Em função do Dia Mundial de Combate à Aids, lembrado nessa sexta-feira, 1º, há diversas ações em andamento, planejadas para reforçar a continuidade da conscientização. O que marca a data é o ato de concentração das pessoas no Parque Halfeld, às 11h. Os participantes vão ganhar uma camisa vermelha e devem descer o Calçadão da Halfeld até a Praça João Pessoa, em frente ao Cine-Theatro Central, onde formarão a imagem do laço, símbolo do dezembro vermelho. Com foco na informação e conscientização, haverá apresentação de hip-hop durante a ação, que também deve contar com panfletagem e distribuição de preservativos.
O Departamento de DST/Aids da Prefeitura apresenta, nesse ano, mais um mecanismo de defesa que é o Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP), por meio do medicamento Truvada, que deve ser usado de maneira combinada com o preservativo e deve começar a ser disponibilizado em janeiro. Quem tem acesso ao composto, nas versões comprimido e gel, é o público considerável elegível, que é formado por homens gays, profissionais do sexo, pessoas trans e casais sorodiferentes. Dados informados pela Secretaria de Saúde frisam a testagem ampla do medicamento e a redução de 95% da transmissão do vírus via relação sexual e 70% em usuários de drogas injetáveis.
“Para ter acesso ao PrEP, a pessoa deve passar pela avaliação do Departamento de DST/AIDS, que está ampliando o ambulatório para tratar diretamente esse público. Para isso, é necessário uma equipe mínima, multiprofissional. Vamos ouvir as demandas desses usuários e avaliar se têm perfil para o medicamento”, diz o gerente do Departamento de DST/Aids, Oswaldo Alves dos Santos. Em um primeiro momento, como o departamento ainda não tem noção de como será a demanda do projeto piloto, a intenção é que os atendimentos aconteçam uma vez por semana. “A PrEP não é um mecanismo de urgência, pode ser combinada. Podemos agendar uma consulta para o usuário. Ela precisa sempre estar associada a outras medidas de prevenção. É importante lembrar que ela sozinha não faz diferença, só diminui o risco de infecção pelo HIV, não protege a pessoa das outras DSTs. Desse modo, o uso do preservativo ainda é indispensável.”
Ainda de acordo com Oswaldo, o público elegível passa por profissionais como assistentes sociais, psicólogos, e uma equipe multiprofissional do serviço, porque a partir desse momento, vai ser definido o critério para o uso da PrEP. “A Profilaxia não vaio ser liberada para todo mundo, a camisinha ainda é o melhor método de prevenção contra o HIV e demais DSTs. A PrEP vem para ampliar essa prevenção.” A expectativa do Departamento é que a adesão à novidade aconteça gradualmente nos próximos meses. O medicamento não vai ser disponibilizado nas farmácias convencionais, sendo distribuído apenas por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Juiz de Fora é a quarta cidade mineira a receber o método, que está em implantação em 35 cidades brasileiras. A ideia é que as pessoas que já fazem acompanhamento sejam as primeiras a ter contato com essa frente de prevenção.
“Temos ao todo 4.357 usuários em tratamento. Se cada um tiver um cônjuge, e ele aderir à PrEP, vamos dobrar o número de atendimentos”, avalia Oswaldo.
Aumento no número de infecções em jovens preocupa
O gerente do Departamento de DST/ Aids, Oswaldo Alves, afirmou que, assim como no país, o aumento do número de infecções entre jovens entre 15 e 30 anos causa preocupação, embora o número de novas infecções tenham caído 23% e as testagens tenham crescido 19%. A preocupação é expressa pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids), que indica o risco de HIV maior nesse grupo, principalmente quando a transição de idade ocorre “em ambientes desafiadores, com acesso insuficiente a alimentos, educação e moradia e com altas taxas de violência. Percepções de baixo risco de infecção, uso insuficiente do preservativo e baixas taxas de testagem de HIV persistem entre os jovens.” No Brasil, conforme a Unaids, de 2006 a 2015, a taxa de detecção de casos de Aids entre jovens do sexo masculino com idades entre 15 a 19 anos quase triplicou (de 2,4 para 6,9 casos por 100 mil habitantes) e entre os jovens de 20 a 24 anos, a taxa mais do que dobrou (de 15,9 para 33,1 casos por 100 mil habitantes).
Pensando na necessidade de sensibilizar esse grupo, alunos do projeto de extensão “Miss Brasil Gay – Interfaces com a Universidade Federal de Juiz de Fora e a comunidade”, em conjunto com a Rumos -Empresa Júnior de Turismo da Universidade Federal de Juiz de Fora e a Cemig e será realizado nos anfiteatros 2 e 3 do Instituto de Ciências Humanas (ICH), realizaram o colóquio “DSTs & Aids – a UFJF vai falar sobre isso!”, ao longo da tarde dessa quinta-feira (30). “Nas minhas reuniões periódicas com os meus bolsistas de um projeto de extensão que trabalha com homossexualidade, eles sempre criticaram, em um bom sentido, que só fazem festa. Eles quiseram falar sobre a Aids, justamente nesse momento em que os casos entre jovens aumentam”, explica o professor coordenador do projeto de extensão, Marcelo do Carmo.
Embora os tratamentos estejam avançando e o uso dos métodos de prevenção sejam mais acessíveis, as informações sobre a doença não são debatidas com a intensidade com que deveriam ser tratadas. A necessidade de mostrar a gravidade do assunto motivou os estudantes a montar uma programação com palestras dos médicos infectologistas Ronald Roland e Sérgio Henrique de Oliveira Botti e uma mesa-redonda sobre reflexões éticas e jurídicas sobre sexualidade, mediada pelo professor Bruno Stigert. “Os alunos são muito jovens, nasceram há muito pouco tempo. Eles não viram que a Aids dizimou as pessoas nas décadas de 1980 e 1990. Eles não conviveram com essa faceta da doença, não faz parte da realidade deles, a não ser que tenham alguém próximo que conviva com a doença.” Por isso, o caminho escolhido para atingir não só a comunidade acadêmica, também a todos os interessados, foi contar com o discurso esclarecedor de especialistas. Além das palestras, o evento contou com outras atividades, como apresentação de trabalhos, vídeos e filmes. Na sexta-feira, (1º), o campus deve receber uma ação de panfletagem de material voltado para a prevenção e a distribuição massiva de preservativos.
Os estudantes do curso de Turismo recebem, em contrapartida, formação nas duas pontas. Enquanto trabalham na organização de toda a atividade, também recebem as informações sobre a Aids. Eles pediram que os participantes levassem 1kg de alimento não perecível, e devem usar a arrecadação para fazer uma confraternização de fim de ano em instituições que lidam com pessoas com HIV, como o Grupo Casa e o Gedae. O simpósio da PJF também recolheu alimentos para as duas organizações.