Site icon Tribuna de Minas

‘Coringa’ tem pré-estreia nesta quarta-feira

PUBLICIDADE
Joaquin Phoenix é a nova encarnação do maior vilão do Batman em ‘Coringa’, longa que venceu o Leão de Ouro em Veneza (Foto: Divulgação)

O cinema vive de ciclos de gêneros, de bolhas que crescem até atingirem dimensões que, como estrelas supergigantes, colapsam sob o próprio peso. Ou o simples passar do tempo, mudanças de costumes, da sociedade. Foi assim com os musicais, os westerns, as comédias românticas, e há anos é dito o mesmo a respeito dos filmes de super-heróis. Que é uma moda passageira, que o excesso de produções vai gerar um esgotamento por parte do público. Que basta um único deslize para o colapso chegar.

Por enquanto, não é o que se vê, pois um fracasso como “Liga da Justiça” (2017) resvalou nos US$ 700 milhões, e até mesmo um longa de vilão (“Venom”) passou dos US$ 800 milhões. Entre os motivos da longevidade do gênero – sim, gênero – está a infinita possibilidade de histórias por conta de universos como os da Marvel e DC Comics, sem contar editoras menores como Dark Horse, Image Comics, ou o Millarveso de “Kingsman” e “Kick-Ass”. No Brasil, já tivemos “O Doutrinador”, “O cheiro do ralo”, “Tungstênio”, “Turma da Mônica: Laços”, “O menino maluquinho”, então é difícil imaginar um fim nesse túnel.

PUBLICIDADE

São milhares e milhares de personagens com características diferentes, origens diversas, com potencial para escapar do lugar-comum do filme de ação e transitar por outros gêneros cinematográficos. Basta lembrar de “Logan”, “Pantera Negra”, “Capitão América: O Soldado Invernal”; retrocedendo no tempo, a trilogia do Batman de Christopher Nolan. O Universo Cinematográfico Marvel (MCU), por si só, já chegou a um ponto de fidelidade do público que qualquer história ultrapassa fácil os US$ 600 milhões de bilheteria.

Voltando às infinitas possibilidades de levar para a tela grande heróis e vilões – sim, vilões -, “Coringa”, longa de Todd Phillips que tem pré-estreia nesta quarta-feira (2). E chega sem a pretensão do “veja como podemos ser sérios”, mas a história de origem do maior inimigo do Batman já é apontada por defensores da longevidade do gênero como prova de que há muito a ser explorado no filão, basta fazer direito o trabalho e não se prender às mesmas formas. Prova são os elogios da crítica, as comparações com clássicos de Martin Scorcese como “O rei da comédia” e “Taxi driver”, e o Leão de Ouro, principal prêmio do Festival de Veneza que o longa levou no último mês. Indicações variadas ao Oscar já são dadas como certas.

PUBLICIDADE

Um novo Palhaço do Crime

Todd Phillips apresentou a proposta de um filme do Coringa para a Warner Bros. (dona dos direitos dos personagens da DC Comics) praticamente em paralelo ao conturbado momento vivido pelo estúdio em relação aos longas de super-heróis, que encarava as reações negativas de “Batman vs. Superman”, “Esquadrão Suicida” e “Liga da Justiça” – o que levou à decisão de desenvolver um universo menos interligado, o que se viu em “Mulher-Maravilha” e “Aquaman”, e prometido para “Aves de Rapina”, “The Batman” e o novo “Esquadrão Suicida”.

“Coringa”, por sua vez, seria ainda mais radical. A ideia era fazer uma história de origem totalmente descolada de qualquer ligação com os eventos dos blockbusters, inspirado no cinema americano do final dos anos 70, início dos 80; mais um estudo de personagem, a análise do que pode levar um homem a se transformar em algo capaz de chocar a sociedade, do que sugerir a criação de uma nova franquia.

PUBLICIDADE

Mal comparando, pode-se citar as graphic novels e minisséries em que os artistas têm liberdade para trabalhar com os personagens como bem entenderem. O próprio vilão ganhou essa liberdade em obras como “A piada mortal” e “Asilo Arkham”, em que sua loucura, crueldade, levam o Batman ao limite. Duas das raríssimas concessões a essa ligação com as histórias em quadrinhos estão no fato de a trama se passar em Gotham City e da presença de Thomas Wayne (Brett Cullen), o pai do futuro Cavaleiro das Trevas. O que fez muita gente questionar se era razoável dedicar um filme a um personagem monstruoso, vil e abjeto, capaz de matar o segundo Robin (Jason Todd) a golpes de pé-de-cabra e aleijar Barbara Gordon com um tiro e depois fotografá-la nua (em “A piada mortal”, e muitos afirmam até hoje que ela também foi estuprada pelo vilão).

Várias polêmicas surgiram: de que o longa humanizaria o personagem; que incitaria a violência em diversos níveis; que seria misógino ao mostrar o protagonista como integrante dos “incels”, homens celibatários de forma involuntária e que transformam essa insatisfação sexual em ódio pelas mulheres. E, claro, o fato de o vilão ter ganhado diversas representações no cinema (ver quadro); haveria gente interessada em mais uma?

PUBLICIDADE

Em Gotham, mas sem o Batman

As respostas paras essas questões vão depender do público que for ao cinema assistir a “Coringa”. Polêmicas à parte, Todd Phillips escreveu o roteiro com Scott Silver e situou sua Gotham City em 1981, distante de qualquer ligação com os filmes mais recentes da DC e em meio à crise econômica que os Estados Unidos vivam na época. Por isso Gotham é uma cidade suja, violenta, corrupta, capaz de destruir qualquer esperança – ainda mais de pessoas desajustadas, à margem da sociedade.

Uma dessas pessoas é Arthur Fleck (Joaquin Phoenix, elogiadíssimo pela atuação), que sonha em se tornar um comediante de stand-up de sucesso enquanto sobrevive fazendo bicos como palhaço. Sem dinheiro, amigos, namorada, resta a Arthur cuidar da mãe doente (Frances Conroy) e sofrer com uma série de distúrbios psiquiátricos e neurológicos, como um que faz com que comece a rir em momentos de ansiedade.

Todos esses fatores, aliados a uma profunda frustração e a violência ao redor, fazem com que Arthur vá perdendo o controle com o decorrer da história, mergulhando ele próprio num redemoinho de emoções, destruição, crimes, numa sociedade capaz de se encantar com a mesma violência que a destrói e corrompe – representada na história pelo personagem de Robert De Niro, um cínico apresentador de talk show.
Seja qual for a reação do espectador a “Coringa”, uma coisa pode ser considerada certa: se aproveitado em toda sua plenitude, o cinema derivado dos quadrinhos ainda tem uma longa e provavelmente infinita estrada a percorrer na sétima arte.

Vilão de várias faces

O Coringa foi criado por Jerry Robinson, Bill Finger e Bob Kane em 1940, tendo feito sua estreia nos quadrinhos no mesmo ano, na primeira edição de “Batman”. Desde então, ele se tornou o maior inimigo do vigilante de Gotham City e esteve presente em algumas das melhores histórias do personagem, como “A piada mortal”, “Morte em família”, “Asilo Arkham”, “Cavaleiro das Trevas”, “O homem que ri”, “Louco amor”, “Morte da família”.

O vilão, porém, é mais conhecido do grande público pelo audiovisual, inicialmente na televisão. Durante muitos anos a imagem que estava no inconsciente coletivo de gerações era o Coringa interpretado por George Romero na série de TV dos anos 60 e posteriormente na série animada dos anos 90, em que era dublado por ninguém menos que Mark Hammil, o Luke Skywalker de “Star Wars”.

Já no cinema, o personagem vai para sua quarta encarnação, depois de ser visto na tela grande interpretado por nomes como Jack Nicholson, Heath Ledger e Jared Leto, em que as diferentes visões dos diretores deram ao Coringa personalidades diferentes e, muitas vezes, polêmicas.

JACK NICHOLSON
Conhecido por filmes como “Um estranho no ninho” e “O iluminado”, Jack Nicholson era o astro que ajudaria a garantir a “Batman” (1989) o status de filme sério – pelo menos na visão da Warner. Já coroa e acima do peso, ele teve atuação elogiada por interpretar um criminoso de segunda escalão que, ao cair em tanque de produtos químicos (assim como em “A piada mortal”), enlouquece e assume o nome de Coringa, ameaçando Gotham City com uma série de ações tresloucadas e psicóticas. Foi o contraponto colorido, quase uma versão atualizada do “camp” de George Romero, ao sombrio filme dirigido por Tim Burton.

 

 

HEATH LEDGER
Para muitos, o melhor Coringa de todos. O sociopata frio e calculista de Ledger, o semeador do caos que acreditava que o mais incorruptível dos homens poderia sucumbir se passasse por um dia realmente ruim, rendeu ao ator o Oscar póstumo de ator coadjuvante – ele morreu em janeiro de 2008, seis meses antes da estreia de “Batman – O Cavaleiro das Trevas”. Sua interpretação no longa de Christopher Nolan como o antagonista de Bruce Wayne/Batman (Christian Bale) e Harvey Dent/Duas-Caras (Aaron Eckhart) é até hoje uma das mais impressionantes dentre as adaptações de HQs.

 

 

 

JARED LETO
Vamos lá, afirmar que este é o pior Coringa não é novidade. A decepção é menos com Jared Leto que com o que foi oferecido a ele no longa do Esquadrão Suicida. O ator teve uma entrega sincera ao personagem, sempre se mostrou animado com o desafio das comparações com os Coringas anteriores, mas o longa de David Ayer pouco aproveitou o potencial do personagem, e ainda apresentou uma versão equivocada cheia de tatuagens e uma postura de gangster que agradou a quem? Ninguém.

Exit mobile version