Há quem diga que quem canta seus males espanta. E a música, com sua combinação de melodia, ritmo e harmonia, é capaz de provocar, em quem escuta e àquele que toca, sentimentos e sensações tão vastos quanto seus acordes, já que está diretamente relacionada a memórias, associações, emoções e conexões, promovendo inúmeros benefícios para o corpo e a mente, em especial, a saúde mental. A música pode trazer a lágrima ao rosto quanto o peito aperta, alegrar um dia triste, festejar os momentos felizes e até mesmo relaxar, mas o aprendizado da primeira arte vai além.
O multi-instrumentista e graduando em Música/Violão pela UFJF Arthur Miranda conta que começou a se envolver com a música desde pequeno. Uma herança de família, composta por muitos músicos. Ele conta que a música sempre esteve presente em casa, legado transmitido a ele, que, aos 13 anos, já tocava em bares com o irmão Thiago Miranda.
Com o passar dos anos, comenta, a música deixou de ser hobbie e tornou-se profissão. Atualmente, Arthur toca violão, cavaquinho, guitarra, cajon e trabalha como guitarrista no Grupo Alquimia. “Eu evoluí muito por causa da música e do instrumento, sem dúvidas.” Na sua opinião, a arte favorece o crescimento pessoal, promovendo ganhos de maturidade e estímulo a disciplina, além do exercício mental constante que o aprendizado e a prática exigem.
A importância do contato musical desde cedo
As crianças são muito beneficiadas pelo contato musical, comenta a psicóloga infantil Maria Adélia Bicalho, não apenas, mas em especial as com diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). “Isso porque, na aula de música, ela terá que ter um pouco de calma, treinar a paciência e a repetição para entender bem o instrumento.” Maria Adélia enfatiza que a arte promove prazer e tem a capacidade de mudar o comportamento, sempre para melhor. “Eu ouso dizer, sempre para melhor. É um benefício global e geral para todas as crianças.”
O professor do Conservatório Estadual Haidée França Americano, Juninho de Sá, destaca a importância da aprendizagem como forma de desenvolvimento cognitivo da criança. “Você lida com a expertise da criança junto com o desenvolvimento cognitivo do cérebro.” Entre os ganhos destacados por ele estão a sociabilidade, o engajamento, a percepção e a sensibilidade dos pequenos. “A música é a arte dos sons. Ajuda a aprender a perceber o mundo. Torna a pessoa mais sensível e é um conforto para a alma.”
De acordo com a musicoterapeuta Shirlene Vianna, o ato de escutar música exige o processamento por várias áreas do cérebro e auxilia também na atenção, na memória e na motivação. Quem está inserido no campo musical desde a infância, avalia, leva o aprendizado – e os seus ganhos – para o resto da vida. Além disso, a compreensão da cultura musical tem sido considerada essencial para o terapeuta estabelecer uma melhor relação com o paciente, objeto da musicoterapia.
‘A música tem vida própria’
Shirlene, que também é musicoterapeuta e neuropsicóloga especialista em saúde mental, elaborou um estudo com outros profissionais da área para analisar a influência da música no tratamento de transtornos mentais, com foco em pacientes com demência. A aposentada Maria Pereira Dias, 90 anos, com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL), participou da iniciativa, junto com sua filha Aparecida de Paula. Aparecida explica que o tratamento com musicoterapia consistia no uso de instrumentos de percussão, jogos da memória, audiolivros e também letras de música. “A depressão que se instalava em minha mãe foi desaparecendo e, a cada dia, aquela pessoa cabisbaixa deixava de existir.”
A musicoterapia é uma intervenção clínica que, conforme Shirlene, vem demonstrando eficácia em várias condições clínicas e em diferentes tipos de pacientes. Ela utiliza a música e os elementos musicais para fins terapêuticos, além de oferecer um conjunto de atividades específicas dirigidas às necessidades de reabilitação de cada pessoa. No caso de Maria, por exemplo, a neuropsicóloga conta que o tratamento foi eficaz e contribuiu bastante para a melhoria do bem-estar dela. “Me senti bem mais feliz (com o tratamento), com vida e em paz com meus pensamentos e sentimentos, em relação às pessoas e a mim mesma. A música tem vida própria”, afirma Aparecida.