“Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa”, longa com o grupo de (anti) heroínas da DC Comics chega com a expectativa de se tornar um sucesso de bilheteria e agradar os críticos – como bônus, reforçar a impressão que a Warner Bros. acertou ao adotar um caminho diferente do MCU (Universo Cinematográfico Marvel). Ou dar tudo errado, uma vez que o estúdio, às vezes, parece ter decidido atirar para todos os lados após as críticas negativas e bilheterias decepcionantes de alguns longas.
Não custa lembrar: depois de lançar “O Homem de Aço” em 2013, a Warner decidiu deixar seu universo de super-heróis nas mãos de Zack Snyder a fim de tentar repetir o sucesso do universo compartilhado da Marvel. Mas o que se viu na sequência acabou por se tornar um desastre. “Batman vs. Superman” foi anunciado de supetão e até hoje divide crítica e público. “Liga da Justiça”, a união da trindade Batman/Mulher-Maravilha/Superman, teve destino ainda pior, com uma bilheteria inferior à de “Esquadrão Suicida”; e este, apesar dos seus US$ 800 milhões na boca do caixa, foi massacrado pela crítica e parte da audiência – tanto que a equipe de vilões vai ganhar um restart nas mãos de James Gunn (“Guardiões da Galáxia”).
Desde então, a Warner decidiu deixar suas franquias livres da amarra da continuidade, com longas como “Mulher-Maravilha” e “Aquaman” indo bem nas bilheterias e um “Shazam!” que – mesmo não faturando tanto – agradou pelo clima de “Sessão da Tarde”. O próximo “Batman” também deve seguir essa linha, com direção de Matt Reeves e a polêmica escolha de Robert Pattinson como Bruce Wayne/Batman, e ainda devemos ter, pelo menos, filmes do Flash e do Adão Negro, um dos maiores inimigos do Shazam.
Mas nem tudo foi desgraça em “Esquadrão Suicida”. Se a história era ruim e o “Coringa gangsta” de Jared Leto foi uma piada sem a menor graça, a Arlequina interpretada por Margot Robbie conquistou corações de meninos e meninas, tanto que a personagem se tornou uma febre entre a turma dos cosplayers. Por isso, apesar dos riscos, não foi uma surpresa quando o estúdio anunciou que a então namorada do Coringa entrara na lista de improváveis produções da Warner no mundo das HQs.
Mas Harley Quinn não chega sozinha. Apesar do (longo) título ressaltar que a personagem está de volta – e emancipada -, o filme é a primeira adaptação dos quadrinhos estrelado por um grupo formado exclusivamente por mulheres – as Aves de Rapina, que surgiram em 1996 e do qual a Arlequina jamais fez parte, por ser originalmente uma vilã. Além de Margot Robbie como a tresloucada Harley Quinn, o longa tem como protagonistas Canário Negro (Jurnee Smollett-Bell), Caçadora (Mary Elizabeth Winstead), Renee Montoya (Rosie Perez) e Cassandra Cain (Ella Jay Basco).
Todas contra um
A história segue uma trama básica, que deve mostrar a formação da equipe por conta da ameaça representada pelo Máscara Negra (Ewan McGregor), vilão já conhecido pelos fãs dos quadrinhos. Ele é um daqueles bandidos que o Batman enfrenta corriqueiramente em Gotham City, mas que aproveita o sumiço do Coringa para tentar se tornar o chefão do crime em toda a cidade com a ajuda do comparsa Victor Zsasz (Chriss Messina). Por motivos variados, as heroínas do filme têm alguma ligação com o criminoso, e isso fará com que seus caminhos se cruzem e, por fim, resolvam unir forças para acabar com os planos do bandido.
Além de ser uma aposta da Warner Bros. num universo cinematográfico descentralizado, com filmes independentes entre si, “Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa” pode ser mais um passo para reforçar e aumentar o protagonismo feminino na sétima arte – vale lembrar que a produção é dirigida pela chinesa Cathy Yan e tem Christina Hodson como roteirista. Para começar, o longa deixa claro que Arlequina decidiu se livrar do relacionamento tóxico e abusivo que tinha com o Coringa. Além disso, ela é a responsável por reunir um grupo de mulheres com personalidades e trajetórias próprias.
Em um ano em que ainda teremos outros filmes de super-heróis estrelados por mulheres (“Viúva Negra”, “Mulher-Maravilha 1984”), o possível sucesso de público e crítica de “Aves de Rapina” pode ser mais que positivo para a indústria do cinema, que tem realizado tentativas ainda tímidas de igualar o jogo entre os gêneros.