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Paschoal Carlos Magno, um homem do teatro e para o teatro

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Paschoal Carlos Magno não nasceu em Juiz de Fora e não foi participante da cena teatral local, mas sua contribuição para as artes no Brasil durante o século XX mais que justificam a escolha de seu nome para batizar o teatro que será inaugurado nesta sexta-feira (2) – sem contar que, sem o seu arroubo durante o final da peça “Nem tudo está azul no país azul”, do Grupo Divulgação, em 1979, o então prefeito Mello Reis provavelmente jamais teria prometido a construção do espaço. Ator, diretor, dramaturgo, poeta e diplomata. A trajetória de Paschoal se confunde em diversas ocasiões com a história do teatro no Brasil.

Nascido em 13 de janeiro de 1906 no Rio de Janeiro, o artista teve sua estreia nas artes cênicas em 1926, como ator na peça “Abat-Jour”. Dois anos depois, escrevia críticas para “O Jornal”, formou-se em direito em 1929 e, em 1930, recebeu um prêmio da Academia Brasileira de Letras pela sua peça “Pierrot”. Durante a década de 1930, iniciou sua carreira diplomática, servindo em Londres, na Inglaterra; mais à frente, em 1937, fundou o Teatro do Estudante do Brasil (TEB) e criou o cargo de diretor teatral no país. A escolhida foi Itália Fausta, que assinou a direção de “Romeu e Julieta” em 1938.

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Sucesso na Europa

A passagem pela Europa rendeu a encenação na Inglaterra, em 1946, de sua peça “Tomorrow will be different”, que passou por outros países do Velho Continente. Em 1948, o TEB apresentou uma versão de “Hamlet” sob sua orientação e direção do alemão Hoffmann Harnisch. Além do sucesso, a versão para o drama de Shakespeare foi responsável pelo surgimento do então jovem Sérgio Cardoso, um dos grandes nomes do teatro brasileiro. No ano seguinte, ele presidiu o Festival Shakespeare no Rio de Janeiro, em que o TEB apresentou “Romeu e Julieta”, “Macbeth” e “Sonho de uma noite de verão”, além de criar com Alda Pereira Pinto o Teatro Experimental de Ópera. No final da década, foi eleito vereador pelo antigo Distrito Federal.

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Já nos anos 1950, Paschoal Carlos Magno levou o TEB por todo o Brasil, apresentando peças de Henrik Ibsen, Martins Pena, Shakespeare, Sófocles, Eurípides e Gil Vicente, e criou, no porão de sua casa, no bairro de Santa Tereza, no Rio, o Teatro Duse, que revelou nomes como Antonio Callado e Raquel de Queiroz. Sua disposição em descobrir novos talentos fez com que fosse escolhido pelo então presidente Juscelino Kubitschek para garimpar jovens promissores por todo o Brasil, além de ajudar na criação de espaços para a produção artística. Ele organizou, ainda, o primeiro Festival Nacional de Teatros de Estudantes, que acontece em 1958 em Recife (PE) e teve um total de seis edições.

Pelo Brasil afora

Em 1962, durante o governo João Goulart, foi nomeado secretário geral do Conselho Nacional de Cultura. Organizou então a Caravana da Cultura, que percorreu Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Alagoas e Sergipe com espetáculos de dança, teatro e música, além de exposições e distribuição de livros e discos. A carreira diplomática, que prosseguiu em paralelo à sua atividade cultural, foi interrompida após o golpe militar de 1964, quando foi afastado das funções. Mas ele não desistiu de fomentar a arte e fundou em 1965 a Aldeia de Arcozelo. Localizada em uma antiga fazenda na cidade fluminense de Paty do Alferes, ela foi doada por João Pinheiro Filho para que Paschoal a transformasse num local de intensa produção cultural.

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O projeto, porém, tem uma grandiosidade que fez com que ele se afundasse em dívidas. Vendeu o casarão onde ficava o Teatro Duse, e nem isso foi o suficiente para encerrar o passivo. Por isso, a Aldeia do Arcozelo ficou fechada por muitos anos, e anos depois tornou-se o Centro Cultural Paschoal Carlos Magnos. Porém, o local administrado pela Fundação Nacional de Arte, do Ministério da Cultura, está fechado à visitação.

O último grande projeto tocado por Paschoal Carlos Magno teve início em 1974. Inspirado na Caravana da Cultura, a Barca de Cultura desceu o Rio São Francisco entre as cidades de Pirapora (MG) e Juazeiro (BA), mas sem a mesma repercussão da iniciativa original. O teatrólogo morreu em sua terra natal, aos 74 anos, no dia 24 de maio de 1980, cerca de três meses antes de a Funalfa anunciar o projeto arquitetônico vencedor do teatro que levaria seu nome.

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