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Livro registra a história da Faculdade de Medicina em JF

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Personagem e espectador da história, José Carlos viu a criação do curso no qual, um ano após se formar, regressou como professor, aposentando-se em 1988. (Foto: Fernando Priamo)

Quando cursava o científico, hoje equivalente ao ensino médio, José Carlos de Castro Barbosa interessava-se por diferentes disciplinas. Eram muitas suas opções para o vestibular daquele fevereiro de 1953. “Comecei a ler a obra de Freud e me empolguei muito com a psicanálise”, conta ele, que se decidiu por medicina justamente quando o curso tornou-se realidade na Juiz de Fora natal. “Foi muito marcante porque fomos a primeira turma, vivemos, como estudantes secundaristas, o processo de criação, que foi muito longo. A faculdade era muito rigorosa em seus critérios. Para ter uma ideia, minha turma, que foi a primeira, foi criada para preencher 25 vagas, mas só 18 foram aprovados (dos 70 inscritos). Tamanho o rigor”, conta ele, pontuando, ainda, a transferência de dois dos alunos, restando, portanto, apenas 15 homens – entre eles Dr. Juracy Neves ex-provedor da Santa Casa de Misericórdia e fundador do Grupo Solar de Comunicação – e uma única mulher.

“Foi uma experiência muito rica participar desse processo, não só como aluno, mas como professor também”, acrescenta o profissional que, formado em 1958, fez especialidade no ano seguinte e, em 1960, ingressou na faculdade como professor assistente, ofício do qual se aposentou em 1988, tendo atuado como mestre da disciplina de farmacologia. “Vivi como aluno, como professor, fui coordenador de pós-graduação, pró-reitor, reitor interino. Tenho um conhecimento grande dessa história”, orgulha-se José Carlos, testemunha da história que hoje, aos 84 anos, leva para as páginas do livro “Criação da Faculdade de Medicina de Juiz de Fora e da UFJF: Um recorte na nossa história” (UFJF/Mamm, 136 páginas), com lançamento nesta terça, 5, às 19h30, na Sociedade de Medicina e Cirurgia de Juiz de Fora.

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Entidade particular, mantida com esparsos recursos públicos e a alta mensalidade do curso, a faculdade localizada na Rua Catulo Breviglieri, no Santa Catarina (onde hoje está instalada uma unidade do Hospital Universitário), destacava-se pela excelência de um corpo docente integralmente formado por médicos reconhecidos. “O nível da medicina em Juiz de Fora era muito alto. A maioria dos profissionais era formada na Nacional de Medicina, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, que era a principal da época. Cerca de 90% do nosso corpo docente eram formados por médicos da cidade. O restante, três ou quatro, é que eram contratados de fora”, pontua José Carlos.

O peso era grande. Os custos também. “Implantar um curso de medicina exige muitos recursos, para aparelhar todos os laboratórios, no ciclo básico. Já o ciclo clínico é preciso que seja feito em hospitais, e a Santa Casa é que foi o principal espaço onde tínhamos matérias de disciplinas clínicas. Dependendo da especialidade, tínhamos outros hospitais, como obstetrícia, que era na Maternidade Therezinha de Jesus, dermatologia era no Centro Dermatológico ou no João Penido. Coordenar tudo isso era muito penoso, principalmente porque o grupo que criou a faculdade era de alto nível, ética e profissionalmente”, recorda-se o ex-aluno, apontando para a questão financeira como uma das justificativas que fizeram as tentativas anteriores de criação do curso – a primeira em 1898 – terem fracassado.

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“Em 1950, começaram novamente os movimentos para criar a faculdade. Nesse momento, Juscelino Kubitschek se elegeu como governador de Minas. Ele era médico, com especialização na Europa. Ele defendia que era preciso investir no ensino universitário no estado. Graças a ele, conseguiram os recursos necessários para a implantação”, observa José Carlos, contando da terceira faculdade de medicina do estado, segunda fundada pelo médico e político que anos depois se elegeria ao cargo máximo do Poder Executivo nacional. “O ponto decisivo foi a eleição do Juscelino para presidente da República. Por ter sido o criador da faculdade, ele se motivou em federalizar essas faculdades”, destaca o autor, referindo-se aos cursos de direito, economia, medicina, engenharia, farmácia e odontologia, que se uniram e lutaram pela criação da universidade federal.

“Foi um processo de muita campanha, da imprensa, dos diretórios acadêmicos, que deram força para essa fundação. Nossa primeira turma resolveu eleger o Juscelino Kubitschek como paraninfo. Ele, como presidente, veio e paraninfou a turma em 1958. Como orador, falando em nome da turma, pedi que a faculdade passasse a pertencer ao Governo. Quando faltava um mês e meio para terminar o mandato dele, criou a UFJF, um dos últimos atos dele como presidente”, comenta o professor, apontando para uma realidade que se deu em 23 de dezembro de 1960, inaugurando uma fase de bonança, com ensino gratuito para os estudantes e investimentos frequentes.

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A marca na cidade

Doutor Mozart Geraldo Teixeira dá nome ao Hospital de Pronto-Socorro. Doutor Paulo Japiassú Coelho nomeia importante avenida que corta o Bairro Cascatinha. Doutor João Felício Fernandes Júnior é como denomina-se um dos hospitais especializados em cardiologia na região. Doutor Gil Horta é nome de uma das ruas centrais da cidade. Em comum, esses e muitos outros profissionais guardam o fato de terem pertencido ao primeiro quadro docente da Faculdade de Medicina de Juiz de Fora, comprovando a importância e o impacto da instituição na cidade e na região.

“Juiz de Fora começou com a agropecuária, depois sofreu um processo de industrialização muito intenso, foi chamada de ‘Manchester Mineira’, porque era o maior núcleo industrial do estado, com uma rede comercial que foi se desenvolvendo. Depois ela viveu uma derrocada, e o desenvolvimento do ensino superior transformou a cidade num lugar de formação de quadros. A criação da universidade deu uma marca para Juiz de Fora”, reconhece José Carlos de Castro Barbosa, que, apesar de ter se inspirado em Freud para escolher a medicina, dedicou-se à outra frente.

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“Num primeiro momento fiz pediatria, porque não tinha psicanálise em Juiz de Fora”, conta ele. “Depois fui fazer formação psicanalítica no Rio de Janeiro. Tudo foi acontecendo, mas sempre fui muito voltado para a atividade universitária. Essencialmente sou um professor e pesquisador, investi muito na carreira docente, embora exercesse, também, a clínica”, completa o homem cuja memória, generosamente, eternizou um capítulo da história local e seus homens e mulheres vestidos em seus jalecos brancos.

Criação da Faculdade de Medicina de Juiz de Fora e da UFJF: Um recorte na nossa história
Lançamento do livro de José Carlos de Castro Barbosa, nesta terça, 5, às 19h30, na Sociedade de Medicina e Cirurgia de Juiz de Fora (Rua Braz Bernardino 59 – Centro).

 

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