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Ingoma desfila seus tambores e patangomes nesta quinta

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Os tambores resgatam o congado, que resgata Chico Rei, que resgata os navios negreiros, que resgatam a escravidão no Brasil, que resgata a África, a grande raiz. Resgates presentes no som dos 70 tambores do grupo Ingoma, que desce o Calçadão no início da noite desta quinta (1º), após concentração no Parque Halfeld, a partir das 16h. Celebrando dez anos de estrada, o bloco convida para a folia MC Xuxu, que acaba de lançar o álbum “Senzala”, cuja faixa-título tem a participação do grupo de tambor. Também farão parte do terceiro desfile do bloco a Caravana de Palhaços do Mezcla e as Folias de Reis da Associação de Folias de Reis e Charolas de Juiz de Fora, além de seus componentes fixos e do contrabaixista Adalberto Silva, do clarinetista Caetano Brasil, do percussionista Geison Vargas e dos cantores Elmir Santos, Mila Aguiar, Nadia Ribeiro e Uiara Leigo.

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Formado por músicos e entusiastas, Ingoma desfila seus tambores mineiros e os patangomes e gungas produzidos em oficinas. (Foto: Olavo Prazeres)

Expressão de uma Minas profunda, o congado viu os séculos passarem e, pela tradição oral, permanecerem as danças, músicas, vestimentas e outros elementos a celebrar a Festa de Nossa Senhora do Rosário. “As festas são muito distintas entre si, cada uma traz características específicas. Em alguns lugares usam instrumentos harmônicos, em outros não. Mudam, também, as vestimentas e os personagens da festa. Através do trabalho do Maurício Tizumba, do Tambolelê e do Milton Nascimento, foram sintetizadas células-base para os ritmos que são tocados pelas guardas de congado e de reinado no interior do estado. Dentro disso temos o congo, os moçambiques e as marchas grave”, explica o coordenador do Ingoma, Lucas Soares, que, em solo alemão, onde viveu por três anos, descobriu raízes próximas da casa que deixou no Brasil.

“Nesse momento, por incrível que pareça, pesquisei muito mais música popular brasileira do que música europeia. Surgiu em mim um interesse muito grande por ritmos tipicamente brasileiros, como samba de roda, baião, maracatu, frevo, sete flechas, boi, que são muito distintos. Em relação ao tambor mineiro, quando cheguei a Juiz de Fora, já tinha um movimento incipiente começando na cidade”, conta o músico, compositor e arranjador. “O Ingoma sempre foi uma construção coletiva, que, como qualquer outra, passou por muitos percalços, por pessoas que entram, contribuem e saem. O cerne disso é que sempre teve um núcleo grande de pessoas interessadas em pesquisar esse viés da manifestação artística do congado mineiro na cidade. Isso começou há dez anos e permanece evoluindo, querendo se aproximar das comunidades e voltar para Juiz de Fora em forma de produto cultural.”

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“Chora ingoma!”

Na cidade que fez tradicionais suas folias e charolas, o Ingoma ensinou a batucar e chocalhar mais de mil alunos em dez anos. “O tambor mineiro segue a tradição dos tambores regionais de caixa do Brasil”, comenta Lucas Soares, citando semelhanças do instrumento mineiro com as alfaias do maracatu e com o gaúcho bombo leguero. “Mas cada um traz uma amarração diferente, uma forma de dobrar a madeira ou uma escolha de pele diferente. O tambor é o que temos de instrumento mais mineiro possível. Acho o patangome mais particular ainda. É um chocalho de mão feito com latas de biscoito ou calotas de carro, que se toca com uma síncope muito característica, bem dividida. É um instrumento que, quando chegamos a outros estados, desperta muito interesse. Tem, ainda, as gungas, que são chocalhos de pé, latas amarradas nos pés, como se fossem guizos, que se toca com as batidas no chão”, diz ele, que nas oficinas do projeto ensina os participantes a fabricarem seus patangomes e gungas.

Na próxima quarta-feira (7), às 19h30, os instrumentos tipicamente mineiros retornam ao carnaval de Juiz de Fora para ocupar o palco da Praça Antônio Carlos, onde recebem a maranhense Rita Benneditto e seu canto potente. “A Rita faz um trabalho de pesquisa da música popular de matriz afro-brasileira muito forte, com uma característica de repaginar, modernizar. Tanto que o disco que completa dez anos agora, o ‘Tecnomacumba’, carrega isso no nome: macumba traz a noção de cultura afro-brasileira ancestral, mas o tecno entra em conflito com isso. Ela é um nome de referência para quem estuda, pesquisa e faz música com esse viés”, pontua Soares, certo do valor das atualizações e também das heranças.

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No mesmo colorido que toma conta de seus tambores, o Ingoma transita entre composições autorais e cânticos que resistiram por sucessivas gerações. “Ingoma significa tambor. Na tradição, pode referir ao coletivo, à falange toda dos participantes”, conta Soares. “Tem um grito que é muito comum de acontecer nas festas que é o ‘Chora ingoma!’, uma chamada para todo mundo cantar junto, soltando a voz.”

Pura purpurina

Coroada no último dia 25, a Miss Purpurina Eva Medsan é quem comanda o Bloco do Realce nesta sexta (2), das 16h às 21h, na Praça Antônio Carlos. Mistura de coletivo queer, bloco carnavalesco e drag house, o projeto chega ao quinto ano reunindo o grupo de performances Barbies, o DJ Crraudio e a banda do bloco, formada pelo baterista Henrique Nogueira, pelo baixista Marcelo Mattos, pelo violonista Victor Guelber e pela vocalista Érika Oliveira, além de contar com a presença de drags locais e da Miss Purpurina de 2018. Nesta quinta (1º), o Realce faz esquenta, às 19h, no Bar Vizú (Rua Morais e Castro 835).

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Cortejo do Ingoma
Concentração nesta quinta (1º), às 16h, no Parque Halfeld. Desfile às 18h30

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