A sensação de paralisia ou forte desconforto diante do desafio de falar diante de um grupo pode trazer grande prejuízo para algumas pessoas. O transtorno de ansiedade social, que antes era chamado de fobia social, ou de maneira mais popular, de timidez excessiva, pode atrapalhar o indivíduo de diferentes formas e em diferentes graus. Para ajudar quem convive com essas dificuldades, o Núcleo de Estudos em Violência e Ansiedade Social do Centro de Psicologia Aplicada (CPA) da UFJF está com inscrições abertas para o “grupo de tímidos”, que deve ser formado a partir do mês que vem.
“É um processo que trabalha com quem sente os prejuízos do transtorno de ansiedade social, quando ela afeta profundamente o cotidiano da pessoa, seja em parte ou totalmente. É uma psicoterapia em grupo, acompanhado por três psicólogos com experiência clínica”, explica o professor do Departamento de Psicologia da UFJF e coordenador do projeto, Lélio Moura. Ainda de acordo com ele, o transtorno pode se dar em diversos campos que envolvem o relacionamento interpessoal, seja a inibição em falar em público, para relacionamentos afetivos e namoros, posicionamentos diante de críticas mais agudas, entre outros.
“Muitas pessoas chegam aqui sem saber exatamente o que se passa. Elas não conseguem nos olhar nos olhos, são realmente muito retraídas”, Flaviane Rodrigues João, psicóloga do grupo
No campo profissional, por exemplo, o transtorno de ansiedade social pode fazer com que a pessoa deixe de almejar cargos gerenciais pela necessidade de se expor ou de liderar um grupo. Há, segundo Moura, pessoas que conseguem administrar a dificuldade e desenvolvem o cotidiano, mesmo que para isso sofram. Outras acabam se isolando, muitas vezes não terminam os estudos, têm projetos abandonados, marcam entrevistas de emprego, mas não vão e lidam com grandes prejuízos. “Muitas têm problemas em um segmento, e não têm em outro. Por exemplo, um professor que dá uma aula excelente, mas não consegue lidar com um elogio, perdendo a linha de raciocínio, apresentando grande nervosismo. Há situações muito diversas, que vão desde um representante comercial que não consegue falar para uma equipe de vendedores em uma loja, até algo mais específico, como pessoas que não conseguem escrever ou se alimentar diante de estranhos”, detalha.
Candidatos ao tratamento na UFJF precisam passar por uma triagem
Os interessados em participar da psicoterapia em grupo precisam passar por uma triagem. A avaliação prévia é composta por uma série de testes. “Após contato por telefone ou pessoalmente, nós chamamos o interessado para uma conversa, para saber o que o motivou a nos procurar. Nós falamos com essa pessoa para saber se é realmente um caso de timidez patológica, e se há outros problemas associados, como depressão ou ansiedade”, descreve uma das psicólogas do grupo, Flaviane Rodrigues João. Ela acrescenta que quem procura esse suporte, seja por meio da terapia em grupo ou até mesmo com atendimento individual, dentro ou fora do CPA, pode melhorar consideravelmente as relações interpessoais, diminuindo a sensação de incomodo.
“É um processo que trabalha com quem sente os prejuízos do transtorno de ansiedade social, quando ela afeta profundamente o cotidiano da pessoa”, Lélio Moura, professor do Departamento de Psicologia da UFJF e coordenador do projeto
O grupo é composto, geralmente, por cerca de dez pessoas e realiza encontros semanais durante três meses. Após o período de terapia, os testes feitos no início são reaplicados, e o participante é reavaliado. Se ao final do processo as pessoas ainda encontrarem dificuldades, os profissionais fazem o encaminhamento para outros especialistas ou outras formas de tratamento. “Muitas pessoas chegam aqui sem saber exatamente o que se passa. Elas não conseguem nos olhar nos olhos, são realmente muito retraídas. Conseguimos trabalhar esses aspectos e alcançar uma melhora significativa por meio da terapia cognitiva”, diz a psicóloga. As atividades desenvolvidas dentro de cada reunião incluem técnicas de exposição, treinamento de habilidades sociais e relaxamentos.
Até o final do ano, por conta da demanda, segundo Lélio Moura, o Centro de Psicologia Aplicada espera formar até sete grupos. Os interessados devem procurar o CPA na Rua Santos Dumont 214, Bairro Granbery, ou pelo telefone 3216-1029.