs. Ele conta que tem por lá cerca de 30 mil CDs. “Hoje, a gente ainda vende muito CD porque tem muito colecionador que vem procurar. Quando alguém vem desfazer da coleção, por exemplo, é normal que no mesmo dia todos eles sejam vendidos. Vem e volta. E os mais procurados são rock e MPB”, finaliza.

PUBLICIDADE

Assim como os vinis voltaram a ganhar a atenção dos amantes de música, a ponto de, agora, artistas apostarem neles para lançar seus álbuns, tanto Marcos quanto Bebeto acreditam que a hora do CD vai chegar. E pelo menos saudosismo que depositam, hoje, no vinil. Os dois vão viver para falar: “Eu avisei”.

 

Exit mobile version