Site icon Tribuna de Minas

Perspectivas 2022: De olho no futuro, mas sem esquecer do passado

PUBLICIDADE

Não importa se é na política, esporte, economia: todo novo ano chega marcado pelas expectativas do que pode vir a acontecer. E com a cultura não é diferente, ainda mais depois de 18 meses sem eventos presenciais por causa da pandemia de Covid-19. A situação começou a normalizar apenas no final de setembro, quando a Prefeitura de Juiz de Fora começou a liberar os espaços culturais a retomarem suas atividades, respeitando pontos como limite de público, comprovação de vacinação, uso de máscaras e outras medidas necessárias para impedir novos casos na cidade.

O setor cultural, porém, ainda está se adaptando ao reencontro com o público. Enquanto os cinemas, espaços para shows e boates estão com uma agenda próxima ao dos tempos pré-pandêmicos, o teatro ainda enfrenta um futuro de incertezas. E foi para falar do passado recente e das perspectivas para o futuro que a Tribuna procurou vários personagens da cultura local, que compartilham as mais variadas experiências com a retomada das atividades e também seus planos e expectativas para 2022.

PUBLICIDADE

O futuro, como se percebe nos depoimentos, pode ser incerto em alguns casos, mas não faltará disposição para que a cultura juiz-forana recupere sua força.

Valéria Faria, pró-reitora de cultura da UFJF
“O ano de 2021 foi ainda mais desafiador que 2020 para a cultura na Universidade, que enfrentou não apenas o impacto da impossibilidade de públicos presenciais em seus espaços físicos até novembro, como também se defrontou com um corte orçamentário que abalou as perspectivas das instituições de ensino federais. Alternativamente, a Procult mergulhou no universo virtual, adotando-o em definitivo em suas programações futuras, por sua capacidade de agregar novos públicos a suas realizações. Para 2022, um ano que se pretende de muitas proposições nos nossos equipamentos culturais, as prioridades da Procult são inaugurar a Escola de Artes Pró-Música, o que deveria ter acontecido no primeiro ano da pandemia; realizar a exposição “Coleção Murilo Mendes: 25 anos” com o lançamento do catálogo, apresentando também o livro “Patrimônio vivo”, que contempla os 60 anos da Universidade Federal de Juiz de Fora; e entregar oficialmente ao público a Galeria Angelo Bigi, no Cine-Theatro Central, um projeto que assumimos a partir das doações feitas por Antônio Carlos Duarte, e que só agora será possível ser concretizada nos termos acordados entre as partes. Neste final de 2021, com a retomada gradual de espaços como o Museu de Arte Murilo Mendes, o Forum da Cultura, o Cine-Theatro Central, as galerias de arte na casa-sede do Jardim Botânico e o Espaço Reitoria, conseguimos restabelecer as visitações presenciais, com o público podendo, finalmente, retomar a experiência e a emoção de estar diante de uma obra de arte. O certo é que enxergamos oportunidades em um período de exceção, que veio comprovar que as realizações artístico-culturais são um respiro indispensável em nossas vidas.”

PUBLICIDADE

José Luiz Ribeiro, Grupo Divulgação
“O teatro é uma janela que se abre para a esperança. Durante estes anos de pandemia não paramos de recitar este mantra como reflexão. Em 18 de outubro de 2020, a Tribuna de Minas, em seu Caderno Dois, discutia os efeitos da Covid-19 nas atividades dos artistas da música e artes cênicas. Para o Grupo Divulgação as circunstâncias propostas foram um desafio. Seus três núcleos ficaram impedidos de frequentar o Fórum da Cultura diante da grande ameaça que modificou o comportamento na Universidade. Ação e reação fazem parte do trabalho do ator. Naqueles dias tínhamos marcado um encontro com nossos membros nas lives realizadas três vezes por semana. Falamos sobre o teatro, suas linguagens e sua história; entrevistamos ex-membros e fizemos comentários sobre os espetáculos realizados durante os 15 primeiros anos do GD, visitamos poetas com a participação de atores e atrizes que fizeram nossa história. Resgatamos emoções, apagando fronteiras temporais e espaciais, numa grande corrente de afeto que nos uniu através do teatro. Na nossa agenda de planejamento, 2022 é um ano em que se tem muito a comemorar. Temos necessidade de resgatar memórias para comemorar a encenação de “A morta”, espetáculo premiadíssimo que inaugurou o teatro do Forum da Cultura, comemorando o cinquentenário da Semana de Arte Moderna. Esse ano pretendemos lembrar o centenário do movimento de 22. Celebrar as ações de extensão, ensino e pesquisa realizadas nos 50 anos de permanência no espaço conferido pelo reitor Gilson Salomão, que nos possibilitou criar atividades em um Centro Cultural que abrigou milhares de espetáculos fazendo do Forum uma casa vibrante de encontros culturais. Temos muitos planos e dependemos do espaço para realizarmos dentro das normas permitidas pela instituição. A volta de encontros presenciais vai depender da nossa universidade e suas normas. Queremos iniciar em março com nosso mergulhão, depois a temporada de teatro infantil e espetáculo adulto. Estamos com sangue nos olhos e faca nos dentes, loucos para iniciar um tempo novo contra o negacionismo, as narrativas falsas e a falta de amor. Sabemos que o teatro é a grande vacina contra a estupidez que invadiu o mundo.”

Foto: Daniela Souza/Divulgação

Carú Rezende, Corpo Coletivo/OAndarDeBaixo
“O ano de 2021 foi desafiador e nos surpreendeu. Conseguimos fazer muitas ações culturais on-line e oferecemos uma oficina presencial no final do ano. Também pudemos voltar com os ensaios presenciais de um novo espetáculo do Corpo Coletivo, que tem estreia marcada para março de 2022. O nosso espaço OAndarDeBaixo, impactado por tudo que vivemos até aqui, no próximo ano vai se desdobrar em uma produtora de espetáculos e eventos culturais, criando em parceria com outros agentes da cidade. Vamos fortalecer a presença do Corpo Coletivo na dinâmica teatral de Juiz de Fora, multiplicando a potência que o Andar nos trouxe nesses mais de cinco anos de existência, e verticalizando nossa exploração de espaços não convencionais para a arte acontecer. Os espaços abertos, a rua, as praças vão ganhar cada vez mais força. Acredito que no próximo ano o público vai voltar aos teatros, se sentindo cada vez mais seguro e mais interessado em tudo que propõe encontros presenciais.”

PUBLICIDADE

Guilherme Imbroisi, empresário do setor cultural
“O ano de 2021 foi de muita expectativa e planejamento, olhamos vários imóveis e conversamos com muitos parceiros. Depois de muito sonhar, entendemos que precisaríamos de muita força para recuperar a cena cultural e que seria impossível fazer isso sozinhos. Por esse motivo nos unimos com agentes culturais da cidade como OAndarDeBaixo, o São Bartolomeu e o Marcelão Panisset (ex-Cultural Bar) para criar um novo complexo cultural, uma chama de esperança em meio ao caos, uma oportunidade de resgatar a força do cenário cultural que pulsa em Juiz de Fora. Temos certeza que não será nada fácil, a possível reincidência do vírus, a situação financeira do país e até o próprio hábito de sair e frequentar eventos serão fantasmas que não nos abandonarão tão cedo, mas o barco tem que voltar a navegar, senão cada dia será mais difícil recuperar o tempo perdido. Bandas de desfizeram, técnicos mudaram de profissão e é nossa responsabilidade manter a “máquina” da cultura em movimento mesmo que em tempos difíceis.”

André Luiz Pereira, empresário do setor cultural
“Após 21 meses com o Cultural fechado para o público, vê-lo reaberto nos deu enorme esperança de que 2022 será um excelente ano para o setor de eventos. Com a nossa festa de Réveillon, teremos feito 20 eventos em 50 dias, num reencontro com nosso público que movimentou a cena artística da cidade ao menos três vezes por semana, com uma média excelente de pessoas presentes. Fizemos eventos para públicos variados, de diversos estilos, já trazendo artistas que se apresentam nacionalmente, mas com a constante intenção de dar palco e amplificar a voz dos talentos que temos em Juiz de Fora. Nossa leitura é que deu certo. Estamos recebendo, de forma constante, elogios sobre nossas produções, que são méritos de quem se apresentou, da mesma forma que os próprios artistas dizem que estão percebendo o público ainda mais interessado do que antes do início da pandemia. Essa troca entre palco e plateia está muito gostosa e nos motiva demais para dar sequência ao nosso trabalho e nossos projetos. A vacinação tem se mostrado eficaz, e é importante que a gente continue com o protocolo de receber apenas quem está com as doses em dia. Acredito que, assim, em breve teremos a pandemia apenas como lembrança. Tenho certeza que faremos grandes eventos nesse ano que está para começar desde o seu primeiro mês, com festas, shows nacionais, festivais e, principalmente, com o fortalecimento de toda a cadeia produtiva do setor. Os artistas e demais profissionais podem esperar um Cultural ainda mais atuante e interessado em ser cada vez mais uma referência de bom produtor, incentivador, investidor e difusor de cultura em nossa cidade. Para o público, nosso desejo é que a gente consiga cada vez mais fazer a diferença e entregar mais do que apenas entretenimento, incentivando uma comunidade que se diverte junta, se apoia, se respeita e se entende mesmo com sua diversidade.”

PUBLICIDADE
Foto: Klaw Nunes/Divulgação

Gabriel Acaju, músico
“O ano de 2021 foi de inaugurações, um período de procurar novas soluções para tornar pública a minha arte; sobretudo, foi um período de preparação, de trabalhar a base de seguidores e fãs. Para isso foi necessário explorar saídas não antes exploradas para estar em contato com o público. Foi o ano também do meu primeiro festival nacional de MPB, na cidade de Santa Maria (RS), em que fui o primeiro finalista não gaúcho em 38 edições do evento, além de ter sido convidado a participar da final de um outro festival, no estado de São Paulo, mas não pude comparecer. Me sinto humildemente honrado de ser reconhecido nessa qualidade. Em 2022, no dia 15 de janeiro vou inaugurar o ano novo do Cultural, dando continuidade ao trabalho prolífico que venho fazendo com Luqui di Falco, comemorando meu aniversário com um espetáculo inédito, preparado especialmente para a ocasião, junto do Só Parent, Helgi e Samba de Colher. Ainda estarei de volta aos estúdios e será também um ano de muitas apresentações e lançamentos, com um curta com data marcada e novos materiais que já estão sendo produzidos.

Thiago Salomão, músico
Voltar aos palcos foi maravilhoso, era uma coisa que a gente estava doido pra fazer. O Martiataka enquanto banda ficou mesmo bem parado durante a pandemia, a gente ama escrever, gravar… mas a interação com o público é muito importante pra nós, então preferimos esperar mesmo o momento de voltar. Já fizemos um primeiro show tocando as nossas músicas e foi maravilhoso, vendemos todas as mesas no Bar da Fábrica. Para o próximo ano estamos pensando em lançar material novo junto com uma outra ideia que estamos maturando há um tempo: queremos pegar todos os singles que temos espalhados por aí e que não entraram em nenhum CD e colocar num lançamento junto com músicas novas. Sobre a retomara dos shows, acho que o público também está maluco pela volta; o esforço vai ser mais no sentido de divulgar mesmo.

Exit mobile version