A Polícia Civil concluiu nesta quarta-feira (28) o inquérito sobre o dentista de 34 anos, suspeito de se masturbar durante atendimento a pacientes menores de idade, em seu consultório na Zona Norte de Juiz de Fora. Segundo a delegada responsável pela investigação, Ione Barbosa, o profissional, que não teve a identidade divulgada, foi indiciado pelo crime de importunação sexual relacionado a sete adolescentes, a maioria delas com idades entre 14 e 15 anos. A tipificação foi incluída em 2018 no artigo 215-A do Código Penal e prevê reclusão de um a cinco anos para quem “pratica contra outra pessoa e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lasciva ou a de terceiro”. Já em relação a mais duas vítimas, de 9 e 10 anos, o especialista em ortodontia vai responder por “satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente”. O delito está previsto no artigo 218-A e tem pena de dois a quatro anos de prisão.
O profissional está preso desde o dia 19 deste mês, quando a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher deflagrou a Operação Sorriso Seguro. Além de cumprirem o mandado de prisão preventiva, os policiais fizeram buscas em três endereços ligados ao investigado e apreenderam 600 fichas de atendimento, três notebooks, dois computadores, duas câmeras, uma filmadora e o celular do investigado. Conforme Ione, o inquérito está sendo encaminhado à Justiça com solicitação da quebra de sigilo dos dados para que todo o material possa ser analisado pela perícia.
A delegada acrescentou que o procedimento foi concluído dentro do prazo legal, de dez dias a contar da prisão do suspeito, e enfatizou que as investigações não param por aqui. “Fizemos uma parceria com o Conselho Tutelar Norte, que está entrevistando outras 18 possíveis vítimas. A conclusão do inquérito, que seguiu para as providências da Justiça e do Ministério Público, também não impede que outras pessoas procurem a Polícia Civil ou o Conselho Tutelar.” Ainda segundo ela, o dentista confirmou, em novo depoimento, a prática do delito. “Ele declara que tem atração por um perfil determinado e diz se lembrar de pelo menos dez vítimas, entre crianças e adolescentes, em um intervalo de cinco anos. Ele também fala que vai procurar ajuda médica.”
Ao todo, 17 pessoas foram ouvidas no decorrer das investigações, incluindo vítimas, responsáveis e a secretária do dentista, que afirmou desconhecer o suposto comportamento criminoso. O profissional atuava na Zona Norte há dez anos, onde era respeitado e descrito como uma pessoa educada. Essa imagem dele diante da sociedade inibiria ainda mais as jovens a denunciá-lo, conforme a polícia. O especialista em ortodontia chegou a ser encaminhado ao sistema prisional no dia 12 de julho, após ter o flagrante confirmado pela Polícia Civil, mas foi solto no mesmo dia, mediante alvará de soltura concedido pela Justiça.
Adolescente importunada desencadeou rede de denúncias
O caso do dentista que se masturbaria em pleno consultório durante procedimentos realizados em meninas veio à tona no dia 12 de julho, quando uma adolescente, de 17 anos, contou o fato à sua mãe, que acionou a Polícia Militar. A jovem relatou aos militares ter observado que o profissional estaria utilizando apenas uma das mãos para apertar seu aparelho dentário. Em seguida, ouviu um barulho e, ao olhar para o lado, percebeu que ele estaria se masturbando com a outra mão. O dentista teria se assustado e coberto o órgão genital exposto com o jaleco.
A divulgação desse caso desencadeou uma rede de denúncias. Quando a informação já se espalhava pelo consultório naquele mesmo dia, durante o registro da ocorrência, a equipe policial foi abordada por uma mulher, 45, que contou ter ouvido relato semelhante de sua própria filha, há cerca de dois anos. Na época, entretanto, a mãe acreditou haver poucos elementos e provas do fato para denunciar o profissional. “Depois disso vieram mais vítimas. Mas, no momento em que elas tomaram conhecimento de que ele havia sido solto, ficaram com receio quanto à sua integridade física e com medo de vir à delegacia denunciar. Diante disso, requeremos a prisão preventiva dele, assim como mandados de busca e apreensão”, contou a delegada Ione Barbosa.
Segundo a polícia, a análise do material apreendido também pode resultar em novos indiciamentos, caso sejam encontrados, por exemplo, conteúdos ou indícios de crime pornográfico envolvendo criança ou adolescente. “O modus operandi era o mesmo: ele usava a mão direita para o procedimento, e dificilmente as pacientes viam a outra mão, mas ouviam o barulho dele se masturbando com a luva. Algumas também disseram que, antes de liberá-las, ele arrumava o jaleco”, detalhou a delegada no decorrer das investigações.
Dois dias depois de a primeira adolescente denunciar o caso, outra jovem, 16, acionou a PM após ver reportagens e postagens em redes sociais sobre o suposto crime cometido pelo dentista. Ela contou que durante consulta, há cerca de um ano, estranhou o fato de o profissional olhar muito o seu corpo, ao mesmo tempo em que ficava preocupado com a janela, como se pudesse ser visto. Assim como relatado por outras vítimas, ele também teria usado apenas uma das mãos no procedimento odontológico, enquanto a outra ficava mais abaixo, fazendo movimentos “como se estivesse coçando”, enquanto o jaleco balançava. Quando ele voltou a usar a outra mão, ela chegou a sentir cheiro de órgão genital.
Situações semelhantes teriam acontecido mais duas vezes com a mesma paciente. Na época, ela chegou a comentar com amigas e uma irmã sobre o constrangimento sofrido, mas ficou muito assustada e, como acontece em muitos casos de violência sexual, só teve coragem para denunciar após saber que não havia sido a única vítima.