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“Soul”, nova animação da Pixar, chega ao Disney+

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Joe Gardner está prestes a realizar seu sonho quando a vida – ou o fim dela – muda seus planos (Foto: Divulgação)

A Pixar conquistou os corações de milhões pelo mundo não apenas pela qualidade ímpar de suas animações, mas principalmente por tratar de sentimentos tão difíceis de expressar por meio de imagens, se pensarmos que suas animações são, a princípio, destinadas ao público infantil. Mas lá estão temas como depressão, luto, saudade, o sentimento de perda, amor, amizade, desapego, a passagem para a vida adulta, o desejo de pertencer a algum lugar, a solidão. É desse material que surgiram obras que aprendemos a amar e com a qual nos emocionamos, casos de “Divertida mente”, “Up – Altas aventuras”, “Dois irmãos”, “Viva – A vida é uma festa”, “Os Incríveis” e toda a franquia “Toy Story”.

“Soul”, mais recente produção do estúdio, estreou no último dia 25 no Disney+ e já pode entrar na lista de produções que vão divertir o público, mas, principalmente, deixar aquela lágrima escapar do olho – na verdade, serão muitas – e fazer o público refletir sobre sua vida por horas, provavelmente dias, graças ao trabalho do diretor Peter Docter (“Divertida mente”), em parceria com Kemp Powers.

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Desta vez, as muitas perguntas envolvem questões como “quem sou eu?”, “por que sou assim?”, “o que fiz da minha vida?”, “qual o meu propósito no mundo?”, “valeu a pena abrir mão de tudo por conta de apenas um sonho?”, “o que eu perdi ao ter apenas um objetivo na vida?”, “qual o sentido da vida?”, “o que me define?”, “o que pretendo ser, conquistar?”, “o que a vida me oferece e posso aproveitar?”

Jazz e nada mais

São essas as perguntas que o protagonista de “Soul”, Joe Gardner, sequer percebe ao tentar alcançar de forma obsessiva o seu sonho. No início do filme, ele é um músico de jazz frustrado que ganha a vida como professor de música em uma escola, emprego temporário até ele ser informado que será efetivado em tempo integral, com direito a plano de saúde e aposentadoria, entre outros benefícios. Mas não é isso que ele quer da vida: seu desejo é seguir os passos do falecido pai e ser um artista que vive apenas da arte.

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Depois de tantas negativas em inúmeras audições, a oportunidade surge quando a banda de uma famosa saxofonista precisa urgentemente de um pianista para um show no mesmo dia e, graças a um ex-aluno, Joe tem a chance de ficar com o posto – o que ele consegue. Tão obcecado com a oportunidade alcançada, o músico esquece de tudo ao redor e, por causa disso, cai em um bueiro aberto e fica a um passo da morte, com sua alma despertando na esteira que o levará ao pós-vida.

Joe, porém, não aceita que sua vida termine justamente quando está às vésperas de realizar o sonho de uma existência inteira e consegue fugir, indo parar no pré-vida, lugar onde as jovens almas ganham suas personalidades e, quando completam o treinamento ao descobrirem seu principal talento, fazem um salto de fé até a Terra para encararem o mundo.

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No meio dessa confusão, Joe é confundido com um “mentor” (figuras que podem servir de inspiração para as alminhas, como Einstein, Ghandi, Marie Curie) e é incumbido de encontrar o propósito de vida da indomável 22, uma alma que há séculos se recusa a encarar o mundo real por acreditar que a vida não tem graça, é estúpida, essas coisas. Ela prefere o conforto da não-existência, e por isso faz de tudo para levar seus mentores à loucura – incluindo o ex-presidente Abraham Lincoln, o filósofo Aristóteles e o desenhista Jack Kirby.

O pianista vê na pequena 22 uma oportunidade para retornar ao seu corpo, e para isso faz de tudo para que ela consiga encontrar seu propósito e, assim, usar o “cartão de personalidade” dela para retornar ao seu corpo, que está nas últimas em um hospital. É nesse momento, entretanto, que acontece aquele acidente providencial que vai levar a dupla até nosso mundo, mas não da forma que nenhum deles esperava.

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No pré-vida, protagonista precisa ser o “mentor” de uma alma que prefere não encarar o mundo real (Foto: Divulgação)

Viver a vida ou trocar tudo por um sonho?

A partir de então, “Soul” mostrará Joe Gardner e 22 tentando consertar a besteira que fizeram. É pelas experiências que ambos têm de encarar que eles começam a refletir sobre todas aquelas perguntas listadas lá no início da resenha. Sem entregar spoilers, podemos dizer que Joe aprende que realizar seus sonhos pode trazer felicidade, mas que ela pode ser efêmera e que a vida é muito mais que ter um propósito que, se tratado como obsessão, pode reduzir a essência do que somos quando deixamos de aproveitar tudo o que a vida oferece – além de que a obsessão pode nos alienar de tudo aquilo que está ao nosso redor. No caso de 22, é perceber que a vida tem suas frustrações e dores e tristezas, mas ela é muito mais do que isso, dos pequenos momentos às alegrias efêmeras, passando pelas sensações que só podemos experimentar quando estamos receptivos para a vida em sua plenitude. Sabe aquele lance de que a vida será vivida melhor se não tiver significado? Então.

Como é tradição nas produções do estúdio, “Soul” é mais um passo adiante na excelência da Pixar quando o assunto é animação. O grau de realismo cresce aos olhos quando estamos em Nova York, mas o deleite visual prossegue mesmo quando somos apresentados ao caminho do pós-vida mas, em especial, ao mundo colorido e lúdico do pré-vida, com todas suas alminhas fofinhas e as criaturas bidimensionais com os pés no universo do abstrato e surreal. Outro destaque vai para a trilha sonora: enquanto Jon Batiste entrega números de jazz contagiantes, a dupla formada por Trent Reznor (o insano líder do trevoso Nine Inch Nails) e Atticus Ross compõe sequências musicais que ajudam a tornar a experiência ainda mais marcante.

Ao final de 100 minutos de muitos risos e lágrimas, é impossível não se emocionar mais uma vez com a Pixar atingindo em cheio o nosso plexo solar sentimental, pois “Soul” – com o perdão do trocadilho – é um filme cheio de alma e emoção.

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