A falta de um hospital veterinário gratuito em Juiz de Fora vem sendo apontada por especialistas como um dos grandes entraves para que os tutores consigam garantir a assistência necessária aos seus pets. Além disso, os altos custos de tratamentos, remédios e até internação também contribuem para que mais animais sejam colocados em situação de abandono, dificultando até futuras adoções. Com este cenário, ONGs e tutores precisam encontrar meios para viabilizar o bem-estar dos animais sem depender, exclusivamente, dos órgãos públicos.
Cuidar de um pet envolve muitos gastos – desde aqueles com comida e higiene, passando por vacinas, castração, remédios, tratamentos e até internações, quando necessário. É por isso que Miriam Nader, resgatadora independente e ativista há mais de 30 anos, aponta que a dificuldade é grande para arcar com todos esses custos. Mesmo após resgatar os animais, comenta, ainda há muito trabalho a ser feito. “Encaminhamos os animais para clínicas parceiras, que nos ajudam muito cobrando um preço melhor. Também temos que arcar com os custos das castrações e vacinas.” Em alguns casos, diz, foi preciso fazer vaquinhas para custear todas as despesas. Na sua opinião, a falta desse serviço público faz com que muitos fiquem reticentes em relação à possibilidade de adoção.
Para Miriam, é notável que há muitos animais de famílias carentes que não têm acesso a atendimento veterinário e que precisavam dessa assistência para realmente ter bem-estar. No caso da estudante Olívia Pires, sua gata se acidentou e quebrou o fêmur, precisando ser operada. Ela sentiu, de perto, a falta de um serviço público de referência para pets na cidade. Na ocasião, mesmo em um hospital veterinário que trabalhava com custos reduzidos, foi preciso pagar cerca de R$ 2 mil. “Na época, estávamos com uma condição financeira difícil. Como precisava do dinheiro rápido para o tratamento, tive que fazer vaquinha e pegar emprestado”, conta.
Outra dificuldade apontada por Maria Elisa de Souza, diretora da ONG Sociedade Juizforense de Proteção aos Animais (SJPA), é que, mesmo nos locais em que há atendimento com custos reduzidos, não há assistência de urgência. Nos casos de emergência, portanto, os animais ficam desamparados. “Na minha experiência, há 35 anos trabalhando com isso na cidade, é também um desafio transportar animais de rua e levar até esses locais, muitas vezes distantes.” A estudante Marina Bomtempo também resolveu se mobilizar nesse sentido e, no começo desse ano, resgatou cachorros que estavam perto de sua rua. Para que ela conseguisse arcar com os custos de um dos animais que estava machucado, precisou fazer uma vaquinha de R$ 400 para as despesas. “Infelizmente, os abandonos estão enormes e não temos suporte nem para resgatar. Quando é uma questão de urgência, então, a gente se compromete a pagar os gastos de clínica e depois temos que fazer vaquinhas pra conseguir cumprir o acordo”, conta.
Clínica veterinária da UFJF supre parte da demanda
Para suprir parte dessa demanda, a Clínica Veterinária da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) faz atendimentos prioritariamente para cães e gatos de tutores em condição de vulnerabilidade socioeconômica, preferencialmente aqueles que estão inscritos no Cadastro Único (CAD Único) para Programas Sociais do Governo federal ou mediante comprovação de renda de até um salário mínimo. Como explica o professor Leonardo Lanna, um dos responsáveis pela clínica, os atendimentos são realizados em aulas práticas e projetos de extensão do Curso de Medicina Veterinária, com acompanhamento dos alunos e sob supervisão de professores e técnicos da UFJF.
Os tutores que se enquadram nos critérios mencionados precisam realizar cadastramento prévio no Departamento de Saúde Animal da Prefeitura de Juiz de Fora. O cadastramento é realizado por meio do telefone 3234-3783, sendo exigidos os seguintes documentos: cópia de documento de identidade (RG) e CPF; comprovante de endereço; comprovação de inscrição no CAD Único ou comprovação de renda de até um mínimo. Ele explica que, por enquanto, os atendimentos clínicos são realizados somente mediante agendamento prévio. Os agendamentos são realizados mês a mês, com início das marcações no primeiro dia útil e enquanto existirem vagas disponíveis. Lanna também esclarece que são oferecidas “consultas de clínica geral, exames laboratoriais e de imagem, cirurgias e outros procedimentos ambulatoriais”.
No local, no entanto, não há pronto atendimento 24h ou internação para animais. Na visão do professor, também é notável que a demanda é muito superior às vagas atualmente disponibilizadas. “A principal limitação é de pessoal, uma vez que ainda temos um corpo técnico reduzido. Temos discutido possibilidades para ampliação, inclusive em parceria com a Prefeitura de Juiz de Fora”, conta.
Questão de saúde pública
Para mudar esse cenário, Míriam entende que é preciso que os Governos municipal, estadual e federal entendam que a saúde é única e direcionem investimentos ao bem-estar animal. “Animais doentes nas ruas, ou até mesmo dentro das casas, estão causando acidentes, sofrendo, contraindo e transmitindo doenças, inclusive zoonoses. Uma cidade, para ser justa, tem de cuidar de todos os seres vivos que nela vivem”, diz.
Maria Elisa acrescenta que não basta apenas ter um hospital, mas é preciso haver recursos necessários para a manutenção do local. “Estamos há meses sem o processo de castramóvel”, cobra. A Tribuna questionou a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) sobre o assunto, que, por meio de nota, esclareceu que está buscando a ampliação de parceria com a UFJF para atender a demanda por atendimentos para os pets na cidade.