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Número de doações cai 30%

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“Tudo o que um doente renal quer é sair da máquina”, confessa João Batista Toledo, que há 22 anos faz hemodiálise. Mas ele tem visto suas chances de viver com qualidade reduzindo. É que o número de doadores de órgãos e tecidos caiu em cerca de 30% em Juiz de Fora e região (ver quadro). Conforme o responsável pelo Ambulatório Pré-transplante Renal da Santa Casa, Gustavo Ferreira, com a queda, a fila de espera por um rim aumentou de 250 pessoas em 2015 para 310 neste ano. Além do transplante renal, no município é realizado o transplante de córneas e o de medula óssea.

João Batista conta que a hemodiálise limita muito a sua vida. “Além da falta de liberdade para viajar, ainda temos muita restrição líquida e alimentar. Eu só posso beber 5% do meu peso e, no verão, isso é muito difícil. Você consegue viver, mas é com muito sacrifício.” Segundo Gustavo Ferreira, as chances de sucesso no transplante renal é de mais de 90%. “As pessoas que recebem um rim tem uma vida muito próxima da normal, com uma qualidade muito melhor que com a hemodiálise. Quando cai o número de doações, é muito ruim, porque aumenta o número de pacientes na fila, aumentam as pessoas na hemodiálise.”

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Para o coordenador do Centro de Notificação Captação e Distribuição de Órgãos (CNCD) da Zona da Mata, Fred Whitaker, há diversos fatores que levaram à redução no número de doadores. “Primeiro, as exigências para doação aumentaram. Também tivemos um maior número de recusa das famílias. Além disso, há os casos de contraindicação médica e em que o coração do paciente doador para antes da doação.”

A enfermeira membro da Comissão Intra-hospitalar de Doação de Tecidos e Órgãos para Transplante da Santa Casa Eliene Ribas conta que ainda há muito receio das famílias em relação à doação de órgãos. “Há a crença de que o corpo será mutilado, e os familiares alegam querer enterrar os pacientes com o corpo íntegro. Outra questão é o fato da família ouvir o coração do paciente bater. Elas acreditam que há a possibilidade dele voltar. Conseguimos mudar o pensamento de muitas famílias quando elas entendem o processo de morte encefálica, que é morte e não tem como voltar.”

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Eleine Ribas explica que quando a família apresenta resistência, ela as leva para conversar com pessoas transplantadas, para que possam entender o outro lado. “As pessoas só se interessam pela doação quando têm algum conhecido precisando. Então, as pessoas precisam pensar e ver o outro lado, se colocar no lugar de quem está esperando por um órgão. Com a doação de uma pessoa, é possível salvar até 25 vidas. Infelizmente, em Juiz de Fora, ainda não realizamos todos os tipos de transplantes, mas estamos buscando por isso.”

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Medula óssea

A leucemia do garoto Paulinho, 6 anos, e a forte campanha que a família fez para encontrar um doador para o menino trouxe à tona a discussão da importância da doação da medula óssea. Mesmo com o transplante, o pequeno herói faleceu na última quarta-feira. Mas Paulinho trouxe muita gente para a causa. Tanto que o Hospital Universitário praticamente dobrou o número de transplantes. Conforme o hematologista do HU Abrahão Hallack, apenas nesse primeiro semestre, foram realizados 12 transplantes autólogos (quando são usadas as próprias células-tronco do paciente) e sete alogênicos aparentados (aquele que envolve um doador da família). “No primeiro semestre deste ano, fizemos praticamente a mesma quantidade que em todo o ano passado.”

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Apesar de não realizar o transplante alogênico não-aparentado, quando o doador não é da família, normalmente encontrado no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), o médico conta que os pacientes têm encontrado doadores. “Muitas vezes, o paciente está em tratamento e consegue um doador. Tem sido possível encaminhá-lo para transplantes alogênicos não-aparentado em outras cidades. Ainda não tentamos autorização para realizar esse tipo de transplante, porque precisamos melhorar nossa estrutura e ter um grupo maior de médicos.”

O HU ainda tem investido em uma nova técnica, o chamado transplante haploidêntido, que é quando a compatibilidade é de apenas 50%. “Neste ano, ainda não fizemos nenhum assim porque é um transplante muito delicado, que deve ser muito bem indicado.”

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