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Tempo curto e falta de espaço desafiam pedestres

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Atravessar a rua sem faixa de pedestres é extremamente arriscado. Quando ela existe, teoricamente fica mais seguro, mas nem sempre a preferência é respeitada. Contudo, quando, além da faixa, existe a sinalização semafórica, podemos considerar que a segurança é total. Será? Após analisar as duas primeiras situações em reportagens realizadas desde o início do mês, na terceira matéria da série “Se liga na faixa”, a Tribuna foi em busca de resposta para esta última. Com base nas reclamações e dúvidas dos leitores, travessias semaforizadas foram analisadas em pontos diferentes da região central. O resultado é que, mesmo com o sinal, os pedestres encontram situações de risco. Em um dos casos, o da Rua Floriano Peixoto, esquina com Avenida Getúlio Vargas, o tempo de 5 segundos permite que a pessoa atinja apenas metade da faixa de pedestres. Já em outros, como em um dos maiores cruzamentos da cidade, das avenidas Itamar Franco e Rio Branco, os pedestres precisam se aglomerar em um canteiro central que não comporta o fluxo, enquanto aguardam a liberação da pista (ver quadro).

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O padrão, conforme o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), é de que os pedestres caminham a uma velocidade de 1,2 m/s. Segundo o supervisor do Controle de Tráfego em Área (CTA) da Settra, setor responsável por monitorar os semáforos na cidade, Clécius Matos, em Juiz de Fora, é utilizada a média de 1 m/s ou 0,8 m/s, dependendo do trecho. Isto porque a população da cidade é formada por mais de 13% de idosos. Ele explica que, para determinar o tempo semafórico para pedestres em um local, são levados em consideração vários fatores como largura e velocidade operacional da via, tipo e quantidade de veículos que ali transitam e fluxo de pedestres. “Trabalhamos por zonas e há um sincronismo entre os semáforos, já que eles dependem uns dos outros. Além disso, o tempo dos sinais de pedestres e veículos é alterado várias vezes ao longo do dia”, explica. Estas alterações são feitas de forma automática e pré-programada.

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Cultura do automóvel

Mestre em engenharia de transportes, José Luiz Britto Bastos critica a chamada “cultura do automóvel” na cidade e acredita ser necessário recalcular o tempo em determinadas travessias. “É preciso acabar com o privilégio dos carros em relação aos pedestres e cuidar do trânsito de forma que ele flua dando preferência a quem está andando, afinal as cidades foram feitas para o homem.”

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Clécius explica que são realizadas pesquisas constantemente sobre as condições de volume de ruas e avenidas. Elas são feitas conforme as necessidades e não há uma frequência definida. “As características das vias vão mudando de acordo com as modificações no comportamento do motorista”, completa.

Segundos a mais

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Britto Bastos explica que os quatro segundos de sinal vermelho intermitente para o pedestre são uma margem de segurança e não devem ser contados como tempo de travessia. “O vermelho é um tempo adicional para que o pedestre consiga terminar sua travessia em segurança.” Ele cita pesquisas científicas sobre o comportamento em travessias semaforizadas cujas conclusões sugerem que o pedestre está mais exposto ao perigo quando não consegue realizar a travessia segura em um tempo razoável. Caso o tempo de espera aguardando brechas no fluxo de veículos ou a indicação luminosa verde ultrapassar determinado limite, que varia de acordo com cada pessoa, aumenta-se a propensão a assumir riscos. “Se o tempo de espera for muito prolongado, a pessoa cansa e se arrisca.” Conforme a Settra, o tempo máximo de espera em sinais vermelhos hoje é de 1 minuto e 30 segundos.

Vale ressaltar que, em várias vias, principalmente aquelas de grande fluxo como as avenidas Rio Branco e Itamar Franco, as travessias são divididas em dois ou três tempos. Ou seja, o pedestre não consegue cruzar a rua de um ponto ao outro de uma vez só. Entre os casos analisados pela Tribuna, o especialista chama a atenção para o da Itamar Franco. “Ali o pedestre não consegue atravessar a avenida toda por questão de três a quatro segundos. Seria interessante ter esses segundos a mais por questões até de segurança. A Settra poderia repensar o tempo do semáforo e acrescentá-los. Como os pedestres têm que esperar dois ciclos de semáforo para concluir a travessia, eles acabam atravessando no sinal vermelho.”

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O subsecretário operacional de Transporte e Trânsito, Eduardo Facio, explica que são os próprios semáforos que delimitam a quantidade de tempos em uma travessia, como é o caso daqueles implantados nas faixas de ônibus da Rio Branco. “São eles que determinam o início e o fim daquela travessia.” Ele lembra que os pedestres devem respeitar essas orientações e é necessária mais conscientização e respeito.”

Conflitos na circulação

Veja pontos onde a travessia é complicada

Rua Floriano Peixoto, próximo à esquina com Avenida Getúlio Vargas, Centro

O tempo de sinal verde para os pedestres é de 5 segundos com mais 4 segundos de vermelho em alerta para uma travessia de 14 metros. A Tribuna fez o teste, e o tempo foi insuficiente para realizar o trajeto, já que a equipe conseguiu apenas atingir metade da faixa enquanto o sinal ainda estava verde. O resultado é corre-corre constante de pedestres no ponto, que tem grande fluxo durante todo o dia

O que diz a Settra: existe um pequeno espaço considerado pelos técnicos como “zona morta”, o que diminuiria o tamanho da travessia. São alguns metros da faixa de pedestres onde teoricamente os carros não transitam. Isso significa que este ponto seria uma espécie de extensão da calçada. Mesmo assim, a pasta informou que irá avaliar o local em busca de medidas que ofereçam mais segurança aos pedestres

 

Avenida Itamar Franco, esquina com a Avenida Rio Branco, Centro

Foram identificadas dificuldades para os pedestres nas duas travessias do trecho, e é recorrente ver pessoas se arriscando ao atravessar com o sinal vermelho. Em ambos os casos, não é possível realizar o trajeto de um lado ao outro de uma só vez, sendo necessário aguardar no canteiro central. O problema é que, como há intenso fluxo de pessoas, o acúmulo de pedestres é grande, e alguns ficam aguardando na pista de carros. No
caso da travessia próxima à Pastelaria Mexicana, o tempo menor é para a pista sentido Poço Rico (11 segundos para 7 metros). Já no outro ponto de travessia (entre a Rio Branco e a Santo Antônio), a contagem mais curta é no sentido Cascatinha (12 segundos para 7 metros). O tamanho total da via, incluindo o canteiro, é de 16 metros

O que diz a Settra: pelas condições atuais, é inviável aumentar o tempo de semáforo para pedestres em ambas as travessias. Nos locais, é necessário que o pedestre atravesse em dois estágios. Será avaliada, entretanto, a possibilidade de oferecer uma forma melhor de acomodar os pedestres no canteiro central, que possui dois metros de largura

 

Avenida Rio Branco, altura da Rua Oswaldo Aranha, Centro

A travessia das três pistas é dividida em dois momentos.
Contudo, para realizar o trajeto entre a pista de ônibus e pista de veículos sentido Manoel Honório, o tempo destinado é insuficiente. São 12 segundos e outros 4 de vermelho intermitente para 15 metros, e nenhum pedestre conseguiu realizar o trajeto completo no tempo destinado enquanto a Tribuna esteve no local. Além disso, para a travessia da pista de carros sentido Bom Pastor, há um gradil que organiza o fluxo de pedestres, que também foi alvo de reclamações quanto à falta de espaço

O que diz a Settra: o tempo está dentro do estipulado pela pasta, mas o local será avaliado. Conforme a Settra, o gradil é necessário para oferecer segurança

 

Avenida Itamar Franco, em frente ao Hospital Maternidade Therezinha de Jesus, São Mateus, Zona Sul

É necessário realizar a travessia em dois tempos, porque os 13 segundos destinados não são suficientes para atravessar os 15 metros de largura da avenida. O cronômetro é mais rápido na pista sentido Centro. As pessoas ficam comprimidas no canteiro central, que é estreito. O problema se agrava pelo fato de no local haver um hospital e uma unidade de saúde

O que diz a Settra: o ponto foi reavaliado há pouco tempo. A recomendação é de que se realize a travessia em dois tempos

 

Avenida Olegário Maciel, altura da Rua Espírito Santo, Paineiras, região central

Segundo moradores, o tempo de sinal é insuficiente para que idosos e crianças realizem a travessia. São 9 segundos de verde além dos quatro de vermelho para cerca de 9 metros de largura. A Tribuna flagrou pessoas que não conseguiram realizar o trajeto em tempo

O que diz a Settra: o tempo está dentro do padrão estabelecido pela pasta

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