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Oluan: da bossa nova ao cyberpunk

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Depois de participar de algumas bandas, Luan Santos lança projeto solo com o nome de Oluan (Foto: Vitória Vargas/Divulgação)

Antes de o mundo virar de cabeça para baixo, Luan Santos foi vocalista e guitarrista de bandas como Uivos e Luná Gang, além de tocar guitarra na Michael Collins. Então 2020 chegou, a pandemia fez as pessoas de bom senso ficarem em casa, e aí o jeito foi partir para a criação enquanto artista solitário. Com um novo alter ego, Oluan, o artista lançou seu single de estreia, “Sinédoque”, no dia de seu aniversário (23 de agosto), o primeiro de uma série de canções que espera divulgar nos próximos meses.
Composta em julho, “Sinédoque” foi produzida no esquema “do it yourself” com uma mãozinha de outro nome da nova geração musical de jufas, Gabriel Acaju. De acordo com Oluan, a música é resultado da necessidade de tocar e criar que se tornaram acentuadas pelo isolamento social. A solução foi lançar o projeto solo, em que explora a estética dos beats com os arranjos de violão que vinha criando.
“Ela faz parte de um grupo de canções que vinha rabiscando desde o começo da pandemia, mas permaneciam inacabadas, e veio do recorte de um arranjo de ‘Chega de saudade’, de João Gilberto, na lógica dos samples e loops feitos no rap e outros gêneros contemporâneos, porém tocada no violão mesmo”, explica Oluan. “A partir disso escrevi a letra e adicionei outras melodias, como a guitarra e criação dos beats, em que tive ajuda do Gabriel Acaju. Aí enviamos para o André Medeiros fazer a mixagem e masterização.”

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Inspirado por João Gilberto e os amigos

Sobre esse período de composição solitária, o músico acredita que este processo é o natural para a criação. “Com a pandemia se perde a vida social da forma como era, e como se tornou inviável fazer ensaios e shows presenciais, o ‘do it yourself’ envolveu aprender – ao menos pra mim – construir todas as partes da música caçando, por instinto, autoconhecimento e estudo, sem aquele processo de envolvimento que é estar tocando com outras pessoas, a banda ou de estar com amigos, e sem a inspiração que você traz pra si quando está ativo na cidade e frequentando as ruas, ainda que seja impossível não se inspirar nelas e no momento atual.”
João Gilberto é uma das várias inspirações de Oluan para o single. Ele diz que tem ouvido muito samba, bossa nova e música brasileira em geral, citando nomes como a turma do Clube da Esquina e mais Caetano Veloso, Jards Macalé, Arthur Verocai, além das bandas Fellini e The Gilbertos. “Além disso, tenho escutado beat tapes e vídeos de AMV (Anime Music Video, montagem de trechos de animes japonês clássicos com músicas de vários tipos, inclusive samba) e mix de lo-fi e hip hop, inclusive com os remixes de músicas brasileiras. E tenho que citar a influência enorme dos meus amigos da cidade, como o próprio Gabriel Acaju, os grupos Roça Nova e Baco Doente e (o rapper) RT Mallone.”
As fontes, porém, vão além da música. “Tem o cinema, literatura e artes visuais. ‘Sinédoque’, além de uma figura de linguagem, faz referência ao filme ‘Synedoque, NY’, de Charlie Kaufman, em que o protagonista é um diretor de teatro que tenta recriar sua vida através de uma peça que recria a cidade de Nova York. Os primeiros versos da letra (‘O céu sobre o porto tinha cor de televisão fora do ar’) fazem referência a ‘Neuromancer’, livro de William Gibson; outras são referências diretas de músicas do João Gilberto ou da Elis Regina, por exemplo.”
Por todo esse contexto, o cantor e compositor define o single como “um agrupamento e recorte de colagens em todo o processo para revirar numa coisa minha” e também coloca para fora seus sentimentos sobre a pandemia e tudo que vem acontecendo. “Talvez esses agrupamentos sejam perceptíveis ou não”, especula, “mas o resultado é essa estética mesmo. Nos próximos trabalhos, espero desenvolver e explanar melhor a ideia.”

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