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Abrindo mão da festa

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Mais de 20 mil pessoas acompanharam o Come Quieto em 2016 (Foto: Olavo Prazeres)

Não vai ter carnaval em 2017 no Alto dos Passos. Pelo menos não da forma como os foliões estavam acostumados. Primeiro veio o anúncio de que o Bloco Come Quieto deixou a Rua Dom Viçoso, uma das principais do bairro, para reunir os seus foliões num espaço fechado: o Terrazo, no Bairro Teixeiras. A decisão foi tomada após acordo com os moradores que reclamaram dos transtornos gerados pela presença de cerca de 20 mil pessoas que acompanharam o bloco no ano passado. E o bairro não terá um “Plano B” para a folia. A Sociedade Pró-Melhoramentos do Alto dos Passos (SPM Alto dos Passos), seguindo o resultado de uma enquete realizada entre os residentes, em meados do ano passado, recusou a proposta apresentada pela Abrasel-ZM. Em uma discussão em que todos têm o seu quinhão de razão, a única certeza é que o carnaval não será o mesmo no bairro. Para o bem e para mal, dependendo de cada lado.

Entidade que organizava o evento em conjunto com o Come Quieto nos últimos anos, a Abrasel-ZM (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Zona da Mata) apresentou uma opção que teria, na opinião da entidade, menor impacto de público e transtornos para os moradores. Segundo a presidente da Abrasel-ZM, Carla Simone Pires da Silva, o objetivo era não deixar o Alto dos Passos fora da programação carnavalesca de Juiz de Fora, resgatando o espírito dos antigos carnavais. “O bairro é berço da (escola de samba) Unidos dos Passos, que venceu diversos desfiles e teve um samba que se tornou conhecido nacionalmente (“Exaltação ao Rio São Francisco”). Apresentamos a proposta de resgatar esse carnaval de sambas antigos, de marchinhas, que seriam executados por uma bateria de escola de samba. Nós convidamos antigos integrantes da escola, conseguimos fotos antigas, mas a associação não viu isso como algo positivo”, diz.

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Ainda de acordo com Carla, foram realizadas duas reuniões com a SPM Alto dos Passos durante o mês de janeiro para apresentar o projeto. “Eles disseram que não queriam. Juiz de Fora não tem uma lei soberana sobre ocupação dos espaços públicos, o que existe é uma lei que dá às associações de moradores o poder de permitir ou não os eventos nas ruas, é preciso a anuência delas. O que eu acho errado, pois essa lei permite que essas entidades se sobreponham a um poder maior que é a Prefeitura.”

Carla Simone disse ainda que o evento seria realizado na mesma Rua Dom Viçoso dos anos anteriores, mas com a estrutura que tanto a entidade quanto o bloco sempre providenciaram. “Ele seria realizado com toda segurança, como sempre ocorre no Corredor da Folia e como foi feito, inclusive, na Copa do Mundo. Teríamos gradis, policiamento, seguranças particulares, banheiros químicos, atendendo a todas as exigências da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros”, afirma, ressaltando que a festa aconteceria entre 10h e 22h do dia 18 de fevereiro. “Seria um evento menor, pois no mesmo dia teremos o Come Quieto no espaço fechado, o bloco Concreto Armado na Praça do São Mateus e o desfile das escolas de samba, o que dividiria o público entre essas atrações.”

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Ainda de acordo com Carla, a passagem do Bloco Come Quieto em 2016 não provocou nenhuma ocorrência policial relevante, e que uma das reclamações dos moradores – a sujeira resultante da aglomeração de pessoas – foi resolvida rapidamente. “A festa estava marcada para acabar às 22h, e nós terminamos no horário. E o Demlurb realizou a limpeza da Dom Viçoso logo em seguida, em uma hora ela estava limpa. Algumas questões pontuais sempre vão acontecer, como alguém urinar no portão de uma casa apesar dos 40 banheiros químicos disponibilizados.” Apesar da não realização este ano, a Abrasel não vai desistir de tentar realizar o evento em 2018. “A associação diz que o bairro não quer, mas aí você tem que ver se o bairro são dez, 20 pessoas ou cinco mil, pois moradores vieram conversar conosco cobrando se vai ter alguma coisa no carnaval.”
Decisão por meio de consulta

A Sociedade Pró-Melhoramentos do Alto dos Passos também foi procurada pela Tribuna para externar sua posição quanto à negativa sobre a proposta que manteria o bairro no Corredor da Folia. Segundo a atual presidente da SPM, Ana Paula Carvalho dos Santos, a entidade como um todo não gostaria de proibir o evento, mas também não aceita os transtornos constatados com os últimos carnavais. Além do mais, a SPM respeita uma decisão tomada pelos moradores ainda em 2016.”Esse assunto foi tratado pela administração anterior à nossa, e mantivemos a palavra. Foi realizada no ano passado uma enquete sobre eventos de rua em geral, como o carnaval. Cerca de 500 moradores e comerciantes participaram da consulta, e apenas 30 pessoas se mostraram favoráveis à continuidade da realização desses eventos”, diz.

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Ainda de acordo com Ana Paula, a enquete foi feita por meio de abordagens pessoais, por telefone (com moradores cadastrados), pelo grupo da SPM no WhatsApp e visitas domiciliares a residentes mais idosos. “Fomos orientados pelo capitão Vinicius, da PM, para saber a opinião do maior número de moradores, pois temos poucos cadastrados para realizar uma votação. Todo o processo foi imparcial, tanto que fizemos a enquete no lugar de um abaixo-assinado.”
A representante da associação reafirma que a SPM gostaria de manter os blocos, mas que a situação fica insustentável mesmo com toda a estrutura montada pela Abrasel e a presença de policiais e seguranças. Segundo Ana Paula, os transtornos causados pelo Bloco Come Quieto não se concentram apenas na Dom Viçoso, mas também nas vias próximas. “Nós presenciamos muita violência, falta de segurança, excesso de consumo de bebida alcoólica por jovens, pessoas fazendo sexo na rua. Temos casos de vandalismo nas ruas próximas, que inclusive não passam pela limpeza que o Demlurb realiza na Dom Viçoso.”

Quanto à argumentação da Abrasel-ZM de que o evento seria de menor porte devido as outras atrações marcadas para o mesmo dia, Ana Paula se mostra cética quanto à afirmativa. Na sua visão, o Alto dos Passos é considerado um local tradicional para a folia, e as vias do bairro acabariam recebendo um público bem acima do esperado, suplantando a capacidade operacional dos policias que seriam deslocados para garantir a tranquilidade e a ordem da festa. “Não tem como prever se vai ser um evento pequeno, pois é na rua, vem quem quer”, argumenta. “Já tem a tradição de ser aqui, não importa se é o Come Quieto, um bloco menor, a pessoa quer usufruir de uma atração gratuita. “É muito triste, porque a gente gosta de carnaval, mas não tem como resgatar uma coisa do passado para os dias atuais”, prossegue. “Não tem como ser pequeno, então é melhor prevenir. Ficamos chateados por dizer não, mas não temos como aceitar.”

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