O sargento do Exército Brasileiro, de 41 anos, suspeito de ter agredido violentamente uma empresária de Juiz de Fora, 33, na frente da filha e em plena via pública, deve ser ouvido pela Polícia Civil de Juiz de Fora nesta quinta-feira (30). O caso está sendo investigado pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). A vítima denunciou ter sido espancada pelo pai da filha dela e relatou que a violência só teria cessado porque o suspeito teria sido contido pelos vizinhos. Já foram colhidos os depoimentos da mulher e da menina. A vítima também já passou por exame pericial, e a Polícia Civil solicitou medida protetiva para a mulher e sua filha. Segundo a delegada Danielle Alves Ribeiro, as investigações continuam em andamento.
O Comando Militar do Leste informou à Tribuna, nesta quarta-feira (29), que foi aberto processo administrativo interno pela Organização Militar à qual pertence o militar denunciado. “Cabe reiterar que o Exército Brasileiro não compactua com qualquer tipo de irregularidade, repudiando veementemente atitudes e comportamentos em conflito com a lei, com os valores militares ou com a ética castrense”, ressaltou o Comando por meio de nota, acrescentando que “tomou conhecimento dos fatos ocorridos na cidade de Juiz de Fora e que as investigações estão sendo conduzidas pelos órgãos de segurança pública”.
O crime foi registrado no último dia 6 e, de acordo com o Registro de Eventos de Defesa Social (Reds), a vítima relatou que foi agredida pelo seu ex-namorado, com quem teve um relacionamento que foi terminado há cerca de sete anos e com quem tem uma filha de 7 anos.
Como apontou a mulher no documento policial, na data dos fatos, ela dirigiu-se até a residência do suspeito, a fim de pegar algumas roupas da filha, que estavam no local. Segundo a vítima, teve início uma discussão, e o homem teria partido para agressão física contra ela.
De acordo com o Reds, após as agressões, o suspeito fugiu do local em um veículo. O documento ainda narra que a vítima já havia registrado duas ocorrências de ameaça contra o autor, mas não as representou. O Reds ainda ressalta que a agressão aconteceu na frente da filha dos envolvidos e que a criança ficou “chocada”.
‘Esse silêncio mata’
Depois da agressão, a empresária, além de procurar a polícia, recorreu às redes sociais, onde expôs a violência sofrida e as imagens de suas feridas. Em entrevista à Tribuna, na tarde desta quarta-feira (29), ela disse que, a princípio, foi para a internet por medo de morrer. “Era para minha segurança pessoal, como uma forma de me resguardar, mas comecei a perceber que essa exposição não era boa só para mim, é muito necessário que as pessoas falem sobre isso, porque, normalmente, as vítimas aguentam caladas, e esse silêncio mata. Percebi que minha atitude também ajuda a dar voz para outras mulheres”, disse.
Conforme ela contou, depois da violência, ela e a filha ficaram fora de casa por 17 dias, e só regressaram, na última sexta, depois que a medida protetiva foi concedida. Nesta quarta, a menina retornou à escola. “Ao mesmo tempo que ela (a filha) está muito apavorada, muito triste, com pesadelos na hora que dorme, fazendo desenho da mãe toda machucada, ela também tem carinho pelo pai. Toda essa situação deixou ela muito confusa, porque o pai era uma referência muito boa para ela, e acabou se tornando um pesadelo. Ela está muito dividida, muito confusa e traumatizada”, afirmou.
No que diz respeito a ela, a empresária relata que está vivendo à base de remédio. “O meu psicológico está destruído. Tenho dificuldade para dormir e pesadelos também. Hoje foi o primeiro dia que fui levar minha filha na escola, e andar na rua é um pânico. Teve um momento que parei para respirar, porque tive uma crise. Saber que vou ter que sair para ir buscá-la dá medo, porque ele (o denunciado) mora aqui perto, praticamente do outro lado da rua, e posso encontrá-lo a qualquer momento. É um pânico que está prejudicando minha vida, inclusive meu trabalho”, desabafa.
Conforme a vítima, nesta quarta, ela também prestou seu depoimento no Exército. “Testemunhas já estão sendo ouvidas, e ele (o suspeito) será ouvido por último. O caso está sendo muito cuidado e tendo muita atenção, e a investigação já caminha para ser concluída”, disse.
Histórico de ameaças e agressões verbais
De acordo com a vítima, o suspeito possui um histórico de ameaças e agressões verbais contra ela. “Sempre quando se fala em dinheiro e pensão é um problema, porque ele reage em tom de agressão e ameaças. Xingamentos e humilhação sempre foram muito comuns, e sempre fui agredida verbalmente e psicologicamente. Já tive ameaça contra minha vida e, na época, fiquei com medo de registrar. Mas, posteriormente, cheguei a fazer dois registros de ocorrência: um por injúria e um em que ele ameaçou quebrar os meus dentes.”
Após a experiência vivida por ela, a mulher incentiva outras vítimas de violência doméstica a denunciarem. “Fazer a denúncia é um ato de coragem. É desgastante emocionalmente, mas também muito acolhedor, porque muitas pessoas vieram me apoiar. Espero que sirva de incentivo para que outras mulheres denunciem. E espero que toda essa situação de violência contra as mulheres melhore, inclusive a questão da lei, porque fui agredida durante o feriado e não pude fazer exame de corpo de delito, tendo que esperar quatro dias porque o setor não funcionava. Tudo precisa ser revisto, para facilitar o atendimento da mulher”, considerou.
Por telefone, o militar envolvido na investigação de agressão disse à Tribuna que aguarda prestar depoimento para poder se manifestar a respeito do caso. Ele ressaltou que vem atendendo todas as solicitações da polícia e do Exército no que se refere à apuração dos fatos.