Já imaginou uma escova de lavar roupa, um pote e um tecido virarem bonecos? No espetáculo infantil que a Mariza Basso Formas Animadas, de Bauru/SP, traz para o Festival Nacional de Teatro nesta quarta, às 15h, no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, os três utensílios domésticos se transformarão em um caipira simpático e solitário, protagonista de “Sítio dos objetos”, trabalho listado como referência em arte e educação pelo Governo do Estado de São Paulo. Para o público adulto, o evento oferece duas opções. Às 19h, Vinícius Cristóvão, do Corpo Coletivo, de Juiz de Fora, volta ao Espaço Manufato para apresentação de “Casa dos espelhos”. Fechando a programação do dia, a trupe de Cabo Frio – Grupo Teatral Creche na Coxia – chega com uma releitura de “A Ilíada”, de Homero, às 21h, no Pró-Música. A oitava edição da mostra segue até 7 de setembro.
De trás de um simples balcão, a criançada verá surgir um mundo povoado pelo cavalo Chucro que se recusará a puxar a carroça, o cão Tato que vive a saltar sobre seu dono, os pássaros que comem semente e até a danada da lagarta que insiste em comer a plantação. Quem adianta um pouquinho desta divertida história é Mariza Basso, responsável pela manipulação, concepção, pesquisa e criação dos personagens. “O caipira decide montar um sítio em um lugar onde não há nada. Lá, ele enfrenta conflitos naturais e cotidianos, como as pragas que atacam a plantação. Ainda assim, ele consegue respeitar os animais e viver em harmonia com a natureza”, conta a atriz, que em 2013 já havia mostrado para o público de Juiz de Fora qual é sua proposta de trabalho com a apresentação de “Circo dos objetos”.
“As crianças perderam o lado manual. Hoje, elas só querem saber dos brinquedos eletrônicos, já nascem com um celular na mão. Não sabemos se são elas que manipulam o aparelho ou se é ele que as manipula. Elas esperam tudo muito pronto, estão muito ociosas. O espetáculo é uma forma de estimular esse lado criativo. Qualquer criança que assisti-lo vai perceber que lá tem um escorredor de arroz como o que a mãe dela tem em casa”, comenta Marisa, também à frente da sonoplastia, que terá direito a flashs fotográficos que viram relâmpago. Travesseiros manipulados fazem a dança das nuvens anunciando o temporal.
“Sítio dos objetos” é indicado para a garotada a partir dos 3 anos, contudo, os mais crescidinhos também se divertirão com as peripécias desse engraçado sitiante, garante Mariza. “Os pequenos gostam, porque ele é um tiozinho que dá bronca, mas brinca. Já os adultos se interessam por causa do universo caipira, que aborda a humildade.” A trilha sonora é composta por música instrumental e moda de viola. Fundado em 2004, o grupo Mariza Basso está frequentemente entre as atrações de vários festivais do país e do mundo. A estreia de “Circo dos objetos”, em 2007, se deu no 7º Festival Internacional de Títeres – “Cali um sueño com títeres”, na Colômbia.
Homero com um toque de humor
Numa viagem a Esparta, o príncipe Páris conhece a princesa Helena, casada com o rei Menelau. Maravilhado com sua beleza, ele a rapta, desencadeando uma guerra de grandes proporções. Segundo a atriz Vivi Medina, integrante do Grupo Teatral Creche na Coxia, que deixou Cabo Fio, na tarde de terça, para participar do Festival Nacional de Teatro, “A Ilíada”, que será vista, nesta quarta, pelo espectador juiz-forano, se mantém fiel à narrativa de Homero, no que diz respeito à história contada. “Mantemos a linha do texto grego. Só o estilizamos, trazendo para os dias de hoje, com uma linguagem mais contemporânea. Damos um toque de humor, mas tem drama também”, diz ela, destacando que os oito atores em cena cantam e tocam oito músicas ao vivo. O cenário onde os acontecimentos ocorrem é um tanto ousado. Basta dar uma olhada na página da trupe no Facebook. “Usamos andaimes de obra, que são a extensão do nosso corpo.”
Adaptado pela diretora Silvana Lima, o espetáculo, apresentado em uma hora e dez minutos, estreou nos palcos em julho, tendo sido concebido em um período de seis meses. Nesse processo, o grupo passou por preparação corporal, oficina de máscaras e coro. Com 35 anos de estrada, a companhia nasceu com o nome de Grupo Ziembinski, mudando de denominação em 1986. Hoje, sua formação está na segunda geração. “Os membros foram se casando e tendo bebês, e seus filhos ficavam nas coxias dos teatros. Amamentados entre ensaios e apresentações do grupo, os bebês cresceram e continuaram o trabalho desenvolvido por seus pais.” Com a “Carroça dos sonhos”, essa turma cabo-friense bateu ponto na edição de 2009 do Festival de Teatro. Agora, no formato de mostra de espetáculos, ela aporta com missão mais leve e prazerosa. “Não tem mais aquele clima de competição. Vamos com a energia de troca para mostrar nosso trabalho, debater e receber críticas construtivas.”
Um dos quatro representantes do teatro local selecionados para a Mostra de Espetáculos, o Corpo Coletivo volta à cena no Espaço Manufato, às 19h. Em “Casa dos espelhos”, um homem (Vinícius Cristóvão) começa a enlouquecer ao perceber sua imagem distorcida em uma casa repleta de espelhos. Com preparação corporal de Leo Cunha e texto de Hussan Fadel, o monólogo surgiu a partir de uma esquete homônima premiada em 2013 no 5º Festival de Cenas Curtas de Juiz de Fora.
Programação
“Sítio dos objetos”, com Mariza Basso Formas Animadas, de Bauru/SP
Às 15h, no CCBM (Av. Getúlio Vargas 200)
“Casa dos espelhos”, com o Corpo Coletivo – Juiz de Fora/MG
Às 19h, no Espaço Manufato (Rua Moraes e Castro 307 – São Mateus)
“A Ilíada”, com o Grupo Teatral Creche na Coxia – Cabo Frio/RJ
Às 21h, no Pró Música (Av. Rio Branco 2.329 – Centro)
Ingressos trocados por livro no CCBM