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Saraah mostra o orgulho de ser quem é com ‘Renascer’

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Artista sul-mato-grossense radicada em Juiz de Fora, Saraah conta suas vivências no single ‘Renascer’ (Foto: Divulgação)

A cantora e drag queen Saraah lança, nesta quinta-feira (5), nas principais plataformas de streaming de música, o single “Renascer”, que serve de prévia para o EP “Mergulho”, que estará disponível a partir de 8 de junho e é financiado pelo Edital Fernanda Müller de Cultura Trans, do Programa Cultural Murilo Mendes. A canção ganhou videoclipe, gravado em abril, no Gema Bar, e chegará, no próximo dia 14, no canal da artista no YouTube, com direito a evento de lançamento, no mesmo dia, no Rocket Pub.

Todas as músicas de “Mergulho” terão videoclipe com tradução em libras, e as gravações aconteceram, na última segunda-feira, no Cine-Theatro Central. Bárbara Bisaggio e Matheus Jeronymo assinam todos os trabalhos como diretora e diretor de produção, respectivamente. “Tivemos participação de outras drags e amigos que toparam produzir essa comigo”, conta Saraah.

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“Renascer”, assim como todas as canções do EP, foi produzida por Edvan Crepaldi, com a maioria dos instrumentos gravados em seu home studio, enquanto os vocais foram gravados no estúdio Via 3. De acordo com Saraah – que trabalha como produtora, com audiovisual e em apresentações de performances -, o single retrata “a alegria e o orgulho de ser quem se é”. O projeto “Mergulho” abraça o movimento musical conhecido como queernejo, que, assim como o feminejo, busca obter espaço para novas vozes e histórias dentro do universo da música sertaneja, conhecida pelo conservadorismo – no caso de Saraah e do queernejo em geral, apresentar suas histórias como pessoa LGBTQIA+.

“Eu conheci o queernejo através do Gabeu (filho do Solimões), que começou a lançar músicas sertanejas com uma perspectiva LGBTQIA+, e daí passei a seguir outros artistas, como Reddy Alor e Gali Galó. A partir deles vi que é possível envolver a minha arte drag em ritmos que vão além do pop”, diz. “Eu posso experimentar as sonoridades e transformar em algo único que transmita as minhas vivências e a minha personalidade.”

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Sertaneja desde a infância

A artista acrescenta que começou a compor junto ao início da sua arte drag, mas que a música sempre esteve presente em sua vida – principalmente na infância, quando cantava na igreja evangélica que frequentava. “Por isso queria incorporar esse sentimento para a minha arte drag”, explica. “Comecei a escrever para experimentar e tentar ser mais independente na música e poder expressar os meus sentimentos. ‘Renascer’, por exemplo, foi escrita há três anos, mas só agora consegui verba através do apoio do Edital da Fernanda Müller para tirar a ideia do papel.”

Na visão de Saraah, seu primeiro EP ainda é um projeto inicial e experimental, tanto de ritmos como de visuais. “Quero observar a receptividade e a experiência de gravação para conseguir seguir uma linha de identidade musical”, pontua, aproveitando para falar sobre o apoio que existe entre os artistas do queernejo. “Esses dias recebi uma mensagem do Gali Galó no Instagram, me parabenizando e dando boas-vindas ao queernejo. Eu vejo que os artistas têm experimentado cada vez mais esse ritmo para conseguir trazer mais representatividade, e por isso consigo enxergar um apoio mútuo.”

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Nascida em Dourados, no estado de Mato Grosso do Sul, a ligação de Saraah a este estilo musical vem desde a infância, por influência dos pais. “O que mais ouvia era Zezé Di Camargo e Luciano e Bruno e Marrone. Minha mãe me ensinou a dançar, inclusive. Nasci em Dourados, e lá a influência desse ritmo é muito forte. Ao longo do tempo fui me inspirando, principalmente, nas mulheres que tomaram mais força nesse meio musical, como Marília Mendonça e Simone e Simaria.”

Espaço para todos e todas

Se a influência do meio moldou boa parte da personalidade musical da artista, ela traz o desafio de se expressar em um gênero musical – como dito anteriormente – conservador. Saraah comenta como é o desafio de encarar esse ambiente sob a perspectiva de suas vivências no universo LGBTQIA+. “Eu vejo o queernejo como um trabalho cultural, pois são músicas feitas por pessoas LGBTQIA+, que contam as suas vivências para pessoas LGBTQIA+. Porém, acredito que, por ser um ritmo que está tão ligado ao preconceito e ao machismo, é difícil desvincular essas ideias que acabam causando uma aversão do público. Então é um trabalho de ir produzindo e formando uma cultura de apropriação do sertanejo para pessoas como nós, e ocupando esses espaços que também são nossos”, acredita a cantora e drag queen, que encerra falando a respeito do sentimento de poder se expressar e colocar sua verdade a partir de um gênero musical em que o preconceito é tão presente.

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“Fazer drag já é muito difícil, e sempre vi essa arte como um ato de liberdade, tanto de escolhas como de expressões de sentimentos e vontades. Eu vejo a música sertaneja da mesma forma. Primeiro, eu escrevo as músicas inspiradas nas minhas relações e vou experimentando, fazendo de uma forma com que eu me sinta feliz, pois é assim que eu vou acabar inspirando as pessoas. Dessa forma, a recepção do público vem através de um trabalho sincero, bem feito e com dedicação. O mundo está mudando, e essas mudanças também começam através da arte.”

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