A Represa João Penido deve atingir cerca de 10% do volume de água acumulada até novembro, quando historicamente a cidade já entrou no período chuvoso. Se esta previsão da Cesama se concretizar, este será o menor índice já operado pela companhia que, no ano passado, viu o manancial chegar ao patamar de 18%, em novembro. Atualmente o nível da represa está em 23,6%, o que é praticamente a metade do que havia no mesmo dia em 2014 (ver quadro). Ontem uma audiência pública na Câmara Municipal discutiu os problemas estruturais na Estação de Tratamento de Água do Distrito Industrial (ETA-CDI), ampliada para atender Chapéu D’Uvas. Com trincas e rachaduras, não é possível usar todo o seu potencial, o que sobrecarrega João Penido.
Em algumas áreas do lago que forma João Penido, como próximo ao Condomínio Enseada, a represa está completamente seca, e é possível observar apenas filetes d’água formados pelo córrego de contribuição. Conforme a doutora em ecologia Maria Magaly Bucci, especialista em manejo e conservação de recursos naturais, neste ponto, a profundidade do lago, em situações normais, chega a quatro metros. “O cenário quando a gente chega e olha é realmente impactante. Antes só de barco e, agora, é possível atravessar a pé.” Ainda segundo a especialista, já há muita vegetação ocupando estas áreas secas, o que pode retardar a recuperação da represa, quando voltar a chover. “É um ambiente aquático se transformando em ambiente terrestre”, disse, avaliando que, apesar destes problemas – que inclui ainda desmatamento e despejo de esgoto no manancial -, a qualidade da água ainda está dentro dos parâmetros necessários. “João Penido grita por socorro, mas ainda tem jeito.”
A Cesama estima que não deverá ter problemas com relação à qualidade da água captada se chegar aos 10%, mas esta preocupação aumenta se o índice abaixar ainda mais. Isso porque o recurso existente no fundo da represa, que não é renovado há cerca de 18 meses, pode estar sedimentado e com alta concentração de nutrientes.
Dentro do esperado
[Relaciondas_post]De acordo com o diretor técnico operacional da companhia, Márcio Augusto Pessoa Azevedo, o atual índice de acumulação em João Penido é anormal, mas está dentro do estimado para 2015. “Não podemos deixar de citar que fomos surpreendidos positivamente pelas chuvas nos últimos dias que, embora não tenha contribuído para ganharmos volume, auxilia para a perda ser mais devagar. Isso, principalmente, por causa da umidade relativa do ar, que está alta e interrompe o processo de evaporação.”
Márcio afirma que o município tem água suficiente para passar por este período de estiagem, principalmente pelo resultado do rodízio no abastecimento, a diminuição da pressão na rede e a entrada de Chapéu D’Uvas no sistema que, mesmo não podendo ser usada como esperado, contribui. “Ela fornece cerca de 280 litros de água por segundo, e são 280 litros que deixamos de tirar de João Penido.” Para abastecer o município é preciso, em média, 1.500 litros de água por segundo na rede. Para evitar transtornos futuros no abastecimento e poupar João Penido, a Cesama trabalha com a ideia de fazer a água de Chapéu D’Uvas chegar à estação de tratamento Marechal Castelo Branco, por meio de um braço de sua adutora. A licitação está em andamento, e as propostas das empresas interessadas em executar a obra estão previstas para serem abertas hoje.
Sobre o rodízio no abastecimento, em vigor deste outubro do ano passado, ele informou que haverá uma avaliação interna nos próximos dias, mas em princípio não há mudanças previstas.
São Pedro
Márcio também falou da situação da Represa de São Pedro, que está com acumulação de 22,1%, quase o dobro do que tinha no mesmo dia do ano passado, quando chegou a secar. Mesmo assim, ele explicou que, por ser menor, ela perde e ganha recurso com mais facilidade. “A população da Cidade Alta é a mais sacrificada, e o sucesso do rodízio por lá é muito maior. E isso nos possibilita trabalhar com a retirada de água próxima à que a natureza repõe. Se estivéssemos tirando mais, ela já estaria seca.”
Estação do Distrito Industrial em debate
Uma audiência pública na Câmara Municipal, na tarde de ontem, discutiu a situação da Estação de Estação de Tratamento de Água do Distrito Industrial, conhecida como ETA-CDI. Parte da estrutura, que atende o Ribeirão Espírito Santo e foi ampliada para receber o recurso proveniente da Represa Chapéu D’Uvas, apresenta rachaduras que impedem sua utilização plena. Desta forma, não é possível trazer volume maior de água do manancial, o que compromete as outras represas.
O vereador Roberto Cupolillo (Betão, PT), que solicitou a audiência, disse que objetivo era descobrir a atual situação. Conforme o diretor de Desenvolvimento e Expansão da Cesama, Marcelo Mello do Amaral, já há sugestões de como corrigir a falha, causada pela movimentação do solo, mas isso não será feito no momento. A companhia impetrou ação na Justiça para responsabilizar a empresa de engenharia que desenvolveu o projeto. “Vamos aguardar a decisão da Justiça e cumpri-la. Ao mesmo tempo, continuamos monitorando o deslocamento e iremos agir se houver algum risco a qualquer trabalhador do local.”
O representante da Cesama fez o histórico do problema da ETA-CDI, desde o início das obras de ampliação em 2009. Foi citado que, ainda em 2010, a empresa que executou o projeto fez questionamentos sobre o tipo de fundação previsto, paralisando a construção por um período. No entanto, na época, o projetista confirmou o projeto, embora a obra tenha passado por alguns problemas de compactação do solo.
“Em março de 2012, observou-se deslocamento entre as partes novas e antigas, mas algo pequeno, em milímetros, o que era esperado e compatível com a intervenção, mas, quando se iniciaram os testes operacionais de carga, em janeiro de 2014, vieram deslocamentos maiores”, disse Marcelo.
Ainda segundo ele, um especialista contratado pela empresa fez um estudo do problema e apresentou relatório. “Quando novos testes de cargas foram feitos, após a intervenção, em abril deste ano, observamos novas movimentações.” A empresa, então, foi acionada judicialmente para apresentar justificativas, já que apenas esta obra de estabilização custou aos cofres públicos cerca de R$ 500 mil, valor que a Cesama pretende reaver por meios legais.
O presidente do Sinágua, Edinaldo Ladeira Ramos, disse, em audiência, que denuncia as irregularidades desde 2012. Ele se mostrou preocupado com o fato de ser necessário ainda mais dinheiro para colocar a parte da ETA-CDI ampliada em funcionamento. Conforme o projeto inicial, a capacidade de tratar água no local subiria de 600 para 1.200 litros por segundo.