Um dos grandes atores brasileiros, Marco Nanini dá prova de seu talento em “Greta”, filme de estreia de Armando Praça que tem exibição nesta quinta-feira (5), às 21h, no Cinemais Alameda, dentro da programação do Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades. A produção, livre adaptação da peça “Greta Garbo, quem diria, parou no Irajá”, escrita nos anos 1970 por Fernando Melo, privilegia o drama de um homem homossexual, idoso e solitário e deixa de lado o tom cômico que havia no texto original, em que o gay era mostrado de forma caricata.
A história também muda o cenário. No lugar do Rio de Janeiro, o longa foi todo gravado em Fortaleza, no Ceará, mas longe dos cenários de turismo e cartão postal. A produção mostra o lado decadente da cidade, seja no ambiente domiciliar, no caos do sistema de saúde, nas saunas gay ou casas de espetáculos decadentes. São nesses ambientes que circula o enfermeiro Pedro (Nanini), que aos 70 anos diz querer viver em paz sua solidão.
Essa afirmação, porém, é contraditória em vários momentos: ele tem uma amiga, a travesti Daniela (Denise Weinberg), que sofre com problemas de saúde e graças a Pedro consegue atendimento no hospital em que trabalha. Para isso, porém, ele precisa desocupar um leito, e consegue ao dar abrigo em seu apartamento a Jean (Démick Lopes), paciente que deu entrada na unidade depois de se envolver em uma briga em que matou o marido da amante. O convívio forçado com o “paciente” termina em sexo, um dos frágeis (às vezes efêmeros e sigilosos) envolvimentos amorosos/sexuais que Pedro tem durante a história – neste momento, ele deixa claro: a única coisa que exige é ser chamado de “Greta”, para enfim poder se sentir como a atriz Greta Garbo, a quem idolatra.
Para interpretar o protagonista, Marco Nanini despe-se – literalmente – de todas as vaidades para entregar um personagem frágil, carente, solitário e que, por mais que negue, sente falta de um amor. Outro destaque da produção é a forma como boa parte da história é contada, com a câmera distante dos personagens ou colocando-os em perspectivas diferentes. A decisão de fazer de “Greta” um drama também é acertada, mas o filme peca eventualmente ao simplesmente “jogar” alguns acontecimentos e personagens em cena, e ainda por esquecer de Daniela em alguns momentos. Nada, porém, que invalide a experiência de assistir ao filme de Armando Praça.
‘Greta’
Exibição do longa (97 min) no Cinemais Alameda, às 21h.
Classificação: 18 anos