Os corredores do Edifício Kyrillos, na Avenida Rio Branco, pareciam anunciar o que seria o futuro daquele garoto que, desde a infância, já queria encontrar maneiras de descolar seu próprio dinheiro. Na companhia de seu amigo de infância, Marcelo Gonçalves, que morava neste mesmo prédio, Sotrate, pouco conhecido como Fernando, seu nome de batismo, batia de apartamento em apartamento para vender ovos de chocolate que produzia durante a Páscoa e até cotas em bolões para aqueles que gostavam de brincar com a sorte durante a Copa do Mundo. Esse comportamento se repetia na escola, no Colégio Academia, junto com outro amigo, Renato Filgueiras. Lá eles eram sempre cotados para organizar as festas da turma. Quando o resultado do vestibular de 2000 foi anunciado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a notícia inicial seria a de que cada um seguiria seu próprio caminho dentro dos cursos que escolheram. Sotrate optou pela Odontologia, Marcelo, pela Administração e Renato, pelo Direito. Só que não. Inseparável, o trio não sossegou até conseguir organizar uma festa para integrar calouros e veteranos. Sotrate, então, chamou reforço: Mylliano Salomão, seu colega de sala, e Vitor Pedrosa, da sala de Marcelo. Nascia, então, o evento que arrastou milhares de estudantes em 13 edições realizadas durante sete anos consecutivos na cidade: o “Administrando a Boca Direitinho”.
O que Sotrate não esperava, muito menos os outros quatro amigos, era que o dom natural de organizar eventos seria, no futuro, o ganha pão do quinteto. “Eu não sabia o que era ser um empreendedor, mas sentia vontade de correr atrás das coisas para ter meu próprio dinheiro, afinal de contas, universitário, sem dinheiro, sempre que precisava de alguma coisa, tinha que pedir aos pais. Não queria ficar recorrendo a eles sempre para ter o que eu queria naquele momento.” Quando concluiu os estudos, em agosto de 2006, Sotrate e os demais tiveram que escolher entre dois caminhos: trilhar a profissão ou se jogar em uma nova empreitada, a abertura de uma empresa de eventos, a Viva Eventos. “Meus pais já estavam acostumados com os eventos que eu fazia e ganhava dinheiro com eles. Mas quando nós cinco decidimos criar a empresa, pensei como iria comunicar a eles sobre a minha decisão. Disse que daria um tempo na profissão e, se em dois anos não desse certo, iria retomá-la.” Se o sonho dos pais era ver o filho vestido de branco em seu consultório, com horário de entrada e saída, pelo jeito, não será nesta vida.
Sorrisos
O cirurgião-dentista preza pelos cuidados com a saúde bucal, para que os pacientes possam ostentar sorrisos saudáveis. Por escolha própria, talvez induzido pelo tratamento ortodôntico feito na adolescência, Sotrate sempre disse para seus pais que iria seguir esta carreira. Sem parentes na área, filho de engenheiro e de uma bióloga, ingressou na área da saúde por vontade própria. “Quando me formei, cheguei a exercer a profissão durante uns dois meses. Modéstia à parte, eu não era ruim (brinca). Adorei o curso e sempre que vou à faculdade bate aquela nostalgia, mas vi que tinha uma oportunidade de crescimento na área de eventos, uma vez que só tinha uma empresa na cidade.” A motivação de Sotrate, junto aos demais sócios, era criar eventos personalizados, que tivessem a cara dos formandos. Talvez sem saber, ele ainda iria lidar com muitos sorrisos, mas sem a necessidade de ter um consultório e demais instrumentos. “A profissão de produtor de eventos é muito gratificante, pois lidamos com momentos importantes na vida daquela pessoa, como a formatura.” Se a escolha pela Odontologia não dependeu de familiares, Sotrate já criou seu legado em casa. Filho do meio de três irmãos, confiou ao caçula, Renan, uma das franquias da Viva, localizada em Volta Redonda (RJ). Casado há quase dois anos com a médica Juliana, ele pensa em deixar herdeiros, um casal, quem sabe, para tocar os negócios futuramente.
Dez anos, 16 franquias
Quando a Viva abriu as portas, em março de 2007, a meta era fechar o primeiro ano com 50 fundos de formatura, mas, em oito meses, a empresa já tinha 104 contratos. Com a meta dobrada, o grupo seguiu, buscando reinvestir parte do lucro.
Em 2010, o grupo se tornou a primeira empresa franqueadora de eventos do Brasil, fruto do projeto Minas Franquia, do Sebrae. Naquele mesmo ano, a Viva abriu sua primeira franquia, em Belo Horizonte. Hoje, nos recém-completados dez anos, a Viva totaliza 16 franquias na região Sudeste do país. “Nem o administrador do grupo imaginava chegar a isso tudo. Temos hoje 35 mil alunos em 1.017 fundos de formatura.”
A jovialidade dos sócios sempre permitiu pensar em coisas que estivessem próximas de seus clientes, ou seja, os estudantes. “Quando a gente estava formando, sentíamos a vontade de fazer coisas diferentes em nossa formatura, mas tudo era muito engessado. Pelo fato de cada um de nós fazer parte de sua comissão, conseguimos fazer coisas que fugiam do padrão.” Se muitos empresários vislumbram a possibilidade de mudar de cidade para acompanhar a expansão de seus negócios, para Sotrate, isso seria uma tortura. “Juiz de Fora sempre foi e sempre será meu lugar. Nessa história, já tive oportunidade de ir para outra cidade, mas, só de pensar em me mudar, entro em pânico. Quero continuar morando aqui, pois é em Juiz de Fora que estão minhas referências. Esse papo de que na cidade nada dá certo, depende da forma como você trabalha e batalha. É motivo de orgulho dizer que a Viva é de Juiz de Fora e sua história é uma referência à cidade.”
Não era apenas uma chopada
Poderia até ser uma chopada entre tantas que aconteciam em Juiz de Fora na primeira década do século XXI, mas não. Ao longo desses anos, o grupo produziu muitos eventos. “Tomamos gosto pela coisa e fomos criando outras festas, como o Carnadiministrando, que era uma micareta, e a Circus, festa à fantasia”, conta Sotrate, com a serenidade no olhar de quem ainda estava longe de encerrar o expediente naquele final de sexta-feira, no prédio que abriga a empresa, na Avenida Olegário Maciel. Pelo menos duas comissões de formatura o aguardavam para acertar detalhes de suas festas, que, para Sotrate, não são apenas festas, são sonhos. “Não tenho colaboradores, mas realizadores de sonhos.”
E completa: “Quando a gente faz aquilo que gosta, não é um fardo, é algo prazeroso.” Sotrate lembra que uma conquista recente é conseguir entrar mais tarde na empresa. “Como não tinha horário para sair, consegui, pelo menos, horário para entrar, mas nem sempre foi assim.” Aos 34 anos, o empresário continua tendo como lema três pilares para ter harmonia entre sócios e funcionários: dedicação, otimismo e bom humor.