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Danniel Goulart lança segundo álbum solo

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Danniel Goulart chega com trabalho inspirado no ambiente rural; álbum é o primeiro solo desde 2003 (Foto: Celine Billard/Divulgação)

O cantor e compositor Danniel Goulart lança, nesta sexta-feira (2), nas plataformas de streaming seu segundo álbum solo, “Nomeidomato”, trabalho em que o rock progressivo e o peso de bandas como Led Zeppelin se encontram com o melhor da MPB, que tem pelo menos um dos pés no interior e no mato, como Almir Sater e a turma do Clube da Esquina. O disco, lançado com recursos da Lei Murilo Mendes, foi gravado entre 2018 e 2019 no Estúdio Alquimia, em Juiz de Fora, com produção de Guilherme Veroneze – que também tocou os teclados – e banda, que contou com Fred Fonseca (baixo) e Ângelo Goulart (bateria), além de inúmeras parcerias e participações especiais.

Danniel planejava lançar o álbum da maneira tradicional, com um show para promover o trabalho, e até iniciou os ensaios com esse objetivo. Porém, a pandemia de Covid-19 mudou seus planos, e ele ficou aguardando a situação melhorar. Como não melhorou, a promoção do álbum será feita com uma live nesta sexta, às 19h, em seu perfil no Facebook, em que vai conversar com Guilherme Veroneze sobre a produção de “Nomeidomato”. No sábado (3), às 17h, ele volta ao Facebook para uma live com as canções do novo álbum e terá uma segunda dose na quinta-feira (8), às 20h, desta vez em seu perfil no Instagram (@dannielgoulart). “Percebi que estava muito parado, nada acontecendo, então resolvi fazer pelo menos a metade. Vou lançar na rede, fazer um auê, e depois que a pandemia passar, pensarei no lançamento com show”, explica.

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Sem tempo, irmão

Apesar de estar no mundo da música desde o início da década de 1990, o artista lançou seu primeiro trabalho solo, “Acordes”, apenas em 2003, e esperou 17 anos para enfim lançar o segundo. Segundo ele, um dos motivos são seus inúmeros compromissos com as bandas das quais faz parte: Eminência Parda (desde 1991), A Zagaia e Parangolé Valvulado. “O trabalho solo foi um pouco atrapalhado por tocar em todas essas bandas, então deixei em segundo plano. Mas agora estou focando apenas nele”, afirma.

Quando pôde se concentrar na carreira solo, Danniel aproveitou e caprichou. “Nomeidomato” tem dez canções no total, sendo nove delas de sua autoria ou em parcerias – e nenhuma com menos de cinco minutos, num encontro de violas e guitarras que não se preocupava com a duração das canções. Com nítida influência do rock progressivo e da música brasileira do interior, o trabalho é definido no material de divulgação como “Rock Rural Progressivo ou Música Caipira Progressiva ou Rock Progressivo da Roça”.

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Questionado como se dá esse “casamento de influências” que vão de Genesis, Led Zeppelin, Renaiscense e Pink Floyd até Almir Sater, Milton Nascimento, Beto Guedes e Lô Borges, Danniel Goular observa que existe uma intercessão que explica esse cruzamento inusitado.

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“Se você pegar o rock progressivo, ele bebe nas bases folclóricas, no folk inglês, que tem muita importância no Genesis e Pink Floyd. O rock também bebeu no blues, country, folk e músicas caipiras (no sentido de música de raiz) em geral, ligados ao povo. O Clube da Esquina tem muita influência da música rural – no Brasil, as músicas boas estão sempre bebendo também dessa fonte. É isso que liga o Genesis ao Almir Sater, pegar o folclore e as novidades que surgiram nos anos 60 com o rock e misturar tudo, sem esquecer que o progressivo também misturou essas coisas com a música erudita”, analisa.

“E isso cria uma coisa que é original, porque é do Danniel. Não é querer me gabar, pois qualquer pessoa que toca um violão é do jeito dela, com a personalidade dela. Quando misturo isso com meu modo de tocar, acaba sendo algo original, embora meu disco não tenha objetivo de estar na vanguarda”, acrescenta, antes de falar da “importância primordial” da sua relação com a natureza para o processo de composição.

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“Quando estou enfiado no meio do mato, me sinto mais próximo de Deus, meus guias e mentores. É ali que estou conectado, feliz, tranquilo. Eu mudei para o meio do mato há cerca de um ano, e essas músicas foram compostas principalmente em Ibitipoca, com tranquilidade, de manhã, com o violão, sentindo estar em contato com a natureza, e isso influenciou diretamente no modo que componho e toco, como faço os solos, improviso e escrevo”, diz.

Na parceria e na amizade

“Nomeidomato” não é diversificado apenas pelo gosto de progressivo rural: há também uma série de participações especiais e parcerias que marcam o trabalho. A lista de participações tem os nomes de Lucas Soares (tambores), Caetano Brasil (flauta), além de Carlos Fernando Cunha, Isabela Ladeira, Dudu Costa, Edson Leão e Giuliana Giudice nos vocais. Já as parcerias nas composições foram feitas com Kadu Mauad, Dudu Costa e Carlos Fernando Cunha.

“É uma das coisas que tenho a agradecer a Deus: as pessoas maravilhosas que conheci em Juiz de Fora desde que cheguei aqui, em 1988. A cidade tem uma quantidade imensa de compositores, letristas, instrumentistas, e são pessoas fantásticas. Você vai ao ‘Encontro de compositores’ e fica assustado com a qualidade musical dos artistas. Conheci muitos bons poetas, músicos e amigos, aprendi muito com esse povo, cresci musicalmente; e isso reflete no disco, nas pessoas que tocaram.”

‘Sofrido’

Sobre o processo de composição com toda essa turma, Danniel Goulart explica que tem alguma dificuldade em colocar música em letra, então geralmente seu processo começa pela melodia mesmo, e daí que costuma apresentar as composições para parceiros em potencial. “Você manda e espera ver se ele curte, às vezes no outro dia já mandam a letra. Mas algumas delas deveriam ser apenas instrumentais, porém você mostra para um parceiro, ele gosta, se oferece para colocar letra, é um pouco aleatório”, diz, destacando ainda o quanto é “sofrido”, muitas vezes, seu processo de criação.

“Um dia crio um pedaço, algumas semanas depois crio outro… Não é coisa que vem pronta de uma hora para outra. Sofro muito para criar, pois acho que tudo é uma porcaria (risos). Mas já me acostumei, deixo lá gravado, no outro dia eu ouço, tiro os 50% que acho que dão para aproveitar, e vou construindo aos poucos. Quando acho que está legal, mando pra alguém. E já aconteceu de mudar a melodia um dia antes de gravar, e até mesmo durante o processo de gravação. É um processo doloroso, um parto, porque acho sempre tudo muito ruim, e depois mexo de novo até encontrar o ideal.”

Para encerrar o papo, Danniel ainda falou sobre “Mal da Lua”, única música não composta por ele a entrar no álbum. Ele explica que a canção, de Valéria Ferenzini e Edson Leão, foi a primeira que tocou num palco, em 1991, porém nunca havia ganhado um registro em estúdio. “Achava um problema sério isso. E também existe o amor que peguei pela letra da Valéria e do Edson, ainda mais com o valor sentimental que ela tinha para mim. Era um absurdo não ter sido gravada, é uma música que merecia ser publicada, com uma poesia linda, mas que ninguém conhece.”

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