A ideia era apenas fazer uma história em quadrinhos, mas rendeu. Com apenas 13 anos de idade, o paranaense de Londrina German dos Santos Bezerra teve a sua HQ “Memento Mori” selecionada para a Feira de Autores Mirins de Bologna, na Itália, uma das mais tradicionais do setor, que tem a participação de jovens artistas de mais de 80 países. A edição deste ano deveria ter acontecido no primeiro semestre, mas teve apenas a apresentação virtual dos trabalhos devido à pandemia do novo coronavírus. O mais importante, porém, é que os quadrinhos de German dividem espaço com os de inúmeros outros nomes de várias partes do mundo.
O jovem estudante do Colégio de Aplicação João XXIII, onde cursa o oitavo ano, teve sua HQ indicada pela Editora Guismofews para participar da Feira italiana. “Memento Mori”, adianta, é uma série de histórias com capítulos de cerca de 20 páginas, cada, que teve o primeiro capítulo escrito e desenhado quando tinha 11 anos.
“Eu sonho em ser cartunista e faço histórias por diversão, e ‘Memento Mori’ veio assim. Originalmente, eu ia lançar a HQ de forma on-line, então a Editora Guismofews me ofereceu um projeto de publicar minha história em quadrinhos em formato impresso. Fiquei muito feliz por alguém ter gostado do meu trabalho, e ao mesmo tempo me senti bastante tímido por publicar uma HQ feita quando ainda tinha 11 anos, pois os meus traços e as minhas ideias mudaram muito e eu aprimorei a história”, conta o jovem artista, que aproveita para explicar do que se trata a HQ.
“Ela conta a história de dois viajantes de um mundo totalmente diferente do nosso, onde há seres mágicos e a ‘patia’ (maneira como a magia é denominada nesse mundo) flui em todos os habitantes dessa terra. Os dois viajantes se chamam Jorbim e Joana. Jorbim tem o pai demônio e mãe humana, por isso ele tem grandes poderes herdados de seu pai. A Joana é uma humana comum, mas que possui grande força para se defender e lutar. Esses dois errantes vivem aventuras em que as suas vidas são colocadas em risco todos os dias, mas o real perigo que esses aventureiros têm de lidar é o preconceito e a ignorância dos habitantes de seu mundo.”
German Bezerra adianta que todo o roteiro do primeiro arco de “Memento Mori” já está pronto, e que a segunda parte está sendo escrita conforme as publicações forem acontecendo. Sobre a escolha dos quadrinhos como forma de expressão, German diz que viu na nona arte “uma boa forma de contar histórias, porque ao mesmo tempo que os diálogos e o universo da HQ nos envolvem, os desenhos também conseguem contar uma história própria.”
Quando o assunto é a inspiração para seu trabalho, o primeiro nome que vem à cabeça é o do veteraníssimo espanhol Sérgio Aragonés. “Eu gosto muitíssimo de seus desenhos e de seu personagem Groo, o Errante (uma sátira a Conan, o Bárbaro), o mesmo personagem que inspirou o nariz do Jorbim, um dos protagonistas de ‘Memento Mori'”.
Talento e trajetória
Além da própria vontade em se desenvolver como artista de quadrinhos, o adolescente destaca o apoio da família e também dos professores do João XXIII. “Eles sempre foram ótimos, no curso de desenho ou na escola”, afirma German. Sua mãe, Carolina, confirma que a família sempre apoiou o jovem desde a infância, estimulando e fortalecendo a sua autoestima. “Seus irmãos sempre ficaram encantados e admirados com a sua imaginação, criatividade e capacidade de se expressar, de criar personagens, mundos e universos”, diz. “Sempre proporcionamos ao German contato com a produção de artistas, com livros, filmes, músicas, obras de arte, visita a museus e exposições. Ele sempre foi muito crítico com a sua produção, começava um esboço, desenhava, e logo jogava fora. Eu sempre guardei os desenhos dele, as garatujas, desde quando era muito pequenininho.”
Carolina conta ainda que descobriu ano passado o Projeto “Escritores Mirins”, da Guismofews, e entrou em contato com a editora. “Enviei os trabalhos que o German tinha e o seu portfólio. A sua história em quadrinhos foi escolhida para participar da Feira de Autores Mirins de Bologna, na Itália, onde aconteceu um pré-lançamento. Quando recebemos o livro da HQ pronto, eu fiquei muito emocionada, então pegamos a pasta dos desenhos que ele fez ao longo da vida, fomos vendo os seus traços e o seu crescimento, e foi muito importante. Para mim, isso é amor, é um cuidado muito mais importante do que muitas vezes dar um monte de brinquedos e presentes para a criança; a nossa presença nesses processos é o que faz diferença na vida deles.”
“Eu considero uma conquista de muitas pessoas, não temos dúvida de que o German é muito talentoso, mas acredito que todas as crianças podem se desenvolver plenamente de acordo com todos os seus talentos e todas as suas possibilidades de crescimento intelectual, emotivo, cognitivo, lógico-matemático, artístico, estético etc”, prossegue. “A forma como sempre estimulei e incentivei os meus filhos a se expressarem por meio das diferentes linguagens é a mesma que utilizo no meu trabalho cotidiano com os meus educandos, partindo do universo e da compreensão de mundo deles e ao mesmo tempo ampliando as suas referências simbólico-culturais, potencializando que cada um se encontre e descubra os seus interesses e a maneira como se realiza e se expressa através das diversas linguagens. É nessa educação que eu acredito.”