O cinema tem a capacidade de apresentar um novo mundo de possibilidades por meio de histórias. Desde a primeira exibição feita pelos Irmãos Lumière em 1895, a chamada sétima arte nunca deixou de encantar crianças e adultos. Pensando em levar o cinema para diferentes parcelas da população e recuperar valores que, por muitas décadas, acompanham a manifestação artística, o Primeiro Plano -Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades realiza a Sessão Lanterninha, voltada para crianças de escolas públicas. A Tribuna acompanhou a mostra apresentada às turmas do quarto e quinto ano da Escola Municipal Professor Augusto Gotardelo, localizada no Bairro Caiçaras, na Cidade Alta.
O entusiasmo das crianças para comparecer ao festival, que ocorreu no Shopping Alameda, durou a semana toda, mas ganhou ainda mais forças na data da sessão, na última quarta-feira (23). “Na escola, a felicidade começou 7h15 da manhã. Chegaram cheios de perfume, com pente, umas fazendo trancinhas nas outras, foram com roupa bonita”, conta a professora do quinto ano da escola, Angélica Brito. “A aula foi muito especial e, dentro do ônibus, foi uma festa.”
De acordo com a professora, esta foi a primeira vez que muitas crianças da turma visitaram um cinema. Além disso, o passeio foi o primeiro realizado pela escola após o período da pandemia. Desta forma, o trajeto até o shopping, por si só, foi uma recreação para os pequenos.
“Nós não conseguimos fazer nenhum passeio com eles esse ano, até por falta de ônibus. Eles ficam muito em casa, muitos não vêm ao Centro da cidade”, explica. “Então eles acharam lindo passar dentro da Universidade, pela Avenida Presidente Itamar Franco. Todos estão encantados por terem saído do bairro.” Para ela, o fato de os filmes serem brasileiros possibilitou uma identificação por parte da turma. “Eles veem as crianças do filme muito parecidas com eles, o jeito de andar, o jeito de correr. Acho isso muito bacana.”
‘João Lanterninha’
Quem frequentava os cinemas há alguns anos deve se lembrar do “lanterninha”, uma figura clássica das salas de exibição. Trata-se de um profissional que, carregando uma lanterna, acompanhava os atrasados aos seus lugares, bem como as pessoas que gostariam de ir ao banheiro, por exemplo, ou mesmo se responsabilizava por manter a ordem nas salas de cinema, “puxando a orelha” de quem fizesse muito barulho.
A sessão do Primeiro Plano para as crianças não carrega o nome de Lanterninha à toa. Na mostra, o festival trouxe o “João Lanterninha” para retomar a ambientação do cinema. “O lanterninha traz essa proposta do ritual da sala de cinema, de ambientar, de você cultuar o filme no sentido de estar ali com toda a sua atenção, para deixar se envolver com essa sala de cinema e aproveitar ao máximo o que a sétima arte pode oferecer”, explica Patrícia Almeida, coordenadora da Sessão Lanterninha.
A figura do lanterninha marca a memória de muitas pessoas, e proporcionar esta experiência para as crianças foi a forma que o festival encontrou para mostrar que todos são bem-vindos ao cinema. “Dos 8 aos 80”, brinca Patrícia. “Estamos aqui para compartilhar esse momento, não só a sala de cinema, como a cultura em geral da cidade e do país.”
Os filmes exibidos durante a Sessão Lanterninha estão entre os 58 selecionados do Primeiro Plano que, no entendimento da organização, poderiam agradar as crianças convidadas, conforme Patrícia. “Eles ficaram muito impressionados de estar aqui hoje. Parece que muitos não conheciam o shopping, menos ainda uma sala de cinema. Eles mostraram muita animação, e hoje demos a sorte de termos um lanterninha nessa sessão. Ele conduziu muito bem as crianças.”
Crianças se divertem com festival
A visita ao Primeiro Plano foi a primeira vez que Alessandra Gabriely, 10 anos, foi ao cinema. À Tribuna, ela contou que gostou da experiência, mas fez uma ressalva quanto ao João Lanterninha. “O homem que usa batom está me dando medo”, disse.
Dos quatro curtas exibidos para as crianças na quarta-feira (23), “Como levar o meu avô pro céu”, de Thairo Meneguetti e Wanderson Lana, e “O fundo dos nossos corações”, de Letícia Leão, ficaram entre os favoritos do público. O primeiro traz a história de um avô que decide preparar sua neta, Juliana, para sua própria morte no início da pandemia da Covid-19. O último desejo do idoso é que ela encontre um saci para pedir a ele que o avô se transforme em estrela ou passarinho. Já o segundo filme traz os questionamentos de Joana, uma menina de 7 anos que quer descobrir como veio ao mundo de duas barrigas.
“Gostei da arte, é muito colorida, muito desenhada”, conta Myrella Santiago, 10 anos, aluna do quinto ano da Escola Augusto Gotardelo, sobre o filme “Como levar o meu avô pro céu”. O curta também foi eleito o favorito por Samuel Rezende, 11 anos, da mesma turma que Myrella. Ele ficou sabendo sobre a ida ao cinema na véspera da visita, mas a ansiedade ainda assim tomou conta. “Fiquei sabendo que tinha que entregar o bilhete para minha mãe assinar, e aí ela deixou”, contou animado.