A chegada de “Mulher-Maravilha” aos cinemas nesta quinta-feira (1º de junho) é marcada por uma série de expectativas e simbolismos – que não são poucos. O longa dirigido por Patty Jenkins é o primeiro do gênero a ter uma mulher comandando as filmagens. Além disso, é o primeiro a ser estrelado por uma heroína desde 1984, quando Helen Slater vestiu o collant azul e vermelho em “Supergirl” – neste caso, “Mulher-Gato” (2004) e “Elektra” (2005) não entram na conta, pois eles nunca foram heroínas “clássicas”.
O longa marca, ainda, o retorno da Mulher-Maravilha ao protagonismo audiovisual depois de quase quatro décadas do fim da série de TV estrelado por Linda Carter – houve até a tentativa de um piloto de série de TV, anos atrás, que fracassou. Além disso, esta pode ser considerada a primeira vitória da DC contra a Marvel no cinema em muito tempo, pois a concorrente nunca conseguiu dar maior destaque às personagens femininas em suas produções e ainda não começou a filmar o longa da Capitã Marvel. Joss Whedon tentou emplacar um roteiro estrelado pela semideusa na década passada, mas o projeto foi engavetado, e só agora a Mulher-Maravilha passa a ter um filme solo, fechando a Trindade da DC (da qual fazem parte o Batman e Superman) no cinema.
Quanto às expectativas, muitos apostam que o longa pode ser o ponto de partida para a Warner/DC Comics virar o jogo (ou pelo menos empatá-lo) na competição com a rival Disney/Marvel Studios, que desde que estabeleceu seu Universo Cinematográfico com “Homem de Ferro”, em 2008, viu seus filmes equilibrarem a equação crítica-bilheteria com sucesso.
A Warner, porém, desde que encerrou a trilogia do Batman de Christopher Nolan, queimou três cartuchos com “Homem de Aço” (2013), “Batman vs. Superman” e “Esquadrão Suicida” (ambos de 2016), e precisa que o longa estrelado pela semideusa de Themyscira prepare terreno, sozinho, para “Liga da Justiça”, que chega aos cinemas em novembro marcado por desconfianças, refilmagens e a saída do diretor Zack Snyder da pós-produção após o suicídio da filha.
A elogiada participação de Gal Gadot em “BvS” é outro trunfo para aumentar a curiosidade do público. Inicialmente desprezada pela comunidade dos quadrinhos, a atriz israelense (também modelo e ex-recruta do exército de seu país, especialista em combate corpo a corpo) mostrou seu valor e passou ao largo de polêmicas na internet, que foram do figurino de combate da personagem às axilas retocadas por computador (sim, tem gente com tempo pra tudo nessa vida). A expectativa era de uma abertura de cerca de US$ 65 milhões no final de semana de estreia de “Mulher-Maravilha” nos Estados Unidos, que acontece na sexta-feira (2). As primeiras críticas, porém, podem ajudar a elevar o montante.
Um século entre nós
Quanto à trama, Patty Jenkins e o roteirista Allan Heinberg (a partir de ideias do próprio Heinberg, Zack Snyder e Jason Fuchs) preferiram deslocar a história dos dias atuais e colocar a Mulher-Maravilha como uma figura que anda por aí, defendendo a humanidade, muito tempo antes de Batman e Superman surgirem no pedaço.
O filme é localizado temporalmente durante a Primeira Guerra Mundial e apresenta a princesa Diana (a Mulher-Maravilha) como uma das moradores de Themyscira, uma ilha desconhecida e habitada apenas pelas Amazonas, que decidiram se isolar do mundo dos homens. A jovem é treinada de forma severa para a arte do combate pela sua tia Antíope (Robin Wright) por determinação de sua mãe, a rainha Hipólita (Connie Nielsen), que busca esconder de Diana a sua verdadeira origem – o que se torna difícil à medida que ela começa a demonstrar seus poderes.
A situação muda quando o avião pilotado pelo americano Steve Trevor (Chris Pine) cai nas proximidades da ilha, com a princesa salvando sua vida. Alvo da desconfiança das amazonas, Trevor alerta Hipólita sobre a guerra que acontece na Europa e de como ela pode chegar até a ilha. A única a ouvi-lo é Diana, que rouba o Laço da Verdade, a espada e o escudo sagrados e parte com Trevor para Londres. A diferença entre a vida em Themyscira e o mundo dos homens é um choque para Diana, que não consegue conceber uma civilização devotada ao conflito e vivendo em meio à pobreza e à poluição, sem contar a sociedade patriarcal que coloca as mulheres em segundo plano.
Mas tem mais: logo a Mulher-Maravilha se vê engajada no combate em terras europeias e tendo que derrotar os vilões do filme. O principal deles é Ares (David Thewlis), o deus grego da Guerra; disfarçado como Sir Patrick Morgan, ele se apresenta como um defensor da paz no Conselho de Guerra, mas apenas manipulando a situação em busca da destruição da humanidade. Além de Ares, a Mulher-Maravilha terá que ficar de olhos abertos em relação a Erich Ludendorff (Danny Huston), um general do Exército Alemão, e na Doutora Veneno (Elena Anaya), cientista louca que desenvolve uma arma química letal que pode desequilibrar os rumos da guerra.
Um ícone do feminismo nas HQs
Criada em 1941 pelo psicólogo William Moulton Marston, a Mulher-Maravilha surgiu como uma proposta de figura heróica que representasse o feminismo e a liberdade de escolha da mulher, incluindo algumas pitadas de bondage (do qual era Marston praticante) por meio do Laço da Verdade – muito a ver com a obsessão do psicólogo em descobrir o que as pessoas escondiam, tanto que ele foi o criador do polígrafo (detector de mentiras).
Numa época em que os quadrinhos eram vistos como “coisa de meninos” e estrelados apenas por heróis musculosos e autoconfiantes, a personagem se tornou um sucesso e hoje em dia é integrante incontestável da Trindade da DC Comics, que inclui nada menos que Batman e Superman. Com quase 76 anos de trajetória na nona arte, a Mulher-Maravilha passou pelas mãos de incontáveis desenhistas e escritores, dentre os quais George Pérez (que tem suas histórias com a personagem atualmente republicadas no Brasil), Grant Morrison, Gail Simone e Greg Rucka.
A importância da Mulher-Maravilha na cultura pop e como ícone do feminismo se tornou marcante a ponto de a personagem se tornar Embaixadora Honorária para as Mulheres e Meninas pelas Nações Unidas, tendo sua imagem utilizada em campanhas publicitárias que incentivem a igualdade de gênero e maior participação das mulheres na vida pública.
Quem quiser dar uma forcinha pode utilizar a hashtag #WithWonderWoman nas redes sociais.