Longa que encerra nesta quarta-feira (4), às 21h, no Cinemais Alameda, o terceiro dia de exibições do Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades, o drama social “Sócrates” chega credenciado não apenas pelos 15 prêmios recebidos nos cerca de 40 festivais de que já participou, incluindo a categoria Someone to Watch, do Independent Spirit Awards. O filme de estreia de Alexandre Moratto é produção que aborda vários assuntos que tocam profundamente boa parte da sociedade brasileira, em especial aquelas das classes D e E, e as minorias: a pobreza, a homofobia, a incapacidade do Estado em atender a parcela mais desprotegida da população, a invisibilidade social, mas, principalmente, a falta de oportunidades. Para quem defende a meritocracia, de que “é preciso ensinar a pescar, não dar o peixe”, “só vive na miséria porque não corre atrás”, a trajetória do protagonista seria mais que suficiente para enterrar todos esses argumentos.
Por isso mesmo, o filme tem um sentido de urgência, desespero, desalento, raramente visto no cinema nacional nos últimos tempos. Tudo isso ainda embalado por outro motivo que, por si só, já seria suficiente para fazer qualquer um desabar: o luto, ainda mais na juventude. A primeira cena do filme mostra Sócrates (Christian Malheiros) tendo que lidar com a morte súbita da mãe, que o criava sozinha. De repente, o adolescente de 15 anos vê a sua vida, já difícil na favela México 70, em Santos (SP), num beco sem saída.
Sem condições de arcar com o aluguel, impossibilitado de receber as cinzas da mãe, menor de idade que não pode ter emprego fixo, recusando-se a ir para um centro para menores ou morar com o pai, o jovem passa por todo tipo de percalços nos pouco mais de 70 minutos de duração do filme. Mas, principalmente, Sócrates precisa lidar com a solidão, o desamparo, a sensação de invisibilidade e a insensibilidade da sociedade. Entre um “bico” mal remunerado e outro, ele vai de lugar em lugar tentando encontrar abrigo, apoio, até mesmo na paixão repentina por Maicon (Tales Ordakji). “Sócrates” tem breves momentos de violência, mas, apesar de tudo estar contra ele, o protagonista foge ao estereótipo de encontrar no crime a solução para seus problemas.
Os pouco recursos para a produção são evidentes, mas Moratto consegue ter garra suficiente para entregar um grande filme, constantemente com a câmera na mão; essa proximidade de Sócrates nos coloca na sua pele em diversos momentos. A parceria com a ONG Instituto Querô, que promove a inclusão social de jovens por meio do audiovisual, deu ao longa uma equipe acostumada com o cotidiano retratado no filme, e oportunidade única para esses jovens terem o talento reconhecido.
Mas “Sócrates” provavelmente não teria o mesmo impacto sem a atuação de Christian Malheiros. O ator se entrega ao papel com toda a fibra, e podemos ver na tela o desespero, a falta de tato social, a escolaridade ausente, o desejo de amar/ser amado e como Sócrates está desacostumado a saber o que é ser acalentado, respeitado. Ou seja: ser visto como um ser humano, com todos os direitos necessários para se criar um cidadão com direito à felicidade.
Sócrates
Exibição do longa-metragem (74min), às 21h, no Cinemais Alameda
Classificação: 14 anos
nesta quarta-feira (4), às 21h, no Cinemais Alameda