O desfile da Banda Daki deste ano teve um sabor especial, veio com um gostinho da vitória de quem conseguiu manter a tradição de levar a folia às ruas de Juiz de Fora mesmo em meio às dificuldades econômicas enfrentadas para a realização do carnaval. Foi nesse clima de alegria e agradecimento que foliões de diferentes gerações se encontraram neste sábado (2) para acompanhar o bloco mais tradicional da cidade, patrimônio cultural desde 2002. A concentração começou por volta das 11h no Largo do Riachuelo, no Centro. Por volta das 13h, os dois trios elétricos e o carro alegórico da banda partiram em direção à Avenida Rio Branco, sendo acompanhados pela multidão que esbanjava cores. A Polícia Militar não estimou o público presente.
Há 47 anos, a Banda Daki integra a programação oficial do carnaval juiz-forano. Nestes anos de história, pessoas que se apaixonaram pelo bloco e marcam presença há décadas tornaram-se parte dele. É o caso do jornalista Fernando Luís Baldioti, que há 38 anos veste a mesma fantasia de aluna do ensino infantil. “É uma felicidade muito grande estar com a banda há tanto tempo. A ideia é sempre trazer alegria, manter viva a chama do carnaval e celebrar a nossa cidade.” O mesmo acontece com o comerciante Gilberto Matheus, que sempre usa a fantasia de Quico da turma do Chaves. “Sou um grande fã e acredito que o personagem, embora não seja brasileiro, representa bem o carnaval, pois transmite muita alegria às pessoas.”
Quem também se tornou uma atração do bloco foi o casal Adriene Orsay e Alexandre Menegatti. Há 16 anos eles comparecem à avenida, sempre com uma caracterização diferente. A escolha deste ano foi pelos personagens Wolverine e Tempestade, do X-Men. “Nós ficamos juntos pela primeira vez em um desfile da Banda Daki, por isso, fazemos questão que a renovação dos votos do nosso casamento seja aqui”, conta ela. “Não tem clima melhor, pois é a concretização da nossa felicidade”, diz ele.
Gerações
A técnica em enfermagem Mariana dos Santos levou diferentes gerações da família para a festa. “É uma tradição. Há 14 anos, venho para a Banda Daki, só viajo depois do desfile, pois é uma alegria contagiante.” Mas não é só de veteranos que a Banda Daki é composta. A família da frentista Ellen França foi pela primeira vez à folia. “Nós vimos que é uma festa tranquila, bem família e por isso viemos todos juntos”, diz ela apontando para a filha Jordana, de 7 anos, e os irmãos Clara, de 16, e Gabriel, de 17.
Agradecimento
Para muitos foliões, o sentimento era de agradecimento pelo bloco não ter desistido de desfilar. No final do ano passado, a Prefeitura de Juiz de Fora informou que devido à crise financeira não investiria no carnaval deste ano e assumiria apenas o papel de ordenação pública, garantindo o fechamento de ruas, o desvio do trânsito, o controle dos horários dos eventos, a limpeza dos locais e a disponibilização de banheiros químicos. Desta forma, os blocos da cidade precisaram buscar alternativas próprias para se viabilizarem.
O folião Carlos César Guedes, que integrou a Corte Real carnavalesca da cidade durante 17 anos ao lado do irmão Júlio, e hoje é o rei momo da Banda Daki destacou o trabalho necessário para a realização do desfile. “Só tenho a agradecer à banda por não deixar o carnaval morrer mesmo diante de todas as dificuldades.” Outra presença ilustre no bloco, a drag queen Isabelita dos Patins, parabenizou a organização. “Há mais de 20 anos venho para essa festa linda, cheia de calor humano. Nós já vivemos um momento tão triste nesse país com a crise, não podemos tirar essa alegria do povo.”
De general à marechal
Conhecido como general da Banda Daki, o idealizador Zé Kodak subiu de patente, agora ele é denominado marechal. O antigo posto ficou com o amigo e também organizador da folia, Marcelo Barra. Sobre a superação das dificuldades para a realização do desfile foi categórico: “Quando se trabalha com amor e carinho é possível realizar sonhos.” E deixou claro que o mais importante é não deixar a peteca cair. “Problema, enfrentamos o ano inteiro, mas hoje é dia de alegria.”