Atualizada às 19h34, 30/08
Um detento da Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires, 34 anos, foi identificado pela Polícia Civil como propagador do Estado Islâmico em redes sociais. Apesar de cumprir pena, ele conseguia disseminar a organização terrorista do Oriente Médio de dentro da cadeia, por meio de um celular. A descoberta veio à tona ontem, durante megaoperação comandada pela Delegacia Especializada Antidrogas para desmantelar uma quadrilha da região do São Benedito, Zona Leste, da qual o suspeito faria parte. O grupo é considerado o mais atuante em vários crimes violentos ligados ao tráfico, tendo contribuído de forma relevante, conforme a polícia, para a explosão no número de homicídios e de roubos à mão armada, principalmente de veículos. Sete jovens, com idades entre 18 e 25 anos, e um homem, 47, considerado um dos cabeças, foram capturados por mandados de prisão temporária, e um rapaz, 19, foi pego em flagrante com carro roubado. Outros dois envolvidos também já estavam presos, e quatro continuam foragidos.
A identificação do suspeito que estava na penitenciária é considerada importante porque ele teria o respaldo de uma organização criminosa tida como a mais perigosa em ação atualmente na cidade e com possíveis ramificações nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. “Ele foi trazido à delegacia e será transferido para um presídio de segurança máxima do estado, devido à sua falta grave. As investigações serão repassadas à Polícia Federal no sentido de identificar maior envolvimento ou não com essa organização terrorista (Estado Islâmico), e nós da Polícia Civil continuamos com a investigação relativa à organização criminosa e ao tráfico de drogas perpetrado na cidade”, informou Felipe Fonseca Peres, titular da Delegacia Antidrogas.
Segundo ele, ainda não foi apreendido o equipamento usado para a prática do crime. “Ele realizava acessos à rede social Facebook através de um telefone. Esse aparelho, infelizmente, não foi encontrado na busca realizada. Não temos a confirmação se o celular já foi capturado pela inteligência da penitenciária ou se ainda está escondido. A busca minuciosa continua sendo realizada a fim de apurar essa situação.” Ele acrescentou que será realizada a perícia em dois celulares recolhidos em uma cela ao lado de onde estava o suspeito. “Queremos saber se a utilização dos aparelhos era feita por esse detento ou por outro.”
Conforme o delegado, o investigado estava há cerca de quatro anos na penitenciária, com previsão de saída no ano que vem. “Essa foi a nossa maior preocupação. Ele já respondeu por vários crimes, como tráfico e homicídio.” O policial destacou que o homem deverá ser indiciado por promover organização terrorista. “Já foi expedida uma ordem de preservação de dados à rede social Facebook, e todas as investigações vão ser repassadas à Polícia Federal para aprofundamento das circunstâncias e completa elucidação do caso.”
Investigação
De acordo com o delegado, a Polícia Civil vinha investigando o tráfico de drogas na região do São Benedito e descobriu a existência de uma organização criminosa envolvida com os bairros Vila Alpina e Linhares, chegando ao Bom Jardim. O bando seria responsável por um grande números de assassinatos, tentativas de homicídio e assaltos a estabelecimentos comerciais. “Foram identificados os indivíduos que participavam desse grupo, e a operação foi no sentido do desmantelamento dessa organização. No meio da investigação, foi possível identificar que um dos supostos integrantes realizava a promoção do Estado Islâmico na rede social Facebook.”
Mediante diligências de inteligência policial, a equipe desvendou que o suspeito estava cometendo o crime de dentro da penitenciária. “Por essa suspeita, foi realizada uma ação concomitante na Ariosvaldo visando a encontrar materiais ilícitos relacionados a essa prática.” Felipe destacou que o detento foi interpelado na operação exatamente por envolvimento com a quadrilha investigada. “Acreditamos que essa organização criminosa possa envolver outras cidades. Identificamos um grande fornecimento (de drogas) de São Paulo, mas há uma relação muito grande desses indivíduos com o crime organizado no Rio de Janeiro, mais especificamente com o Comando Vermelho.”
Bando praticava séries de homicídios e assaltos
A operação realizada pela Polícia Civil ontem mobilizou 90 homens e 30 viaturas. Segundo a delegada Regional, Patrícia Ribeiro, a equipe foi reforçada por efetivo vindo de Ubá, Muriaé e Leopoldina. Também foram cumpridos mandados de busca e apreensão, que resultaram no recolhimento de porções de drogas, dinheiro, celulares e quatro veículos, sendo um Audi Q3, considerado de luxo, um Fiat Mobi, uma moto e um carro roubado, cujo modelo não foi divulgado. Um dos presos foi pego em flagrante ao chegar no veículo na delegacia, junto com um adolescente apreendido, para levar parentes dos envolvidos. “Uma parte da ação foi realizada na penitenciária, onde os policiais estavam em busca de materiais ilícitos, provavelmente usados para promover organização terrorista na cidade”, completou Patrícia.
De acordo com o titular da Delegacia Antidrogas, Felipe Fonseca Peres, o tráfico de drogas realizado pelo bando envolvia vários crimes, como roubos e muitos homicídios. Ele destacou, ainda, a participação dos investigados em episódios de ataques violentos em outros bairros, com disparos de armas de fogo de grosso calibre e lançamento de granadas. “Há uns dois domingos atrás, cerca de 20 indivíduos foram ao Bairro Santa Cândida, efetuaram diversos tiros a esmo em via pública, atingiram casas, veículos. Houve o lançamento de granadas, e os disparos foram de grosso calibre, o que nos surpreendeu.”
O delegado acrescentou que os assaltos eram cometidos em postos de combustíveis e outros estabelecimentos comerciais. Ele destacou ser grande também o número de roubos de veículos. “A investigação prossegue e vai ser aprofundada no sentido do completo desmantelamento dessa organização. Hoje foi uma ação importante, mais imediatista, de acordo com a emergência de estarem acontecendo na cidade fatos criminosos graves envolvendo esses indivíduos. A prisão dos principais envolvidos é temporária para transcorrer de forma tranquila as investigações, e os demais serão, em breve, trazidos ao cárcere.”
Para Felipe, os roubos à mão armada de motos e carros, que explodiu este ano, com 75 casos conforme levantamento da Tribuna, era realizado para o uso dos veículos em cometimento de crimes e também para revenda em busca de financiamento para o tráfico. Já os assassinatos, garantiam o domínio da facção, eliminando possíveis rivais e desafetos. “Grande parcela dos homicídios ocorridos nos últimos episódios tem envolvimento com essa organização criminosa. É uma característica atuar de forma violenta em várias searas do crime, tentando desaguar no sentido de elevar o tráfico de drogas e fortalecê-lo.” Os envolvidos vão responder por integrar organização criminosa, incitação ao crime, dano ao patrimônio, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. “Os homicídios serão investigados à parte, mas também serão tratados nessa investigação, assim como os roubos”, concluiu o delegado. Os presos foram encaminhados ao Ceresp.