“No meu dia a dia tem uns contratempos. Às vezes, as pessoas não ajudam, mas pelo fato de não terem conhecimento e não saberem lidar com a situação. Por isso é muito importante elas se conscientizarem sobre como conduzir um deficiente e como nos ajudar”, relata Johny Roque de Aguiar, 33 anos, deficiente visual há oito anos. O ex-gesseiro foi um dos participantes da ação “Experimente Novos Olhares”, promovida pela Organização Não Governamental (ONG) Engenheiros Sem Fronteiras, na Associação dos Cegos, na tarde da última sexta-feira (23). A atividade reuniu voluntários e deficientes visuais beneficiados pela Associação dos Cegos em Juiz de Fora.
Conscientizar foi exatamente o que a Engenheiros Sem Fronteiras procurou ao propor a atividade social. Segundo uma das gerentes da ONG, a estudante de arquitetura Kamilla Dias, uma das questões que o grupo encontrou ao visitar a associação foi a maneira como a população encara a instituição. “Há um desconhecimento dos projetos que são desenvolvidos dentro da associação, que beneficiam muito as pessoas com deficiência visual, pois garantem autonomia, atendimento e apoio para situações da vida diária. Então, a ação é para dar visibilidade ao projeto desenvolvido aqui dentro e impactar e conscientizar quem passa pela avenida “, explicou.
Pela extensão que vai da associação até à Igreja da Glória, na Avenida dos Andradas, os estudantes, com os olhos vedados, foram guiados pela calçada pelos deficientes visuais. No caminho, os participantes foram orientados sobre como a condução deve acontecer. A guia, ou bengala, é essencial para quem perdeu total ou parcialmente a visão. O instrumento auxilia para que estas pessoas consigam caminhar diariamente sem grandes dificuldades. Portanto, durante a ação, a ONG também distribuiu cartilhas sobre mobilidade, com informações sobre cada tipo de guia e sinais que elas indicam: as guias verdes indicam um deficiente com baixa visão; as cinzas indicam perda total da visão; e a vermelha e branca, que a pessoa é deficiente auditiva e visual. “Ao mesmo tempo que temos a experiência, nos deixando ser guiados, também queremos informar e instruir a população”, pontuou Kamilla.
Um dos alunos guiados foi o estudante de engenharia elétrica e membro da ONG, Pablo James de Paula. Para ele, a experiência mostrou parte de como é se colocar no lugar do próximo. “No trajeto, eu pude perceber as técnicas e referências que os deficientes visuais possuem para que possam se locomover pela cidade. Ao vedar meus olhos e ser conduzido, precisei confiar totalmente na condução, por isso é importante ajudar. Tive algumas inseguranças, já que existem obstáculos. Alguns são detectáveis pela guia, mas outros podem causar queda ou algum problema maior”, relatou.
Engenheiros Sem Fronteiras
O núcleo juiz-forano da ONG, formado por alunos dos cursos de Engenharia e Arquitetura da cidade, surgiu em 2015 e hoje possui 37 membros. O grupo desenvolve trabalhos, sem fins lucrativos, utilizando o conhecimento técnico adquirido na graduação. Além disso, ações de responsabilidade social são priorizadas pela equipe.
Relato da repórter
Fui conduzida pelo Johny por mais ou menos 20 metros na calçada da Avenida dos Andradas. No início, fiquei tensa e insegura, imaginando que algo pudesse aparecer repentinamente à minha frente. No entanto, ele foi me tranquilizando e me explicando as técnicas utilizadas no dia a dia. Com isso, ganhei maior confiança.